A maracanã-de-cabeça-azul (Primolius couloni)
Também conhecida como arara-de-cabeça-azul é uma das menores espécies de
arara, com cerca de 41 centímetros de comprimento e peso entre 207 e 294
gramas. Sua coloração predominante é verde-oliva, com cabeça e asas em tons de
azul escuro, íris esbranquiçada com anel marrom, e cauda marrom-avermelhada com
extremidades azuladas. A pele nua ao redor dos olhos é escura, e o bico
apresenta coloração cinza-claro com base preta. Exemplares jovens se distinguem
dos adultos por terem bico preto, íris mais escura e patas cinzentas. A espécie
é de natureza críptica, tímida e pouco gregária, vivendo geralmente em pares ou
pequenos grupos.
Distribuição geográfica e habitat
Primolius couloni está distribuída na região
amazônica ocidental, incluindo o leste do Peru, noroeste da Bolívia e o extremo
oeste do Brasil, com registros principalmente nos estados do Acre e Amazonas.
Habita florestas tropicais úmidas e abertas, áreas semiabertas, miritizais
(áreas com presença de palmeiras Mauritia flexuosa), florestas
ribeirinhas e pântanos. Vive entre 150 e 1.550 metros de altitude, preferindo
áreas ao longo de rios e bordas de clareiras. Também foi observada em regiões
agrícolas e até mesmo em áreas próximas a centros urbanos, o que sugere certa
tolerância à conversão de habitat.
Comportamento e hábitos alimentares
Esta arara é comumente vista em pequenos grupos de dois a
cinco indivíduos e, ocasionalmente, em bandos maiores durante a entressafra.
Seus chamados altos e potentes ecoam pelas florestas. Frequentemente visita
barrancos de argila (barreiros), comportamento comum entre psitacídeos, e que
está associado à ingestão de minerais. A dieta é composta por sementes, frutas
maduras e verdes, brotos vegetais, casca de troncos e, ocasionalmente, insetos
e larvas.
Reprodução e longevidade
A época reprodutiva ocorre por volta de abril. A fêmea
deposita de três a quatro ovos por ninhada, com um período de incubação entre
24 e 26 dias. Os filhotes permanecem no ninho por até 90 dias. A maracanã-de-cabeça-azul
possui uma expectativa de vida média entre 30 e 40 anos, e tem apresentado boa
adaptação à reprodução em cativeiro, o que favorece iniciativas de conservação
ex-situ.
Ameaças e estado de conservação
Apesar de tolerar ambientes antropizados, a espécie enfrenta
sérias ameaças, como a perda de habitat devido à expansão agropecuária,
desmatamento, exploração madeireira, mineração e extração de gás em
diferentes partes de sua distribuição. Além disso, a coleta ilegal de filhotes
para o comércio de animais de estimação representa um risco crescente,
especialmente devido ao seu valor de mercado por ser rara. Também há registros
de caça para alimentação em áreas como o estado do Acre.
O tráfico internacional, embora ainda limitado, tem
mostrado sinais de crescimento. De acordo com dados compilados, o número de
espécimes comercializados passou de três, em 1993, para 55, em 2000, com parte
expressiva envolvida em comércio ilegal. Essa pressão é agravada pela baixa
taxa reprodutiva da espécie.
Por conta dessas ameaças, P. couloni foi
reclassificada como “vulnerável” na Lista Vermelha da IUCN em 2010, após
anteriormente ser considerada em perigo. A população estimada varia entre 1.000
e 2.500 indivíduos maduros, mas dados atualizados sobre seu número e taxa de
declínio ainda são insuficientes.
Iniciativas de conservação
Frente ao cenário preocupante, diversas iniciativas têm
buscado reverter o declínio da maracanã-de-cabeça-azul. Desde 2008, a Fundação Loro Parque (Loro
Parque Fundación – LPF), em parceria com o Serviço
Nacional de Áreas Naturais Protegidas do Estado do Peru (SERNANP), lidera
um programa de conservação no território peruano, onde acredita-se que esteja a
maior parte da população da espécie. O projeto inclui estudos sobre abundância,
ecologia, distribuição geográfica e pressões humanas.
Entre as ações desenvolvidas, destacam-se o mapeamento de
áreas naturais protegidas, a análise de habitat e dieta, o monitoramento de
ameaças e campanhas de conscientização sobre o tráfico ilegal. A LPF
também mantém um programa de reprodução em cativeiro no centro de La Vera, na
Espanha, que é hoje a maior reserva genética de papagaios do mundo. O sucesso
reprodutivo ex-situ contribui com estratégias de conservação de longo prazo,
como eventuais reintroduções e reforço populacional.
No Brasil, a espécie está presente em unidades de
conservação como a Estação Ecológica do Rio Acre, o Parque Nacional da Serra do
Divisor e a Reserva Extrativista do Alto Juruá, além da Terra Indígena
Mamoadate. A proteção desses territórios tem papel crucial na manutenção dos
habitats naturais da espécie.
A maracanã-de-cabeça-azul é uma espécie da fauna
sul-americana, cuja conservação exige esforços articulados entre governos, comunidades
locais e organizações internacionais. Ainda há muitas lacunas no
conhecimento sobre sua biologia e dinâmica populacional, mas os avanços
conquistados nos últimos anos apontam caminhos promissores. Proteger esta arara
significa preservar também os ecossistemas amazônicos onde ela habita — e, com
eles, a rica diversidade de vida que os sustenta.
Fontes: WikiAves, Animalia.bio, IUCN Red List, Salve-ICMBio, Instituto Arara-Azul, Ebird, Aves de Perú, Rainforests Expeditions, Zoogalaxy, Versele-laga, U.S. Fish & Wild Life Service, Birds of Bolivia, Loro Parque Fundación, Birds of The World, Datazone.BirdLife
Fotos: Maracanã-de-cabeça-azul_by Joselo Barazorda e segunda foto_ by Ricardo Plácido e terceira foto: _by Joselo Barazorda e quarta foto_by Vincent