Desafios e esforços de conservação do macaco de L’Hoest nas montanhas da África Central


 O macaco de L’Hoest (Allochrocebus lhoesti), também chamado de macaco-da-montanha, é um dos primatas mais emblemáticos das florestas montanas da África Central. Sua pelagem predominantemente escura, combinada ao característico colar branco ao redor do queixo, cria uma aparência marcante que o distingue de outros cercopitecídeos. Ocorrendo em áreas de altitude elevada e florestas densas, a espécie se tornou um símbolo da fragilidade desses ecossistemas, cuja conservação depende de políticas ambientais eficientes, da atuação de ONGs e de iniciativas comunitárias.

Distribuição geográfica e características do habitat

O macaco de L’Hoest distribui-se principalmente na República Democrática do Congo, Ruanda, Burundi e Uganda. Sua presença está fortemente associada a florestas montanas e submontanas, geralmente acima de 1.000 metros de altitude. Esses ambientes são dominados por vegetação fechada, clima úmido e temperaturas mais baixas que as das planícies, formando um mosaico ecológico que oferece abrigo, alimento e refúgio contra predadores.

A espécie prefere áreas com denso sub-bosque, onde se desloca com grande agilidade entre galhos e troncos caídos. Embora seja capaz de utilizar florestas secundárias, tende a depender de ambientes bem conservados, o que torna sua sobrevivência vulnerável aos crescentes processos de desmatamento e fragmentação florestal que avançam sobre a região dos Grandes Lagos.

Características

Trata-se de um primata de porte médio, com corpo esguio e membros longos adaptados ao deslocamento no sub-bosque. Os machos pesam entre 5 e 6,5 kg, enquanto as fêmeas apresentam massa corporal em torno de 3,5 a 4,5 kg. Em relação ao comprimento, medem entre 45 e 60 cm (excluindo a cauda), e a cauda pode atingir 50 a 70 cm, auxiliando no equilíbrio durante o deslocamento entre galhos.

A pelagem é escura, variando do marrom profundo ao negro, enquanto o colar branco ao redor do queixo é uma das marcas mais distintivas da espécie. Os olhos grandes e expressivos contribuem para sua comunicação visual, enquanto o focinho estreito e alongado reflete sua adaptação a uma dieta variada.

Dieta e estratégias alimentares

O macaco de L’Hoest é onívoro e possui uma dieta flexível, embora a maior parte de sua alimentação seja composta por frutos. Em períodos de menor disponibilidade de frutas, incorpora ao cardápio folhas jovens, brotos, sementes e insetos. Essa versatilidade é fundamental para sua sobrevivência em ambientes onde a sazonalidade influi fortemente sobre a disponibilidade de recursos alimentares.

Os grupos frequentemente exploram o estrato médio e inferior da floresta em busca de alimento, e indivíduos podem passar longos períodos vasculhando o sub-bosque em busca de invertebrados. Essa combinação de frugivoria e insetivoria é comum em primatas de florestas tropicais densas e contribui para o papel ecológico da espécie, especialmente como dispersora de sementes.

 Comportamento social e reprodução

O macaco de L’Hoest apresenta estrutura social organizada em grupos liderados por um único macho adulto, que se junta a diversas fêmeas e seus filhotes. Em média, os grupos possuem entre 10 e 17 indivíduos, embora variações sejam comuns dependendo da qualidade ambiental e da pressão humana no território. Essa composição social contribui para a estabilidade dos bandos, já que as fêmeas formam o núcleo do grupo, transmitindo vínculos e rotinas de geração em geração.

A comunicação ocorre por meio de vocalizações de alerta, sinais faciais e posturas corporais. Os comportamentos sociais incluem cuidados maternos prolongados, brincadeiras entre jovens e interações de aproximação entre adultos. O período de gestação dura cerca de cinco meses, resultando no nascimento de um único filhote. Os recém-nascidos permanecem extremamente dependentes nos primeiros meses de vida, acompanhando constantemente as mães durante a locomoção.

Ameaças e impacto humano

O macaco de L’Hoest é classificado como vulnerável (VU), devido à soma de fatores que afetam sua sobrevivência. A principal ameaça é a perda e fragmentação do habitat, ocasionadas por expansão agrícola, mineração artesanal, abertura de estradas e produção de carvão vegetal. A destruição das florestas montanas reduz não apenas a área disponível para os grupos, mas também isola populações, dificultando o fluxo genético e aumentando o risco de declínio populacional.

A caça representa outro problema grave. Em regiões marcadas por instabilidade sociopolítica, como partes da República Democrática do Congo - RDC, a caça de subsistência e o comércio ilegal de carne de animais silvestres aumentaram, reduzindo grupos inteiros em algumas localidades. Conflitos armados também fragilizam a atuação de órgãos ambientais, permitindo que áreas protegidas sejam invadidas e degradadas, ampliando a exposição dos macacos à caça e ao tráfico.

