O resiliente papagaio de Porto Rico sobrevive e aumenta sua população


 A frequência de eventos extremos devido ao aumento do aquecimento global tem afetado muitas espécies reduzindo suas populações na natureza. O que tem ocorrido com o papagaio-de-Porto-Rico (Amazona vittata) é um exemplo da importância que se deve dar a populações pequenas ou restritas que podem ser extintas devido às mudanças climáticas e aos eventos extremos associadas a elas.

O iguaca é endêmico de Porto Rico e esteve à beira da extinção

O papagaio-de-Porto-Rico, também conhecido localmente como iguaca, é uma ave endêmica do arquipélago de Porto Rico, medindo 28-30 cm, é predominantemente verde, com a testa vermelha e anéis brancos ao redor dos olhos. As pontas das asas são azuis e geralmente são visíveis apenas quando o pássaro está em voo.

O papagaio já foi abundante na ilha, mas vários fatores causaram o seu declínio. A perda de habitat é a principal causa. A maioria das florestas porto-riquenhas foram eliminadas para a agricultura e o desenvolvimento urbano no final de 1800 e início de 1900. Nessa época, quase 90% da Ilha estava desmatada. Árvores grandes e maduras, que serviam como ninhos foram removidas seletivamente para a produção de carvão devastando as florestas que antigamente eram utilizadas pelos papagaios.

Entre as várias ameaças ao papagaio-porto-riquenho estão os furacões

Além disso, os impactos diretos sobre a ave também contribuíram ao declínio. Filhotes foram roubados dos ninhos para se transformarem em animais de estimação e adultos foram caçados para evitar danos às colheitas. Uma vez que a população estava baixa, o papagaio tornou-se particularmente vulnerável a alguns eventos como três grandes furacões (1928,1932,1989), competição com abelhas para locais de nidificação e predação por ratos, cobras e aves de rapina. Todos esses fatores contribuíram para que o papagaio-de-Porto-Rico quase fosse quase extinto.

Esforços de conservação começaram em tempo de salvar o papagaio-porto-riquenho

Em 1967 o papagaio-porto-riquenho foi declarado como espécie ameaçada de extinção pelo Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos (USFWS) quando seu número estava reduzido a 70 indivíduos. Os esforços de conservação do psitacídeo começaram em 1968, quando intensos esforços cooperativos para recuperar a espécie da quase extinção foram iniciados pelo Serviço Florestal dos Estados Unidos, Departamento de Recursos Naturais e Ambientais de Porto Rico , Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos e pelo World Wildlife Fund(WWF).

O objetivo do programa de recuperação foi aumentar a população de papagaios a um ponto em que ela não esteja mais em perigo de extinção. Isso deveria ser feito por meio de: leis e políticas, proteção dos habitats atuais e potenciais, melhorar os locais de nidificação, controlar inimigos dos papagaios e estabelecimento de população em cativeiro para reintroduzir mais aves. Além disso deveriam ser realizadas mais pesquisas para fornecer melhores maneiras de aumentar o número de papagaios.  Os locais de ninhos reais e potenciais deveriam ser monitorados anualmente pelos biólogos do programa. As contagens populacionais de papagaios e os padrões de movimento deveriam ser realizados regularmente para ajudar a determinar o status da população e as preferências de habitat.

 

Em meio aos esforços de conservação a população selvagem foi reduzida à metade devido ao  furacão Hugo

Em 1971 a população total estava em seu ponto mais baixo: apenas 16 papagaios eram conhecidos na natureza e 3 em cativeiro. Em 1972 o USFWS iniciou a criação desses papagaios em cativeiro obtendo bons resultados. Além do programa de reprodução em cativeiro, teve início a instalação de caixas de nidificação construídas com canos de PVC, no ambiente natural. Em 1989, havia aproximadamente 99 aves: cerca de 47 na natureza e 52 em cativeiro mantido em um aviário dentro do Floresta Nacional El Yunque. Depois do furacão Hugo que assolou Porto Rico em 1989 a população selvagem foi reduzida em cerca de metade, para um total estimado de 25 aves.

Em 2006 teve início um processo de reintrodução no Parque Estadual Rio Abajo, com a soltura de 22 aves formando a segunda população selvagem. Em dezembro de 2008 mais 19 foram soltas no mesmo local. Em 2013 as estimativas indicavam que eram entre 80 a 100 aves vivendo livres em duas áreas distintas.

