O chimpanzé oriental (Pan
troglodytes schweinfurthii) também conhecido como
chimpanzé-do-leste-africano, é uma das quatro subespécies do chimpanzé-comum.
Encontrado em países como República Centro-Africana, República Democrática do
Congo, Uganda, Ruanda, Burundi, Sudão do Sul, Tanzânia e Zâmbia, é considerado
o mais abundante e amplamente distribuído entre os chimpanzés. Apesar disso,
está classificado como "Em Perigo" pela Lista Vermelha da IUCN,
principalmente devido à caça ilegal e à destruição de seu habitat.
Características físicas e hábitat
O chimpanzé oriental é o
menor entre os chimpanzés comuns. Machos pesam cerca de 40 kg e fêmeas,
aproximadamente 30 kg, com altura variando entre 1,1 e 1,7 metros. Sua pelagem
é escura e densa, com exceção de regiões como o rosto e as mãos. Os filhotes
nascem com um tufo claro na cauda, que escurece com o tempo. Vivem em uma ampla
variedade de habitats, desde florestas tropicais densas até savanas e florestas
secas.
A distribuição geográfica inclui o
sudeste da República Centro-Africana, o norte da RDC, e países do leste
africano como Uganda e Tanzânia. Nessas regiões, populações como as do Parque
Nacional de Gombe, onde Jane Goodall realizou estudos pioneiros, são algumas
das mais estudadas.
Dieta e papel ecológico
Onívoros e adaptáveis, os chimpanzés
orientais consomem uma dieta variada composta por frutas, folhas, seiva,
insetos, ovos e pequenos vertebrados, incluindo outros primatas. Sua capacidade
de consumir diferentes tipos de alimentos os torna resilientes frente a
variações sazonais de oferta alimentar.
A espécie também tem papel
importante na regeneração florestal, dispersando sementes por longas
distâncias. A movimentação em grupos numerosos contribui para a abertura de
clareiras na mata, favorecendo o crescimento de vegetação secundária.
Predadores como leões e leopardos, por sua vez, regulam suas populações,
evidenciando o papel dos chimpanzés em redes tróficas complexas.
Comportamento social e cultural
Os chimpanzés orientais vivem em
bandos com até 150 indivíduos, organizados em subgrupos temporários que se
reconfiguram ao longo do tempo. Machos formam hierarquias competitivas e buscam
posição dominante, enquanto fêmeas mantêm estruturas sociais mais pacíficas e
centradas na alimentação e no cuidado com os filhotes.
São animais diurnos, dividindo o
tempo entre a busca por alimento, o descanso e interações sociais. À noite,
constroem ninhos em árvores com folhas e galhos, variando sua estrutura
conforme a finalidade — abrigo temporário ou dormitório noturno.
Entre os aspectos mais notáveis de
sua vida social está o uso de ferramentas. Em diversas regiões, chimpanzés usam
galhos para extrair insetos de ninhos ou quebrar frutos. Essas práticas são
transmitidas por observação e ensino entre gerações, configurando elementos
culturais distintos entre comunidades.
Um exemplo singular de comportamento
cultural é o gesto de “aperto de mãos sobre a cabeça” durante a limpeza mútua,
registrado apenas em algumas populações. Tais variações reforçam a ideia de que
chimpanzés possuem culturas locais enraizadas, com tradições que perduram por
séculos.
Comunicação e conflito
A comunicação entre chimpanzés
inclui vocalizações, gestos, expressões faciais e sinais olfativos. Desenvolvem
“dialetos” regionais, usados para expressar alerta, intimidação, prazer ou
submissão. Gritos, grunhidos e uivos têm significados distintos dependendo do
contexto.
Um dos eventos mais estudados da
história da primatologia foi a chamada "guerra de Gombe", conflito
entre dois grupos que durou quatro anos e revelou níveis de planejamento e
agressividade que remetem a comportamentos humanos. O episódio chamou a atenção
da comunidade científica para a complexidade social e emocional desses
primatas.
Ameaças e desafios
O avanço da infraestrutura em
países africanos intensificou o desmatamento e a fragmentação
florestal, além de elevar os riscos de contato com humanos e de transmissão
de doenças. A caça ilegal, tanto para consumo local quanto para o
comércio internacional de carne e animais de estimação, contribui para o
declínio da população.
Filhotes capturados geralmente
resultam da morte de suas mães, e poucos sobrevivem ao transporte. Mesmo quando
criados por humanos, ao atingir a idade adulta tornam-se incontroláveis,
levando à morte ou reclusão. Essas práticas refletem a urgência de combater o tráfico
de animais silvestres.
O ecoturismo, apesar de gerar
renda para comunidades e promover o interesse pela conservação, também traz
riscos de contaminação ambiental e sanitária. Vírus e parasitas humanos, como o
rinovírus e o Cryptosporidium, já foram identificados em chimpanzés expostos a
visitantes.
Iniciativas de conservação
O chimpanzé oriental é
protegido pelo Apêndice I da CITES, o que proíbe seu comércio internacional.
Parques nacionais como Mahale (Tanzânia) e Nyungwe (Ruanda) desempenham papel fundamental
em sua conservação, servindo como refúgio diante das pressões externas. No
entanto, cerca de 75% dos chimpanzés na Tanzânia vivem fora dessas áreas
protegidas, onde são mais vulneráveis à caça e à degradação ambiental.
O Plano de Ação da IUCN busca mapear
e proteger habitats estratégicos para a sobrevivência da espécie. Iniciativas
como o banco de dados APES contribuem com informações valiosas para
pesquisadores e tomadores de decisão. Projetos locais e internacionais,
liderados por ONGs e governos, visam também à criação de corredores
ecológicos entre fragmentos de floresta e ao envolvimento das comunidades
locais na conservação, promovendo educação ambiental e alternativas
econômicas sustentáveis.
O chimpanzé oriental é uma
espécie extraordinária que reúne características cognitivas complexas,
comportamento social sofisticado e forte papel ecológico. Sua conservação exige
ações coordenadas entre governos, ONGs e populações locais, com ênfase na
proteção dos habitats e no combate à caça e ao tráfico.
Fontes: New England Primate Conservancy, IUCN, Inaturalist, BioOne Digital Library, University of Amsterdam, Plos One, Pan Africa News, Karger, ProQuest, Journal of Human Evolution
Fotos: Chimpanzé-oriental_by T.Furuichi.png e segunda foto:_by Ted Floyd.jpg e terceira foto: _by Stan Rullman.jpg e quarta foto:_by Royle Safaris.jpg