O desafio da conservação do Mico rondoni, o primata endêmico de Rondônia


O sagui-de-Rondônia (Mico rondoni) também conhecido como mico-de-Rondônia ou sagui-branco é uma espécie de primata que desperta grande interesse na comunidade científica. Descoberto em 2008 e descrito oficialmente em 2010 na revista científica International Journal of Primatology, este animal é exclusivo do estado de Rondônia, tornando-o mais um caso de endemismo na fauna brasileira. Sua descoberta em 2008 ocorreu através do resgate de fauna para a Usina Hidrelétrica Samuel, no Rio Jamari.

Este primata possui algumas características físicas peculiares que o diferenciam dos demais, mede em média 22 cm de cabeça a corpo, com uma cauda que chega a 33 cm de comprimento, e pesa aproximadamente 330 g. Sua pelagem é predominantemente cinza-claro prateada, com pelos pretos na testa e nas laterais do rosto. As partes inferiores das costas e as porções proximais das pernas são marrom-acinzentadas, escurecendo quase até o preto na base da cauda. Suas mãos e pés também apresentam coloração escura.

Mico rondoni está vulnerável e com a população em declínio

Porém, apesar de sua singularidade, o Mico rondoni está em risco. Classificado como "Vulnerável" no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção e pela Lista Vermelha da IUCN, sua densidade e abundância são extremamente baixas. As estimativas apontam que a população desta espécie sofreu um declínio de pelo menos 30% em três gerações, e esse declínio provavelmente continuará ocorrendo.

Região onde vive o Mico rondoni é uma das mais desmatadas do bioma amazônico

A distribuição deste primata é delimitada a oeste pelo rio Mamoré, ao norte pelo rio Madeira, a leste pelo rio Ji-Paraná, e ao sul pela Serra dos Pacaás Novos. No entanto, esta área de distribuição corre o risco de redução futura devido à grande pressão de desmatamento, fragmentação e urbanização em toda a região norte do estado de Rondônia. Este estado responde hoje por uma das porções mais desmatadas do bioma amazônico.

Maior parte da população do sagui-de-Rondônia está fora de áreas protegidas

As principais ameaças à espécie estão relacionadas à perda e fragmentação do habitat, em consequência da agricultura e pecuária não sustentável, expansão urbana, assentamentos rurais, aumento da matriz energética e rodoviária. Com cerca de 71% de sua área de distribuição situada fora de áreas protegidas, e o restante sob intensa pressão de fragmentação pelo desmatamento, a necessidade de medidas de conservação se torna cada vez mais premente.

Embora áreas de proteção ambiental abriguem exemplares da espécie, estas também sofrem invasões dos seres humanos

Diversas áreas de proteção ambiental são habitadas pela espécie, incluindo a ESEC Estadual Samuel, PARNA Pacaás Novos, FLONA Jamari, Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, RESEX Rio Ouro Preto, PE Guajará-Mirim. Contudo, a espécie ainda enfrenta desafios significativos, como invasões de áreas protegidas, agricultura e pecuária não sustentável, e crescimento desordenado das áreas urbanas.

Até 2019 o  sagui-de-Rondônia perdeu 49% de seu habitat

A situação do Mico rondoni é um exemplo alarmante dos impactos do desmatamento na Amazônia. Esta região, que abriga uma das porções mais desmatadas do bioma, está concentrada especialmente no sul, onde o desmatamento tem um impacto direto sobre animais como o sagui-de-Rondônia. Este primata, encontrado apenas no estado que lhe dá o nome, enfrenta um cenário preocupante. Com uma área de ocorrência original de 72 mil km², o mamífero já havia perdido 40% de seu habitat até 2014. Nos cinco anos seguintes, até 2019, quando houve intensificação do desmatamento, a perda de habitat aumentou para 49%.

População do Mico rondoni não é conhecida, embora seja inegável que a população está em declínio

Além disso, o tamanho total da população remanescente do Mico rondoni não é conhecido, e não se sabe quantos indivíduos maduros desta espécie existem na natureza. Contudo, é inegável que a tendência populacional é de declínio. O Mico rondoni integra o Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Primatas Amazônicos com vigência no primeiro ciclo de 2017 a 2023  e que tem como objetivo geral melhorar o estado de conservação dos primatas amazônicos ameaçados nesses cinco anos..

No entanto, não está tudo perdido para o Mico rondoni. Sua descoberta relativamente recente e a conscientização crescente sobre a necessidade de proteger a biodiversidade da Amazônia podem representar uma oportunidade para garantir a sobrevivência da espécie. Para isso, é essencial que sejam desenvolvidos mais estudos sobre sua ecologia, comportamento e necessidades de conservação. Além disso é fundamental que se encontre uma forma de equilibrar desenvolvimento e conservação como uma das medidas mais necessárias para garantir a biodiversidade da Amazônia.

Fontes: Anda, IcmBio, G1.globo, UNIR, PAN Primatas Amazônicos, BBC Brasil 

Fotos: Mico-de-Rondônia_by Ramiro Melinski e segunda foto: Mico-de-Rondônia_by Pedro Bonavigo