O canguru-arborícola-de-Matschie
(Dendrolagus matschiei), também conhecido como canguru-arborícola-de-Huon,
é uma das espécies mais raras e ameaçadas de marsupiais do planeta. Endêmico
da Península de Huon, em Papua-Nova Guiné, este canguru adaptado à vida nas
árvores é símbolo da biodiversidade singular da região. A destruição contínua
de seu habitat, combinada à caça e às mudanças climáticas, compromete sua
sobrevivência. Com menos de 2.500 indivíduos adultos na natureza, sua
preservação depende de ações coordenadas entre governos, comunidades locais e
organizações de conservação.
Morfologia
e comportamento
O canguru-arborícola-de-Matschie é um marsupial de médio porte, medindo
entre 55 e 81 cm de comprimento corporal, com uma cauda igualmente longa que
funciona como contrapeso e instrumento de equilíbrio durante seus saltos.
Possui pelagem espessa, de coloração marrom-avermelhada com membros dourados e
barriga pálida. Seu rosto apresenta tons que variam do branco ao creme, com
orelhas pequenas e arredondadas. Os membros anteriores musculosos, semelhantes
em proporção aos posteriores, dotados de garras afiadas e almofadas aderentes
nas patas, são adaptados para a locomoção arbórea.
Predominantemente solitários, os cangurus-arborícolas
de Matschie passam a maior parte do tempo em árvores, onde se deslocam com
movimentos lentos e cuidadosos. São capazes de saltar até 9 metros entre galhos
e descer sempre de costas dos troncos. Sua atividade concentra-se nas primeiras
horas da manhã e ao anoitecer, e estima-se que passem cerca de 60% do tempo
dormindo ou em repouso.
Distribuição e ecologia
A espécie é restrita à Península de Huon e à ilha vizinha de Umboi, onde
possivelmente foi introduzida por humanos. Vive em florestas tropicais
montanhosas, entre 1.000 e 3.000 metros de altitude, com registros esparsos em
áreas de menor elevação com vegetação ainda preservada. Os machos possuem
territórios maiores (cerca de 11 acres), enquanto as fêmeas ocupam áreas
menores e sobrepostas (cerca de 4,5 acres).
Alimentação
e reprodução
Folívoro, o canguru-arborícola de Matschie consome principalmente
folhas, mas também ingere frutas, flores, cascas e, ocasionalmente, vegetação
de jardins, o que pode gerar conflitos com humanos. Seu metabolismo lento é
adaptado à digestão de material fibroso, sendo importante dispersor de sementes.
A espécie não possui uma estação reprodutiva fixa. A gestação dura cerca de 44 dias, e o filhote permanece na bolsa materna por até 10 meses, sendo dependente da mãe por até dois anos. Em cativeiro, a expectativa de vida chega a 20 anos, enquanto na natureza acredita-se que seja de ao menos 14 anos.
Ameaças
à sobrevivência
A espécie está classificada como “Em Perigo” na Lista Vermelha da IUCN desde
1996. A destruição do habitat é sua principal ameaça. A conversão florestal
para plantações de óleo de palma, extração de madeira e agricultura
(como o cultivo de café) fragmenta e reduz drasticamente as áreas
disponíveis. A caça, tradicionalmente praticada para alimentação, aumentou com
o avanço de estradas em áreas antes remotas. Além disso, as mudanças climáticas
estão alterando padrões de temperatura e precipitação, reduzindo a adequação
das áreas montanhosas onde vivem.
Iniciativas
de conservação
Diversos programas nacionais e internacionais vêm atuando para evitar a
extinção da espécie. A Área de Conservação YUS, criada em 2009, protege
760 km² de habitat na Península de Huon. Nomeada a partir dos rios Yopno, Uruwa
e Som, a área é gerida com participação das comunidades locais, como a
vila de Yawan, que destinou 400 km² à preservação dos Matschie.
A Tenkile
Conservation Alliance e o Programa de
Conservação do Canguru-Arborícola, iniciado em Papua-Nova Guiné e
atualmente sediado no Zoológico
Woodland Park (Seattle, EUA), desenvolvem ações integradas que incluem
pesquisa científica, educação ambiental, apoio à saúde comunitária e proteção
territorial. O programa também promove o desenvolvimento sustentável em aldeias
locais, criando alternativas à exploração predatória do meio ambiente.
No âmbito internacional, a San Diego Zoo Wildlife Alliance
apoia a conservação in situ por meio de financiamento de pesquisas e
assistência técnica. Em paralelo, zoológicos da América do Norte mantêm um
programa de reprodução em cativeiro iniciado em 1991, com objetivo de manter
diversidade genética e estudar o comportamento da espécie. Em 1997, a população
em cativeiro chegou a 90 indivíduos, mas diminuiu nas décadas seguintes. A
comparação da diversidade genética dessas populações com as selvagens permite
avaliar a eficácia do programa e guiar futuras reintroduções.
O canguru-arborícola-de-Matschie representa não apenas uma das espécies mais carismáticas e ameaçadas da fauna de Papua-Nova Guiné, mas também um símbolo dos desafios globais da conservação em regiões de alta biodiversidade. A sobrevivência da espécie está diretamente ligada à preservação de seu habitat, à atuação conjunta com comunidades indígenas e à continuidade dos programas de conservação e reprodução.
Fontes: Palm Oil Detectives, IUCN Red List, iNaturalist , San Diego Zoo Wildlife Alliance , Plos One, Revelator, Cheyenee Mountain Zoo, Animal Diversity, Animalia.bio, Mammal Diversity
Fotos:Canguru-arborícola-de-Matschie_Primeira e segunda fotos_by Klaus Rudloff e terceira foto_by Tanya Dewey e quarta foto_Palm Oil Detectives