O enigmático tietê-de-coroa: extinto ou não


O tietê-de-coroa (Calyptura cristata) é uma ave enigmática da Mata Atlântica, considerada uma das mais raras do mundo. A maioria das informações que há sobre essa espécie provém de espécimes de museus coletados no século XIX. A ave ressurgiu brevemente em 1996 na Serra dos Órgãos, Rio de Janeiro, após quase um século sem avistamentos. Desde então não há registros confiáveis de sua existência, muitos acreditando na sua extinção.

Características

O tietê-de-coroa é uma ave muito pequena, medindo aproximadamente 7,6 centímetros. Sua plumagem é verde oliva na parte dorsal e amarela na ventral, com uma crista vermelho alaranjada margeada de preto na cabeça. As asas possuem duas faixas brancas, e a cauda é curta e oculta sob as asas. Sua vocalização é descrita como assobios curtos e roucos. Devido ao seu comportamento furtivo e discreto, esta ave passa despercebida aos observadores.

Alimentação e hábitos

Pouco se sabe sobre os hábitos alimentares do tietê-de-coroa. Acredita-se que se alimente de pequenos frutos, sementes e insetos, explorando bromélias e orquídeas em busca de alimento. Registros antigos mostram que a ave escalava videiras e aglomerados de bromélias em busca de insetos e bagas. O tietê-de-coroa deve movimentar-se discretamente aos casais pelo estrato médio da floresta, evitando a exposição na copa das árvores.

Distribuição e habitat

Endêmico da Mata Atlântica no sudeste do Brasil, o tietê-de-coroa apresenta uma distribuição restrita à região serrana do Rio de Janeiro e, possivelmente, algumas áreas de São Paulo, como arredores de Ubatuba. Seu habitat típico inclui florestas montanas entre 400 e 900 metros de altitude, tolerando habitats secundários em menor grau. A fragmentação do habitat e a perda de matas secundárias representam grandes ameaças para essa espécie, que depende de epífitas e bromélias para alimentação e manutenção do microclima.

Estado de conservação

Classificado como "criticamente ameaçado" pela IUCN, o tietê-de-coroa tem uma população estimada em apenas 50 indivíduos. A fragmentação de seu habitat, resultado da mineração, agricultura e empreendimentos imobiliários, dificulta ainda mais sua sobrevivência. A ave está na lista de espécies criticamente ameaçadas de extinção do IBAMA desde 1994. Após passar mais de 100 anos sem ter sido avistada esse pássaro foi declarado extinto, mas para surpresa dos cientistas, em 1996 foi confirmado um avistamento na Serra dos Órgãos, em Teresópolis/RJ, quando dois indivíduos foram avistados. Desde então não houve nenhum outro avistamento que confirmasse sua existência.

Ameaças

A principal ameaça ao tietê-de-coroa é a destruição e fragmentação de seu habitat. A mineração e a agricultura histórica, juntamente com o desenvolvimento urbano, reduziram significativamente as áreas de floresta remanescente. A retirada de bromélias e orquídeas também afeta negativamente a disponibilidade de alimento e altera o microclima necessário para a sobrevivência da ave. Se for de fato um migrante altitudinal, a falta de matas contínuas abaixo de 1000 metros é particularmente preocupante.

Conservação e pesquisa

Esforços de conservação, como a criação de áreas protegidas, são essenciais para resguardar os últimos refúgios do tietê-de-coroa. Expedições conduzidas por pesquisadores, como a do Instituto Butantan em 2017, visam aumentar as chances de encontrar e estudar essa ave rara. A continuidade de colaboração com organizações internacionais, como a American Bird Conservancy, é crucial para chamar a atenção para a situação crítica dessa e de outras espécies ameaçadas na Mata Atlântica.

O tietê-de-coroa continua a ser um mistério na ornitologia mundial, com avistamentos esporádicos e não confirmados nos últimos anos. A preservação de seu habitat e a continuidade das pesquisas são fundamentais para evitar a extinção dessa espécie única. A luta pela conservação do Calyptura cristata ressalta a importância de proteger a biodiversidade da Mata Atlântica e garantir a sobrevivência de suas espécies ameaçadas.

Fontes: G1.Globo, Revista Uru, Wiki Aves, O Eco, Diário do Rio, Conexão Planeta, Fapesp, Espaço Ecológico 

Foto-pintura: Tietê-de-coroa_Foto-pintura em aquarela_by Luiz Carlos Rocha