O orangotango-de-Sumatra e os desafios de sua conservação


 O orangotango-de-Sumatra (Pongo abelii) é uma das três espécies conhecidas de orangotangos, ao lado do orangotango-de-Bornéu (Pongo pygmaeus) e do orangotango-de-Tapanuli (Pongo tapanuliensis). Endêmico da porção norte da ilha de Sumatra, na Indonésia, esse grande primata arborícola é reconhecido por sua inteligência, pelagem vermelho alaranjada e papel fundamental na manutenção da biodiversidade das florestas da ilha de Sumatra. Com menos de 14 mil indivíduos restantes na natureza, sua existência está sob crescente ameaça, exigindo ações coordenadas de conservação por parte de governos, ONGs e comunidades locais.

Características físicas e comportamento

Os orangotangos-de-Sumatra são os menores entre as espécies de orangotangos, embora ainda sejam os maiores primatas arborícolas da Ásia. Os machos adultos podem atingir até 1,8 metros de altura, com peso entre 70 e 90 kg, enquanto as fêmeas são significativamente menores, com até 1,3 metros de altura e peso entre 30 e 50 kg. Possuem pelos longos e finos de coloração avermelhada, com manchas brancas no rosto e na virilha. Os machos desenvolvem grandes almofadas nas bochechas (flanges) e uma bolsa na garganta que ajuda a amplificar seus chamados.

São primatas diurnos e predominantemente arborícolas, passando mais de 90% do tempo no dossel das árvores, onde constroem ninhos diários para dormir. Seu deslocamento entre galhos é feito por braquiação ou com apoio das mãos e pés, especialmente entre os indivíduos maiores. A habilidade de usar ferramentas — como gravetos para extrair insetos ou folhas como guarda-chuvas — demonstra seu alto grau de cognição, que também inclui comportamentos de memória, resolução de problemas e até planejamento rudimentar.

Os orangotangos-de-Sumatra têm pelos mais longos e finos, barbas evidentes tanto em machos quanto em fêmeas e uma constituição corporal mais esguia em comparação com os orangotangos-de-Bornéu. Além disso, apresentam manchas de pelos brancos no rosto e na região pubiana, ausentes nos seus parentes de Bornéu. Essas distinções visuais são complementadas por diferenças genéticas que justificam seu reconhecimento como espécies separadas.

Alimentação e reprodução

A dieta dos orangotangos-de-Sumatra é principalmente frugívora, com frutas compondo de 60% a 70% do que consomem. Figos, rambutãs, mangas e duriões estão entre os alimentos preferidos. Em épocas de escassez, complementam a dieta com folhas, cascas, flores, insetos e, ocasionalmente, ovos e pequenos vertebrados. Seu papel ecológico como dispersores de sementes é vital para a regeneração de centenas de espécies vegetais.

A reprodução é lenta e exige longos períodos de cuidado parental. As fêmeas atingem a maturidade por volta dos 15 anos e dão à luz apenas um filhote a cada 8 a 9 anos. Os filhotes permanecem com as mães até os 7 ou 8 anos de idade, aprendendo habilidades fundamentais para sua sobrevivência. Essa baixa taxa reprodutiva dificulta a recuperação populacional, sobretudo diante das ameaças crescentes ao seu habitat.

Distribuição geográfica e habitat

A espécie está restrita ao norte da ilha de Sumatra, com a maioria dos indivíduos concentrados nas províncias de Aceh e Sumatra do Norte. Estima-se que 90% da população viva no Ecossistema Leuser, uma vasta área de florestas tropicais, rios e pântanos que cobre mais de 2,6 milhões de hectares. Das nove populações conhecidas de orangotangos-de-Sumatra, apenas sete têm perspectivas de viabilidade a longo prazo, com ao menos 250 indivíduos em cada uma delas. Apenas três populações contam com mais de mil indivíduos, o que acentua a vulnerabilidade genética e ecológica da espécie. Além disso, cerca de 70 orangotangos, anteriormente confiscados do comércio ilegal ou mantidos como animais de estimação, estão sendo reintroduzidos com sucesso no Parque Nacional Bukit Tigapuluh, onde já começaram a se reproduzir. Apesar de preferirem altitudes entre 200 e 400 metros, esses primatas podem ser encontrados em regiões até 1.500 metros acima do nível do mar. Habitam florestas primárias de planície, montanha e áreas de turfeira, sendo altamente sensíveis à degradação ambiental.

