O papagaio-de-peito-roxo (Amazona
vinacea), uma espécie emblemática da biodiversidade sul-americana, enfrenta
uma série de desafios para sua sobrevivência. Embora a situação atual desta
ave, seja crítica devido às ameaças ao seu habitat e a captura ilegal,
há ações de conservação em andamento que estão sendo fundamentais para a
preservação da espécie.
Contextualização e
Distribuição Geográfica
O papagaio-de-peito-roxo é
nativo da Mata Atlântica, estendendo-se do sul da Bahia ao Rio Grande do Sul,
no Brasil, com populações isoladas também encontradas no sudeste do Paraguai e
nordeste da Argentina. Este papagaio habita uma variedade de ecossistemas,
incluindo florestas úmidas tropicais e subtropicais, matas de pinhais, campos,
cerrados e áreas de pantanal, preferencialmente em altitudes de até 2 mil
metros.
Características Biológicas e
Comportamentais
Com cerca de 35 centímetros e 300
gramas a espécie é conhecida por sua plumagem vibrante, com destaque para o
peito roxo que lhe dá o nome, e pela capacidade de vocalizar sons similares à
fala humana. Os papagaios-de-peito-roxo possuem uma dieta especializada,
sendo o pinhão, semente da araucária, um componente essencial. Este hábito
alimentar evidencia a conexão profunda entre a espécie e o ecossistema das Florestas
com Araucárias. A preferência por nidificar em locais fixos, muitas vezes
retornando ano após ano ao mesmo ponto, coloca a espécie em risco direto frente
ao desmatamento, que elimina esses locais de nidificação essenciais para a sua
reprodução e acabam não realizando a postura.
Ameaças à Sobrevivência
Classificado como "Em
Perigo" (EN) pela IUCN, estima-se que existam pouco mais de 4.000
indivíduos adultos na natureza. Contagem realizada em toda a extensão do
território brasileiro em 2018, registrou 4.758 papagaios-de-peito-roxo. A
espécie sofre com a perda acelerada de habitat, especialmente devido ao
declínio das florestas de araucária, além da caça ilegal e do tráfico para o
comércio de animais de estimação, práticas que se somam à redução das áreas
verdes disponíveis para alimentação e nidificação. Outro fator preocupante é a baixa
variabilidade genética, resultado da fragmentação populacional e do
isolamento reprodutivo.
Esforços de Conservação
Diante do cenário desafiador,
foram desenvolvidas diversas iniciativas de conservação. O Plano
de Ação Nacional para Conservação dos Papagaios da Mata Atlântica (PAN
Papagaios) destaca-se por abranger estratégias integradas que visam proteger o papagaio-de-peito-roxo
e outras espécies ameaçadas. Além disso, projetos de reintrodução, como aqueles
liderados pelo Instituto
Espaço Silvestre e o Projeto Voar, realizado pelo Instituto
de Pesquisa e Conservação-WAITA com financiamento da Fundação Loro Parque e apoio
de várias instituições, têm mostrado progressos significativos. Esses esforços
incluem a reabilitação de indivíduos resgatados do tráfico, treinamento para
adaptação ao ambiente selvagem e soltura em áreas protegidas.
Um caso de sucesso é a parceria
entre o Zoológico
de Curitiba e o Instituto Espaço Silvestre, que tem trabalhado na
reintrodução de papagaios-de-peito-roxo no Parque
Nacional das Araucárias, uma região de onde a espécie havia desaparecido na
década de 1980 devido ao desmatamento e ao tráfico de animais. Até o momento,
222 papagaios foram soltos, após passarem por um processo de reabilitação.
Um aspecto fundamental dessas
iniciativas é o envolvimento das comunidades locais por meio de
programas de educação ambiental, ciência cidadã e geração de
renda sustentável, buscando criar uma relação harmoniosa entre os seres
humanos e o ambiente natural. Dentre os resultados tangíveis desses esforços,
destaca-se o aumento do número de indivíduos reintroduzidos com sucesso na
natureza e a ampliação da conscientização pública sobre a importância da
conservação do papagaio-de-peito-roxo e de seu habitat.
Considerando que mais de 60% da população
brasileira do papagaio-de-peito-roxo se concentram em Santa Catarina,
especialistas defendem que os esforços de conservação deveriam se concentrar
nesse Estado.
Desafios e Perspectivas Futuras
A conservação do Papagaio-de-peito-roxo
enfrenta desafios complexos, que exigem uma abordagem multidisciplinar e a
cooperação entre governos, organizações não governamentais, comunidades
científicas e locais. A continuidade e expansão dos esforços de conservação são
cruciais para reverter a tendência de declínio da população da espécie e
garantir sua sobrevivência a longo prazo.
O Papagaio-de-peito-roxo é
mais do que uma espécie em perigo; é um símbolo da riqueza natural da Mata
Atlântica e da urgente necessidade de conservação ambiental. As ações
empreendidas até o momento são passos importantes na direção certa, mas a
jornada para garantir a sobrevivência desta espécie magnífica é longa e requer
o comprometimento contínuo de todos os envolvidos.
Fontes: Funbio (Fundo Brasileiro para a Biodiversidade), Conexão Planeta, ICMBio, Waita, Instituto Espaço Silvestre, Ciea-SC , OEco, Parque das aves
Foto: Papagaio-de-peito-roxo-Maargik Moss e segunda foto: Papagaio-de-peito-roxo_by Viviane Zulian