Furacões Irma e Maria foram devastadores sobre a população dos papagaios-de-Porto-Rico

Em 2017 os furacões Irma e Maria devastaram Porto rico e danificaram instalações de reprodução do papagaio. As aves cativas saíram ilesas, mas todos os papagaios selvagens da Floresta Nacional El Yunque desapareceram completamente, a outra população em Rio Abajo, conseguiu sobreviver em sua maioria. Depois dessa tragédia, os esforços de conservação continuaram e foram reintroduzidos com sucesso de volta à natureza numerosos exemplares e estabelecidas novas populações nas reservas de El Yunque National Forest, Río Abajo State Forest e Maricao Commonwealth Forest. O iguaca está avaliado pela Lista Vermelha da IUCN como criticamente ameaçada de extinção (CR).

No ano passado (2022), o Serviço de Pesca e Vida Silvestre dos Estados Unidos, liberou papagaios porto-riquenhos na Floresta Estatal de Maricao. Durante um período de sete semanas, foram liberadas 32 aves em três grupos. Também foram liberados 31 papagaios no Bosque Nacional El Yunque. Os lugares de libertação diferem, mas compartilham um propósito comum: contribuir para que a ave em perigo de extinção se recupere após a devastação do furacão Maria.


População do papagaio permanentemente monitorada está se recuperando

Atualmente, a Floresta Nacional El Yunque é o lar de 56 aves selvagens que foram reintroduzidos. Da população original alguns deles morreram durante a tempestade, enquanto outros sobreviveram, mas morreram de fome ou aumento da predação por falcões devido às consequências do furacão Maria. A tempestade fez com que os planos do USFWS para melhorar as populações de papagaios na ilha fossem suspensos. O USFWS reiniciou seu programa de lançamento de papagaios em dezembro de 2020. Desde então, 81 aves foram soltas. Enquanto o Serviço de Pesca e Vida Silvestre dos Estados Unidos cuida da população selvagem na Floresta Nacional El Yunque e em Maricao, o Departamento de Recursos Naturais e Ambientais de Porto Rico é responsável pela população selvagem na Floresta Estadual do Rio Abajo.

Somando as três subpopulações de iguaca já há centenas voando livremente em Porto Rico

Com as últimas liberações, os especialistas estimam que Porto Rico alberga centenas de papagaios silvestres entre Maricao, El Yunque e o Bosque Estatal Río Abajo. Neste último, na Floresta Estadual do Rio Abajo, 60 filhotes nasceram na natureza durante a estação reprodutiva, que foi até junho de 2022. A expectativa é que com esses filhotes no próximo ano poderão estar voando livremente mais de 200 indivíduos nesta floresta. Com esses dados estima-se que mais de 250 papagaios-porto-riquenhos estão voando livremente hoje na ilha.

As liberações mais recentes destacam uma associação de 30 anos entre o Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos (USFWS), o Departamento de Recursos Naturais e Ambientais de Porto Rico, o Serviço Florestal dos Estados Unidos, o Fideicomiso de Conservación  e o World Parrot Trust. O USFWS e o Departamento de Recursos Naturais e Ambientais de Porto Rico operam dois aviários e 3 populações em estado silvestre. Atualmente, os aviários abrigam cerca de 469 papagaios em cativeiro.

Avanços são positivos com o aumento da população reprodutora selvagem

Os esforços dos conservacionistas tem conseguido resultados promissores. Biólogos afirmam que os papagaios selvagens estão se reproduzindo em El Yunque e no Rio Abajo. De uma situação em que não havia mais aves selvagens para uma população reprodutora, os avanços foram positivos. A introdução de aves com o devido cuidado na natureza para estabelecer novas populações está ajudando na recuperação do papagaio-porto-riquenho.

Fontes: DNRA, World Parrot Trust, FWS, Forest Service-USDA, Metro, One Earth, Washington Post, All About Birds, Atlas obscura, El Vocero, CS Monitor, Primera Hora, NFWF

Fotos: Papagaio-de-Porto-Rico_by Tom MacKenzie e papagaios-de-Porto-Rico_by Maresa Pryor