A jandaia-amarela no norte da Amazônia: entre o brilho das penas e o risco de extinção


 A jandaia-amarela (Aratinga solstitialis), também conhecida como jandaia-sol, cacaué, nandaia, nhandaia, queci-queci e quijuba, é uma ave da família Psittacidae, a mesma que inclui papagaios, araras e periquitos. Popularmente chamada de sun parakeet em inglês, esta espécie se destaca pela plumagem vibrante em tons de amarelo-dourado, laranja e verde, sendo considerada uma das mais belas entre os psitacídeos. Apesar de sua aparência marcante e comportamento social, a espécie enfrenta uma acentuada redução populacional, estando classificada como “Em Perigo” tanto pela Lista Vermelha da IUCN quanto pelo ICMBio.

Distribuição geográfica

Globalmente restrita ao Escudo das Guianas, ocorre no extremo norte do Brasil — especialmente em Roraima — e no oeste da Guiana, com registros ocasionais no sudeste da Venezuela. Sua área total de distribuição no Brasil é de aproximadamente 15 mil km², mas o habitat efetivamente adequado não ultrapassa 4.000 km², sendo mais de 90% dessa área localizada em território brasileiro. Os principais registros no país incluem localidades próximas aos rios Surumú e Contigo, áreas urbanas de Boa Vista e, com maior concentração, a região do município de Normandia, desde a comunidade de Placas até a divisa com a Guiana Inglesa.

Habitat e ecologia

Historicamente associada a savanas, a espécie utiliza esses ambientes principalmente para deslocamentos entre fragmentos florestais ou para exploração de recursos alimentares cultivados. Seu habitat preferencial inclui florestas secas com palmeiras, áreas de borda de mata e, ocasionalmente, zonas inundadas, podendo ocorrer até 1.200 metros de altitude. Nidifica em cavidades de árvores ou palmeiras, possivelmente a partir de fevereiro. Em áreas urbanas, adapta-se ao uso de postes de madeira ou concreto para nidificação.

Em Boa Vista, destaca-se o uso de quintais agroflorestais, onde a disponibilidade de frutas tropicais — como manga, araçá, goiaba e caimbé — oferece suplementação alimentar significativa. Esse aproveitamento reforça a importância de manter e valorizar tais espaços como contribuição à biodiversidade.

Morfologia e Comportamento

Medindo cerca de 30 a 31 cm de comprimento, a jandaia-amarela apresenta bico negro robusto, adaptado para triturar sementes duras, e plumagem predominantemente amarela com face e partes inferiores alaranjadas, asas verdes e cauda com penas verde-azuladas. Machos e fêmeas são semelhantes na aparência. É uma espécie social, vivendo em bandos de 30 ou mais indivíduos e formando pares monogâmicos durante a reprodução. Sua dieta inclui frutos, flores, folhas tenras, sementes, nozes e insetos.

Altamente vocal, emite chamados estridentes, especialmente em voo. Essa característica, combinada ao colorido intenso, facilita sua detecção, mas também a torna mais vulnerável à captura.

Ameaças

O principal fator de ameaça é a captura para o comércio ilegal de animais silvestres. Na década de 1980, estima-se que quase 600 aves fossem retiradas anualmente da Guiana, com mais de 2.000 indivíduos exportados para os Estados Unidos entre 1981 e 1985. A demanda por exemplares em cativeiro persiste, inclusive com relatos de caçadores atravessando a fronteira para capturar ou adquirir aves. Além disso, a perda de habitat é significativa: queimadas e conversão de florestas secas para pastagens no nordeste de Roraima, bem como a expansão agrícola, comprometem a qualidade ambiental necessária para a espécie.

Esses fatores resultaram em declínio populacional superior a 50% nas últimas três gerações, com a população global estimada em menos de 2.500 indivíduos maduros, dos quais a maioria se encontra no Brasil.

Presença em Áreas Protegidas

A jandaia-amarela ocorre em algumas áreas de proteção, como a Estação Ecológica de Maracá (ESEC de Maracá), unidade de conservação federal situada em Roraima. Também há registros em terras indígenas como Raposa Serra do Sol e São Marcos. Embora essas áreas desempenhem papel importante na proteção de habitats remanescentes, a pressão da captura ilegal persiste inclusive nas proximidades desses territórios, exigindo vigilância constante.

Conservação e Ações Necessárias

Embora a espécie ocorra em unidades de conservação e terras indígenas, sua preservação depende de um conjunto articulado de medidas. É fundamental intensificar a fiscalização contra o tráfico de animais silvestres, especialmente nas áreas de fronteira, e promover ações de educação ambiental que conscientizem as comunidades locais sobre a importância ecológica da jandaia-amarela e os impactos da captura ilegal. A proteção e restauração de habitats, com atenção especial às florestas secas e aos quintais agroflorestais que servem como importantes áreas de alimentação, são igualmente necessárias. Além disso, programas de monitoramento populacional contínuo podem fornecer dados essenciais para avaliar tendências e orientar o manejo. Nesse processo, ONGs ambientalistas, órgãos governamentais e comunidades locais desempenham papel estratégico, e iniciativas que aliem conservação da biodiversidade e benefícios socioeconômicos, como o manejo sustentável de recursos e o incentivo a sistemas agroflorestais, podem contribuir de forma decisiva para a sobrevivência da espécie.

A jandaia-amarela é um símbolo da riqueza natural do norte da Amazônia, mas também um exemplo preocupante de como o comércio ilegal e a degradação ambiental podem levar uma espécie antes comum à beira da extinção. Sua sobrevivência dependerá da integração de esforços entre governos, organizações da sociedade civil e comunidades locais, com estratégias que combinem proteção legal, fiscalização eficaz e valorização dos habitats que ainda sustentam suas populações remanescentes.

Fontes:Ebird , Inaturalist, Animalia, IUCN,  Avibase, Birds of the World, Salve.ICMBio, World Parrot Trust, G1Globo, Datazone.Birdlife, Biodiversity4all, WikiAves,O Eco

Fotos: Jandaia-amarela_by Viweedguy.jpg e segunda foto:_by Joao Quental.jpg e terceira foto: _by Viweedguy_2.jpg e quarta foto:_by H. Zell