O gamo persa (Dama mesopotâmica), também conhecido como cervo mesopotâmico ou gamo
mesopotâmico, é uma espécie de veado que tem experimentado um renascimento
surpreendente graças aos esforços de conservação no Irã e em Israel. Esta
espécie é semelhante em aparência ao gamo europeu, possuindo a mesma
pelagem, amarela salpicada de manchas brancas. No entanto, o gamo persa
é maior e tem chifres de formas diferentes, são longos e largos e não são tão
planos ou semelhantes a lâminas como ocorre no gamo europeu. O gamo
persa está em grande risco de extinção e está listado como ameaçado
pela IUCN.
A dieta dos gamos persas
varia de acordo com a estação e inclui grama, nozes e folhas. Eles vivem em
rebanhos, com os machos estabelecendo territórios durante a época de
reprodução. Essa espécie ocupa uma variedade de bosques, como os de pistache,
tamarisco e carvalho, e utiliza matas ciliares.
Considerado extinto, uma nova
população foi redescoberta em 1956
Apesar de ter sido considerado
extinto em 1945, uma pequena população foi redescoberta em 1956 no sudoeste do
Irã, nas densas florestas de Zagros e Khuzestan. Desde então, programas de
reprodução em cativeiro e reintrodução no habitat natural têm ajudado a
aumentar a população desta espécie ameaçada de extinção. Hoje sobrevivem em apenas
um pequeno habitat no Khuzistão, sul do Irã e duas pequenas áreas protegidas em
Mazandaran, e uma ilha no Lago Urmia no noroeste do Irã, uma área no norte de
Israel e em algumas partes do Iraque.
Criação em zoos permitiu a
recuperação do gamo persa
Antes de serem considerados
extintos, os gamos persas vagavam livremente em Israel. No entanto, a
caça furtiva desenfreada no final do século XIX levou ao desaparecimento da
espécie na região. Com a redescoberta da população no Irã, iniciou-se um sério
programa de regeneração em cativeiro que contou com o apoio do Opel-Zoo na
Alemanha que atuou como uma espécie de refúgio para os primeiros exemplares
resgatados do Irã, fornecendo um ambiente seguro para a reprodução e o estudo
da espécie. Atualmente o Opel-Zoo participa do Programa Europeu (EEP) para a
preservação dos gamos persas em que participam inúmeros zoos que possuem a
espécie e trabalham para sua reintrodução em ambiente natural, como o Réserve Zoologique de La
Haute-Touche na França.
População reintroduzida em
Israel cresceu rapidamente
Algumas décadas depois de sua
redescoberta, dois casais de cervos persas e seis fêmeas foram trazidos
para Israel, foram os pioneiros que se reproduziram e se tornaram hoje uma
população de 650 gamos persas que vivem em Israel. Os cervos foram criados na
Reserva Natural de Hai-Bar Carmel e, em 1996, a Autoridade de Parques e
Natureza de Israel começou a reintroduzir alguns deles em seu ambiente natural,
nas margens do rio Kziv, na Galileia Ocidental. Hoje, cerca de 200 gamos vivem
nessa área, formando o maior rebanho do mundo de gamos persas em estado
selvagem.
Preocupação constante das
populações de gamos persas existentes é a manutenção da diversidade genética
Hoje a população em Israel está crescendo,
resultado de um programa que nas últimas décadas reintroduziram 10 ou mais
indivíduos, no ambiente natural, a cada ano. Uma importante iniciativa foi
adotada de se criar uma nova população de animais reintroduzidos em outro local
e separada do grupo existente. Essa população adicional e separada permitirá
que a diversidade genética aumente, evitando que toda a população de
gamos selvagens seja extinta em caso de uma situação extrema, como uma doença
ou algum desastre natural. A área escolhida para essa nova população selvagem
fica nas colinas de Jerusalém, próxima ao rio Soreq, região montanhosa e
repleta de vegetação e água acessíveis aos cervos. Dezenas de animais já foram
soltos no local.