Ameaças à sobrevivência

Classificado como “Criticamente Ameaçado” pela IUCN, o orangotango-de-Sumatra enfrenta múltiplas ameaças. O desmatamento é a principal delas, impulsionado pela expansão de plantações de óleo de palma, extração de madeira e desenvolvimento urbano. Entre 1985 e 2020, Sumatra perdeu mais de 60% de sua floresta primária. A conversão de florestas em monoculturas isola os grupos, reduz a disponibilidade de alimentos e eleva a mortalidade por fome.

A caça ilegal também é comum. Filhotes são capturados para o comércio de animais de estimação, o que geralmente envolve o assassinato das mães. As mudanças climáticas, por sua vez, afetam os padrões de frutificação e aumentam a ocorrência de incêndios, agravando o estresse ecológico. Conflitos com humanos, como ataques a plantações, geram represálias violentas. Estima-se que a população da espécie possa sofrer um declínio de até 81% entre 1985 e 2060, caso não haja mudanças substanciais nas políticas de conservação.

Além das ameaças causadas pelas atividades humanas, os orangotangos-de-Sumatra enfrentam riscos naturais de predadores como o tigre-de-sumatra (Panthera tigris sumatrae) e o leopardo-nebuloso (Neofelis diardi), embora esses ataques sejam relativamente raros. No entanto, com o aumento da fragmentação florestal, o encontro com predadores pode se tornar mais frequente, principalmente para filhotes vulneráveis.

Esforços de conservação

Diversas ações estão em curso para evitar a extinção do orangotango-de-Sumatra. A espécie está listada no Apêndice I da CITES e é protegida por legislação nacional na Indonésia, que proíbe sua captura, transporte ou comércio. Áreas como o Parque Nacional Gunung Leuser e a Reserva dos Pântanos de Singkil oferecem refúgio relativamente seguro para parte da população, embora a maior parte dos indivíduos viva fora de áreas formalmente protegidas.

O Programa de Conservação do Orangotango de Sumatra (SOCP) desempenha papel central nesses esforços. Desde sua criação, resgatou mais de 500 indivíduos de situações de risco, como o comércio ilegal e o isolamento causado pela destruição de florestas. Animais saudáveis são reabilitados e reintroduzidos na natureza, principalmente em duas áreas: o Parque Nacional Bukit Tigapuluh e a Reserva de Jantho. Muitos desses orangotangos resgatados já se reproduziram na natureza, um sinal positivo de viabilidade.

Além do resgate e reabilitação, o SOCP trabalha com educação ambiental, monitoramento das populações e combate ao tráfico de fauna. Iniciativas de ecoturismo sustentável também têm contribuído para gerar renda local e conscientização sobre a importância da conservação.

A situação do orangotango-de-Sumatra exige atenção e ações urgentes. Como símbolo da rica biodiversidade do Sudeste Asiático, ele representa não apenas uma espécie em risco, mas todo um ecossistema sob ameaça. A sobrevivência desse primata inteligente e sociável depende de políticas ambientais rigorosas, engajamento comunitário, pressão internacional e respeito à vida silvestre.

Fontes: Animalia.bio, IUCN Red List, WWF, Animal Diversity Web, New England Primate Conservancy, Palm Oil detectives, SOCP

Fotos: Orangotango-de-Sumatra_by  franegan.jpg  e segunda foto:_by mandym88 e terceira foto: _by R. N. V. KRISHNA DEEPAK e quarta foto:_by Craig Jones.webp