Destino incerto do cuxiú-preto, um dos primatas endêmicos da Amazônia brasileira mais ameaçados


 O cuxiú-preto (Chiropotes satanas), uma espécie de primata endêmico do Brasil, encontra-se atualmente em uma situação crítica de extinção devido à destruição do seu habitat. Originário do extremo leste da Amazônia, o cuxiú-preto está restrito a uma área relativamente pequena, estendendo-se do rio Tocantins, no leste do Pará, até as proximidades do rio Grajaú, no Maranhão.

Espécie é endêmica da Floresta Amazônica brasileira

Este primata, encontrado exclusivamente na Floresta Amazônica, possui hábitos diurnos e alimenta-se principalmente de folhas, frutos, castanhas e pequenos insetos. Os cuxiús passam a maior parte do tempo procurando frutas e sementes, que correspondem a até 72% de sua dieta, graças aos seus dentes adaptados. Eles também utilizam as mãos para coletar água e beber. O cuxiú-preto pode ser identificado pelo seu rabo longo e peludo, pelagem espessa, barba característica e tamanho, com até 60 cm de comprimento e peso máximo de 3 kg.

Degradação do habitat e caça ilegal são as principais ameaças ao cuxiú-preto

Nas últimas décadas, a urbanização causou a destruição e degradação do habitat do cuxiú-preto, o que levou a uma redução drástica da população. Com o aumento das estradas secundárias e a proximidade das pessoas às florestas, a fragmentação do habitat tem aumentado, assim como a pressão pelo desmatamento devido à agricultura. Além disso, a caça ilegal tem sido outra ameaça, com a carne do cuxiú sendo consumida e suas caudas usadas como espanadores de poeira.

Cuxiú-preto habitat a região mais afetada pelas queimadas na Amazônia: o arco do desmatamento

A espécie sofre com a pressão da caça no arco do desmatamento, no leste da Amazônia, e estima-se que a população original tenha sofrido uma redução de pelo menos 80% nas últimas três gerações (30 anos). O desmatamento e a fragmentação do habitat são as principais ameaças enfrentadas por essa espécie, que necessita de áreas de floresta primária com alta produtividade de frutos para sua sobrevivência.

Classificado como Ameaçado de Extinção pela Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN, o cuxiú-preto já é considerado extinto em grande parte de sua faixa original. As populações atuais estão diminuindo a taxas alarmantes, e o número de indivíduos maduros pode ser inferior a 2.500. A perda do habitat natural, impulsionada pelo desenvolvimento humano, é a maior ameaça enfrentada por esses primatas, que sofrem com grandes projetos de infraestrutura, como rodovias e barragens, além de exploração madeireira e agricultura.

Cuxiú-preto pode ser encontrado em várias áreas de proteção ambiental de dois estados

O cuxiú-preto pode estar presente em várias unidades de conservação do Pará e Maranhão, em sua maioria estaduais. No Pará pode ser encontrado nas Reservas Estaduais extrativistas de Marinha de: Maracanã, São João da Ponta, Chocoaré-Mato Grosso, Mãe Grande de Curuçá, Tracuateua, Caeté-Taperaçu, Araí-Peroba e na Reserva Extrativista de Gurupi-Piriá e nas Áreas de Proteção Ambiental Municipais de: Jabotitiua-Jatium em Viseu, e da Costa de Urumajó, em Augusto Corrêa. E no Maranhão pode ser visto nas Áreas de Proteção Ambiental Estaduais: do Maracanã, da Baixada Maranhense e das Reentrâncias Maranhenses.  A única Unidade de Conservação Federal existente na área de distribuição do cuxiú-preto e a Reserva Biológica Gurupi.

Única área protegida federal na região, a Reserva de Gurupi é essencial para sobrevivência da espécie

A Reserva Biológica de Gurupi, é uma das últimas esperanças para a preservação da espécie. No entanto, essa reserva enfrenta desafios significativos, como a exploração madeireira ilegal e a pressão do desmatamento. Fundada em 1988, a Reserva de Gurupi abriga cerca de um milhão de hectares de floresta relativamente não fragmentada e intocada, sendo crucial para a vida selvagem, incluindo o cuxiú-preto.

Apesar das proteções federais, a Reserva Biológica de Gurupi tem sido atormentada por atividades ilegais, resultando na perda de um terço de sua floresta para fazendeiros locais, empresas madeireiras e colonos ilegais desde sua fundação. Hoje, órgãos federais como o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB) e o ICMBio estão trabalhando para enfrentar esses problemas e proteger a reserva.

Além das medidas federais, a Reserva Gurupi também conta com o apoio do Programa de Áreas Protegidas da Região Amazônica (ARPA), uma colaboração entre agências governamentais e não governamentais que trabalham para expandir as proteções da floresta amazônica no Brasil. A proteção do habitat do cuxiú-preto na Reserva Biológica de Gurupi é essencial para garantir a sobrevivência da espécie.

Parcerias entre organizações da sociedade civil e governamentais trabalham para a conservação do cuxiú-preto

Organizações como o Pitheciine Action Group (PAG) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) trabalham em prol da conservação do cuxiú-preto. O PAG, em parceria com o Comitê Internacional para Conservação e Manejo de Primatas do ICMBio, está desenvolvendo um Plano de Ação de Conservação para a espécie. Uma das medidas mais urgentes no momento, devem ser as pesquisas sobre os efeitos da fragmentação em populações isoladas de cuxiú-preto, são necessárias para que os esforços futuros de conservação sejam efetivos.

A preservação da Reserva de Gurupi e das áreas circundantes é crucial não apenas para o cuxiú-preto, mas também para a biodiversidade única encontrada no Centro de Endemismo de Belém. O sucesso na proteção e na recuperação do habitat desses primatas passa por políticas eficazes de conservação e pela conscientização da população sobre a importância da preservação do ecossistema amazônico.

A proteção e preservação do habitat desses primatas são fundamentais para garantir sua sobrevivência. Com a implementação de medidas efetivas de conservação e o apoio de organizações governamentais e não-governamentais, a perspectiva para o futuro do cuxiú-preto pode ser mais promissora.

Fontes:Biólogo, Animal diversity, ICMBio, Portal Amazônia, Portal São Francisco, Bioexplorer, Primates Park

Foto: Cuxiú preto_by Ana Cotta e Imagem do mapa com a distribuição do cuxiú-preto_ICMBio