No
Brasil há cavalos selvagens que vivem em liberdade no Estado de Roraima. Eles
vivem no Nordeste desse estado, num ecossistema de savanas que é conhecido como
Lavrado e que está ameaçado pela expansão do agronegócio. Por habitarem essa
região, os cavalos também são conhecidos como cavalos lavradeiros e vivem aos
bandos nos municípios de Amajari, Uiramutã, Normandia e Pacaraima.
Os
lavradeiros são descendentes de cavalos domésticos que fugiram dos
colonizadores portugueses e espanhóis no século XVIII. Ao longo do tempo
formaram bandos isolados de qualquer contato humano e, através da seleção
natural, os animais mais fortes e adaptados sobreviveram, eliminando os genes
desfavoráveis.
O
processo de seleção natural tornou o lavradeiro um cavalo bastante singular,
único em todo mundo. É um animal esperto, de porte elegante, mas pequeno, com
1,40 metro de altura, olhos grandes, pernas fortes, sendo muito resistentes e
velozes (podem correr por 30 minutos a 60 km/h.). Os cavalos lavradeiros são
altamente tolerantes a parasitas e a doenças como a anemia infecciosa, e isto
decorre de um patrimônio genético formado ao longo de mais de 200 anos. Durante
o período de seca, eles andam grandes distâncias para encontrar água e, na
época das chuvas, chegam a ficar até quatro meses com os cascos dentro d’água.
Vivem em liberdade, em bandos formados por um macho e cerca de 8 a 10 fêmeas.
Muitos desses animais passam a vida sem qualquer contato com seres humanos.
Muitos
cavalos lavradeiros vivem em regiões de difícil acesso e pouco habitadas, o que
contribui para que alguns não tenham qualquer contato com seres humanos durante
toda sua vida e mantenham suas características genéticas originais. Os poucos
exemplares que ainda restam da espécie em estado selvagem estão submetidos a
diversas ameaças diretamente relacionadas à expansão humana, como as queimadas,
o desmatamento e o risco do cruzamento com outras raças de cavalos. Estima-se
que a população atual do lavradeiro seja de aproximadamente 200 exemplares
puros, sem cruzamento com cavalos domesticados, vivendo em liberdade.
A
Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) mantém um programa de
conservação de cavalos lavradeiros que monitora alguns animais com o intuito de
conservar suas características originais e manter sua variabilidade genética,
que é resultado de muitos anos de seleção natural
Neste
cenário, para impedir a extinção do cavalo selvagem, torna-se urgente a criação
de um sistema de monitoramento permanente dos bandos isolados restantes e a
manutenção de seu isolamento para impedir a contaminação genética de animais
domesticados.
Somente
a mobilização da sociedade civil, pressionando as diversas esferas de governos
— municipal, estadual e federal — poderá salvar o cavalo selvagem brasileiro da
extinção. Nesse aspecto, o estado de Roraima tem um papel fundamental, podendo
tornar o lavradeiro o símbolo oficial do estado e, consequentemente, criar uma
unidade de conservação específica para preservá-lo.
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Foto: Divulgação