Em publicação de 28 de maio de 2020 na
revista Zoological Journal of the
Linnean Society cientistas
brasileiros e chineses identificaram a existência de cinco espécies distintas
de gato-palheiro e não uma como anteriormente se acreditava. Todas as
espécies são encontradas em território sul-americano. Duas delas em
território brasileiro, o Leopardus braccatus, encontrado,
principalmente, no cerrado, e o gato-palheiro-pampeano (Leopardus
munoai) encontrado nos pampas brasileiros e uruguaio na região fronteiriça
entre os dois países e no nordeste da Argentina. No Brasil tem ocorrência
exclusivamente no Rio Grande do Sul. As outras três espécies (Leopardus
colocola e Leoparduas garleppi) vivem nos Andes e (Leopardus
pajeros) em regiões de vegetação aberta na Argentina. (O mapa da América do
Sul abaixo mostra a distribuição das 5 espécies).
Na nova classificação, o
gato-palheiro-pampeano é uma das espécies mais ameaçadas
A nova classificação tem implicações
práticas imediatas, pois algumas dessas espécies correm sério risco de
extinção, como é o caso do gato-palheiro-pampeano do qual há poucas
informações devido a sua extrema raridade. Pesquisadores acreditam que a
espécie está sob alta ameaça de extinção. Nesse sentido especialistas,
cientistas e conservacionistas enviaram carta ao
governo brasileiro (ICMBio) destacando a importância do reconhecimento dessa
espécie como unidade distinta para que sejam realizadas ações específicas de
conservação. Nesse documento destacam que a nova taxonomia proposta na
revista Zoological Journal of the Linnean Society de 2020 já é utilizada por destacadas instituições
como a Small Wild Cat Conservation Foundation e a Sociedade Brasileira de Mastozoologia, com a inclusão do gato-palheiro-pampeano (Leopardus
munoai) em sua lista atualizada de mamíferos brasileiros.
Tonalidade da pelagem contribui para diferenciar o palheiro-pampeano das
outras espécies
Este felídeo apresenta um
padrão de pelagem mais diferenciado. Variando a tonalidade de acinzentado à
avermelhado e não possui formação de pintas. Os pelos são mais longos e ásperos
em relação aos demais felinos e apresentam listras pretas nas patas. Seus hábitos
são noturnos, embora possa ser avistado durante o crepúsculo. Como todo felino,
é um animal carnívoro se alimentando de pequenos mamíferos, aves e seus
ovos, répteis, anfíbios e peixes.
Pesquisa indica fraca conectividade
entre as áreas de ocorrência do gato-palheiro-pampeano
Em artigo publicado em agosto de 2021
no Journal
for Nature Conservation os autores apontam para o alto risco de
extinção do gato-palheiro-pampeano e destacam a existência de conectividade
limitada em todo seu habitat. Destacaram ainda que as estimativas demográficas
indicaram pequena população e estado de conservação ameaçado com uma porcentagem
muito pequena de habitat altamente adequado protegido. E alertam que caminhos
de conectividade cruciais provavelmente serão perdidos no futuro agravando a
possibilidade de sobrevivência da espécie.
Pesquisadores sugerem a inclusão da
espécie como criticamente ameaçada de extinção
Neste ano (2022), em trabalho realizado
por pesquisadores de três países (Argentina, Brasil e Uruguai) e que foi aprovado
para o 11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia que será
realizado de 17 a 21 de outubro de 2022 em Fortaleza/Ceará sob o título: Alto risco de extinção e conectividade limitada de habitat do
gato palheiro pampeano, um felídeo endêmico da ecorregião da Savana Uruguaia: é
hora de agir! os autores sugerem que a espécie deve ser incluída
em uma das categorias de ameaça de extinção da IUCN, provavelmente,
indicam várias estimativas, na situação
de “Criticamente Ameaçado”(CR). Além disso os autores do estudo também consideram
que a conectividade entre as áreas de ocorrência do gato-palheiro-pampeano
está baixa, incluindo as áreas protegidas. E nas áreas de ocorrência do animal
há um alto nível de ameaça futura de perda de habitat com o avanço da
agricultura e pecuária. A pesquisa conta com financiamento da: Neotropical Grassland Conservancy, Fundação
Grupo O Boticário, Panthera, Pampas Cat Working Group, Small Wild Cat Conservation Foundation.
Cientistas indicam necessidade de
grupo de trabalho internacional para proteger a espécie
Em função dessa realidade os
pesquisadores indicam a necessidade urgente de realização de ações de
mitigação das ameaças para a espécie, com a sensibilização da população.
E destacam a importância da existência de um grupo de trabalho internacional
voltado para realizar ações de mitigação de ameaças para a espécie.
Entre as quais se incluem sensibilizar a população em geral, evitar conflitos
com fazendeiros, afastar os cães domésticos e reduzir os atropelamentos.
Há necessidade de aumentar as áreas
protegidas nas regiões de ocorrência da espécie
Sem dúvida, a ameaça mais grave que
vive a espécie é a perda de habitat, pois os campos estão se
transformando em áreas de cultivo e pastagem, embora o abate devido a predação
de aves domésticas, a transmissão de doenças pelos animais domésticos e os
atropelamentos também afetam a sobrevivência do animal. Identificar o status
atual da população do gato-palheiro-pampeano é condição essencial
para sua sobrevivência pois indicará quais medidas deverão ser adotadas em
relação a criação de reservas específicas para protege-lo, pois
atualmente apenas 0,73% de sua paisagem de alta adequação está protegida.
Fonte: LaderaSur, LaDiaria, Wild Cats Brazil, UFPEL, Noticias Ambientales, Plazi, Saense, The Rufford Foundation, Folha de São Paulo, G1Globo, Qwerty, UFRGS
Foto: Gato-palheiro-pampeano_by Felipe Peters