Conservação e programas de proteção

A conservação do macaco de L’Hoest depende da atuação integrada de governos, organizações não governamentais, centros de pesquisa e comunidades locais. Nos últimos anos, diversas ações foram implementadas para mitigar as ameaças que incidem sobre a espécie. A proteção da espécie combina várias ações, entre as quais, o fortalecimento das áreas protegidas através de políticas governamentais, a participação das ONGS e grupos comunitários complementam a atuação governamental. A pesquisa e o manejo ex-situ contribuem para a manutenção de população de segurança para manter a sobrevivência da espécie e sua diversidade biológica.

Áreas protegidas e políticas governamentais

A presença da espécie em importantes parques nacionais constitui um dos pilares da sua conservação. Locais como os parques nacionais de Kahuzi-Biega e Itombwe (RDC), Nyungwe (Ruanda) e Bwindi (Uganda) garantem extensas áreas de floresta montana preservada, essenciais para a manutenção de populações viáveis. Nesses parques, autoridades ambientais mantêm patrulhas de vigilância, programas de monitoramento e iniciativas de educação para visitantes e moradores do entorno.

A implementação de estratégias de conservação baseadas na gestão participativa, envolvendo guardas florestais, lideranças comunitárias e instituições governamentais, tem se mostrado vital para o controle da caça e do desmatamento. Em alguns países, políticas de ecoturismo também fornecem recursos financeiros diretos para a proteção da fauna local.

Atuação de ONGs e iniciativas comunitárias

A conservação do macaco de L’Hoest conta com a participação ativa de organizações que atuam diretamente na proteção de primatas e na sensibilização das comunidades locais. Entre elas, destaca-se a New Primate Conservancy, que desenvolve programas de educação ambiental voltados à redução da caça de primatas, divulgação científica acessível e fortalecimento do conhecimento sobre espécies ameaçadas. A organização promove campanhas destinadas a ampliar a compreensão pública sobre o papel dos primatas nos ecossistemas africanos, além de apoiar iniciativas locais que buscam alternativas econômicas sustentáveis para comunidades que vivem próximas às florestas montanas.

Há várias entidades presentes no campo da conservação que operam em áreas de alto valor ecológico e contribuem indiretamente para a proteção do macaco de L’Hoest ao fomentar práticas de ecoturismo sustentável. Esse modelo de turismo, quando adequadamente estruturado, estimula a preservação das florestas, gera renda para famílias rurais e reforça o valor socioeconômico da fauna local, incluindo espécies menos conhecidas como o macaco-da-montanha. Em conjunto, essas iniciativas criam uma rede de apoio que fortalece a proteção do habitat e incentiva a participação comunitária na conservação.

Pesquisa e manejo ex situ

Zoológicos e centros de conservação internacionais também mantêm populações sob cuidados humanos, contribuindo para programas de reprodução e para a manutenção de diversidade genética. Ao mesmo tempo, esses locais desempenham um papel educativo importante, ampliando a conscientização global sobre a fragilidade das populações silvestres.

No âmbito internacional, instituições zoológicas também desempenham papel relevante na conservação da espécie, especialmente por meio de programas de manejo e reprodução sob cuidados humanos. O Apenheul Primate Park, na Europa, é uma das instituições que mantêm o macaco de L’Hoest em seus recintos, contribuindo para programas de conservação ex situ e para o monitoramento da saúde genética de populações mantidas em zoológicos. A presença da espécie em centros especializados permite o desenvolvimento de estudos comportamentais, sanitários e reprodutivos que apoiam estratégias de manejo de longo prazo.

A continuidade das pesquisas ecológicas, comportamentais e genéticas realizadas por universidades e instituições especializadas tem permitido aprimorar estratégias de manejo, identificar áreas prioritárias para proteção e orientar políticas públicas voltadas à conservação de longo prazo.

O macaco de L’Hoest representa um componente vital das florestas montanas da África Central e sua conservação exige esforços multidisciplinares. A combinação entre unidades de conservação bem geridas, políticas públicas robustas, atuação de ONGs e engajamento comunitário constitui a base para a proteção efetiva da espécie. Embora ameaças persistam, os programas existentes demonstram que avanços significativos são possíveis quando conservação e desenvolvimento caminham lado a lado. Garantir o futuro do macaco de L’Hoest significa, ao mesmo tempo, proteger ecossistemas inteiros e fortalecer as comunidades que deles dependem.

Fontes: New Primate Conservancy, Animal Diversity Web, Apenheul, Bioexplorer, IUCN Red List, Gorilla Trekking in Africa, UNESCO

 Fotos: Macaco de L'Hoest_by Charles J. Sharp, segunda foto:_by Chris Sanok, terceira foto:_by Zhou Fangyi e quarta foto:_Arcadia Safaris