Tendência de crescimento da
espécie no Irã ocorre embora tenha sido extinta a população original selvagem
em 2013
No Irã desde 1956, quando vários gamos
persas foram avistados na província de Khuzestan, as autoridades ambientais
têm feito esforços para preservar a espécie, realizando reprodução em cativeiro
e reintroduzindo o animal em seu habitat natural. No entanto, em 2013, a
espécie foi declarada extinta em seu habitat natural no Irã. As autoridades
então prepararam novos locais de conservação em diferentes regiões em todo o
país para ajudar a restaurar a população dos cervos. Atualmente, o animal é
encontrado apenas no Refúgio de Vida Selvagem Dasht-e-Naz e no Refúgio de Vida
Selvagem Semeskandeh no norte do Irã, nas ilhas Ashk e Kaboudan no Lago Urmia e
na Área Protegida Baghe Shadi de Yazd, bem como no Miankotal Enclosure de Fars.
Entre as medidas que estão sendo tomadas para a proteção dos gamos persas
estão sensibilizar a população local, estabelecer postos de guarda-parques e
recrutar pessoal especializado.
Os habitats principais dos gamos
persas, no Irã, estão localizados nas áreas oeste e sudoeste do país. A
população da espécie tem crescido significativamente nos últimos dois anos no
criadouro semi-natural de Dasht-e Naz, na cidade de Sari, bem como na Ilha Ashk
do Lago Urmia, que se tornou um local seguro devido ao difícil acesso de
caçadores ilegais.
Também no Irã a preocupação é
com a possibilidade de endogamia devido a pouca variação genética
Hoje, as únicas populações
selvagens sobreviventes estão no sudoeste do Irã. Formam uma população pequena,
fazendo com que a grande preocupação de especialistas e autoridades seja a possibilidade
de endogamia, porque pode causar perda de variação genética. Os gamos
persas tem pouca variação genética porque todos os animais que
existem atualmente, em todo mundo, foram criados a partir de um grupo
sobrevivente relativamente pequeno que foi encontrado vivendo na natureza;
estudos genéticos mostraram que os indivíduos vivos hoje são semelhantes em 95%
de seus genes.
Em dezembro de 2022, o
Departamento de Meio iraniano informou que um total de 270 gamos persa
permanecem no país, sendo que cerca de 200 são machos e 70 fêmeas, proporção
que é um grande risco para o processo de reprodução. As autoridades tem
procurado locais apropriados para devolver a espécie na natureza, que tenha
floresta intocada, poucos conflitos, habitat adequado e possibilidade de
proteger os animais.
População selvagem do gamo
persa tem crescimento que tende a ser estável
Como resultado dos esforços de
conservação até agora, a população mundial atual do gamo persa vivendo em
estado selvagem (excluindo os que vivem em criadouros ou em situação de semi-liberdade)
é estimada em aproximadamente 365 indivíduos. Considerando a questão da
necessidade de aumentar a variabilidade genética, os futuros esforços de
conservação devem se concentrar em estudos genéticos, aumentando a
população de cervos em diferentes locais, protegendo seu habitat e liberando
mais animais nas áreas de reintrodução.
Os programas de conservação do
gamo persa obtiveram sucesso que deve servir de exemplo
O sucesso na conservação do gamo
persa é uma história que mostra o poder dos esforços de conservação e a
resiliência da natureza. No entanto, ainda há muito trabalho a ser feito para
garantir a sobrevivência a longo prazo dessa espécie única. Continuar
investindo em programas de criação, reintrodução e preservação do habitat, além
de promover a educação e conscientização das comunidades locais, será
fundamental para proteger o futuro do gamo persa.
A jornada do gamo persa de
quase extinto a uma população em crescimento é um testemunho do poder dos programas
de conservação e do compromisso das autoridades e organizações envolvidas.
Um dos principais fatores que contribuíram para o sucesso desses programas foi
a colaboração internacional. Países como Alemanha e Israel desempenharam papéis
importantes na recuperação dessa espécie.
Fontes: Zoo de La Haute Touche, Visit Iran, Israel 21c, Jerusalem Zoo, Tehran Times(1), Animal Info, The Jerusalem Post, Trip to Persia, Jungle Dragon, Financial Tribune, Tehran Times (2), HiPersia
Fotos: Gamo persa_by Ali Mohajeran e segunda foto: Gamos persas_Asghar Fakhari