A floresta tropical com a
maior biodiversidade do planeta contendo milhares de animais e plantas desconhecidos
pela ciência está correndo sério risco de desaparecer, revela recente estudo
publicado nesta última segunda feira. A pesquisa realizada por cientistas da Universidade de Exeter, do Instituto Potsdam para Impacto Climático
(PIK) e da Universidade
Técnica de Munique e publicada ontem (7 de fevereiro) na revista Nature Climate Change utilizando dados obtidos de satélite entre os anos de
1991 a 2016, revelam um dado
preocupante, o de que há uma perda pronunciada da capacidade de recuperação da floresta
amazônica desde o início dos anos 2000. Nesse estudo os pesquisadores
afirmam que a floresta amazônica pode estar se aproximando de um ponto de inflexão em que
a floresta tropical se transformará em savana. Ocorre que a floresta amazônica
está perdendo a capacidade de reagir ao desmatamento e às mudanças
climáticas.
Nesse estudo, os pesquisadores encontraram evidências de
perda de resiliência encontrados em mais de 75% da floresta amazônica desde o
início dos anos 2000, indicando que ela pode estar se aproximando de uma
transição crítica que seria seu ponto de ruptura. Uma vez atingido esse ponto
de inflexão, será quase impossível reverter seus efeitos. Em algumas décadas, a
floresta se transformará em pastagens, e grande parte do carbono que foi
absorvido pelas árvores será liberado na atmosfera. O resultado final será a
perda de um ecossistema insubstituível e um ator importante na dinâmica
climática global comprometendo irreversivelmente o ecossistema do planeta.
Desde início dos anos 2000 a Amazônia vem obtendo uma
taxa mais lenta de retorno ao normal após interrupções como perturbações
advindas de eventos climáticos, que se desenrolam ao longo de semanas ou meses,
bem como os prazos mais longos de seca. Como os pesquisadores também tinham
esses dados de cobertura da terra, eles poderiam mostrar ainda que áreas que
recebem menos chuva ou estão mais próximas de atividades humanas, como terras
agrícolas, estão perdendo resiliência mais rapidamente do que terras mais
úmidas e imaculadas.
A Floresta amazônica é um dos ecossistemas mais
importantes do mundo, representa mais da metade da floresta tropical do planeta.
Se estende por 5,5 milhões de
quilômetros quadrados – uma área muito mais extensa do que a União Europeia (UE)
e mais da metade dos Estados Unidos (EUA). É uma fonte de biodiversidade
que abriga milhares de espécies raras, muitas desconhecidas. É responsável por
quase 6% do oxigênio do planeta. É um importante sumidouro de carbono
que evita um aumento do efeito estufa ao absorver o gás carbônico (CO2) da
atmosfera.
É possível evitar esse resultado, mas mudanças drásticas
serão necessárias. O artigo adverte que não podemos prever com precisão o ponto
de inflexão – provavelmente saberemos sobre isso somente depois que
acontecer. Pois não é possível afirmar quando a Amazônia como um todo
pode atingir esse ponto de inflexão, pois há inúmeras variáveis em jogo, como a
taxa de desmatamento e como as secas podem se intensificar. Mas no sudeste da floresta
tropical, eles estão tendo vislumbres de como esse ponto pode ser. Ali, à
medida que os fragmentos florestais e as bordas ficam mais expostas ao sol, árvores
grandes que precisam de muita água vão morrendo. As que tendem a sobreviver são
semelhantes às que são vistas na savana (ou no cerrado) – elas podem até
perder suas folhas durante a estação seca, ao contrário das que vicejam todo o
tempo em uma floresta tropical. Embora não se possa prever quando o ponto de
inflexão será alcançado, o estudo mostra que a perda de resiliência é
consistente com a aproximação do momento decisivo.
A Amazônia foi sujeita a incêndios florestais
devastadores e uma quantidade preocupante de desmatamento nos últimos anos. A
gravidade do problema é apresentada em dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
do Brasil (INPE) acerca do desmatamento que se agrava ano após ano: 2020
foi pior que 2019, 2021 foi pior que 2020 e se prevê que 2022 será pior ainda.
Especialistas acreditam que a Amazônia poderá em
breve atingir um ponto crítico, que ultrapassado provocaria a morte e
transformaria grande parte da floresta em savana. Muitos fatores
interligados – incluindo secas, incêndios, desmatamento, degradação e mudanças
climáticas – podem se combinar para reduzir a resiliência e desencadear a
travessia de um ponto de inflexão na Amazônia. Isso teria grandes
consequências para a biodiversidade, o armazenamento global de carbono e
as mudanças climáticas.
O estudo conclui que foram reveladas evidências empíricas
de que a floresta amazônica vem perdendo resiliência desde o início dos anos
2000, arriscando morrer com profundas implicações para a biodiversidade,
armazenamento de carbono e mudanças climáticas em escala global.
Mais da metade da Amazônia pode ser destruída até
2030. A floresta está chegando ao seu ponto de inflexão, portanto proteger a
região é mais importante do que nunca.
Artigo mencionado: Boulton, C.A., Lenton, T.M. & Boers, N. Perda pronunciada da resiliência da floresta amazônica desde o início dos anos 2000. Chang. (2022). https://doi.org/10.1038/s41558-022-01287-8
Foto: biodiversidade amazônica
Como citar o artigo: DIAS, R. Floresta amazônica pode estar
chegando a um ponto de destruição sem retorno. Poliseres. Campinas/SP, p. 1-2,
08 março 2022. Link: https://www.poliseres.com.br/2022/03/floresta-amazonica-pode-estar-chegando.html