Desafios e iniciativas de conservação para salvar o huemul-da-Patagônia.




                     
 
O huemul-da-Patagônia (Hippocamelus bisulcus), também conhecido como cervo andino do sul, é uma espécie de cervídeo nativa das montanhas da Argentina e do Chile. Com um corpo robusto e pernas curtas, o huemul é um dos cervídeos mais meridionais do mundo e ocupa um lugar especial na identidade nacional chilena, estando presente no brasão de armas do país. Esta espécie, no entanto, está em perigo de extinção, enfrentando desafios que incluem a perda de habitat, predação e fragmentação populacional.

Distribuição e habitat

O huemul é endêmico do sul da Cordilheira dos Andes, vivendo em regiões montanhosas que variam de altitudes de 900 a 1.700 metros acima do nível do mar. Embora seu habitat natural varie desde vales periglaciais ao nível do mar até florestas densas nas encostas andinas, as subpopulações remanescentes estão severamente fragmentadas e confinadas a áreas limitadas. A perda de habitat devido à conversão de florestas nativas em terras agrícolas e à ocupação humana é um dos principais fatores que contribuem para o declínio dessa espécie.

Características físicas e reprodutivas

O huemul-da-Patagônia apresenta um corpo robusto com comprimento variando entre 140 e 175 cm, altura no ombro entre 80 e 90 cm, e uma cauda curta de aproximadamente 13 cm. O peso dos adultos oscila entre 70 e 100 kg. Sua pelagem é geralmente marrom escura, com partes inferiores mais claras e uma cauda branca na parte inferior. As pernas curtas acentuam o dorso corcunda, conferindo uma aparência distintiva ao animal. Os machos possuem uma faixa escura na ponta do nariz que se divide entre os olhos, formando sobrancelhas escuras; essa característica também pode estar presente nas fêmeas. Apenas os machos desenvolvem chifres, geralmente com um único ramo. A temporada de reprodução ocorre entre fevereiro e maio, com a maioria dos filhotes nascendo entre novembro e dezembro. Diferente de muitos cervídeos, os filhotes de huemul não possuem manchas e apresentam uma coloração marrom escura uniforme.

Estado de conservação

O huemul está listado como “Em Perigo” na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), com uma população estimada entre 1.000 e 1.500 indivíduos. Essa situação é resultado de um declínio populacional de 99% desde a chegada dos colonizadores europeus na América do Sul, que intensificaram a caça e a destruição de habitats. Além disso, o isolamento das subpopulações restantes aumenta o risco de endogamia e extinções locais. Do número total provável de huemuls, cerca de 1.000 se encontram no Chile e 500 na Argentina.

Ameaças e predadores

A espécie enfrenta várias ameaças, incluindo a predação por pumas (Puma concolor), raposas (Pseudalopex culpaeus) e cães domésticos, que são uma das principais causas de mortalidade em algumas subpopulações. Outros fatores incluem a competição com espécies exóticas invasoras, como o cervo-vermelho, e a transmissão de doenças por gado doméstico. Além disso, a caça furtiva e a perda das rotas migratórias tradicionais contribuíram para a severa fragmentação das populações de huemul.



Esforços de conservação

A conservação do huemul envolve uma estreita cooperação entre Argentina e Chile, formalizada por meio de um Memorando de Entendimento sob a Convenção sobre Espécies Migratórias, assinado em 2010. Este acordo busca melhorar o estado de conservação da espécie, que migra através da região fronteiriça desses países. Iniciativas como a implementação de armadilhas fotográficas em áreas protegidas permitiram monitorar as populações remanescentes e identificar as principais ameaças à sua sobrevivência.

Projetos bilaterais, como o desenvolvido na bacia do Rio Puelo, no norte da Patagônia, têm sido fundamentais para o monitoramento da população de huemul e a atualização de seu mapa de distribuição. No lado chileno, a iniciativa, financiada pela National Geographic Society, foi conduzida pela Tompkins Conservation Chile em parceria com a ONG Puelo Patagonia. Já no lado argentino, o projeto está sendo realizado e patrocinado pela Administração do Parque Nacional da Argentina, com o suporte adicional da fazenda Lago Esperanza.

O projeto também envolveu entrevistas com comunidades locais e a cooperação entre ONGs e governos dos dois países. Essas ações são essenciais para enfrentar o problema da falta de informação sobre o status de conservação da espécie.

O papel das ONGs, governos e comunidades locais é essencial para a conservação do huemul. A conscientização sobre as ameaças enfrentadas pela espécie e o trabalho conjunto para proteger seus habitats são fundamentais para evitar a extinção. Além disso, a recuperação de habitats históricos, como sugerido por especialistas, pode aumentar as chances de sobrevivência do huemul, reintroduzindo-o em áreas de alta qualidade nutricional.

Projeto de criação em cativeiro para reintrodução

Na Argentina, há um esforço contínuo para criar a espécie ex-situ com o objetivo de reintroduzi-los em seus habitats naturais. Em novembro de 2022, ocorreu o nascimento do primeiro huemul na "Estação de Reabilitação e Reprodução Shoonem", localizada na Província de Chubut e administrada pela Fundação Shoonem. Subsequentemente, um segundo filhote nasceu no início de dezembro de 2023, seguido por um terceiro em 15 de janeiro de 2024, e outra fêmea já se encontra grávida. A estação tem como principal objetivo reabilitar os cervos em condições de saúde debilitada, além de formar grupos de animais que possam ser reintroduzidos em ambientes com alta qualidade nutricional, que historicamente foram ocupados por seus antepassados.

O huemul-da-Patagônia, com sua presença simbólica na cultura chilena e seu papel ecológico como grande herbívoro, representa uma prioridade para a conservação da biodiversidade na América do Sul. A colaboração internacional, o envolvimento das comunidades locais e a implementação de estratégias de conservação baseadas em evidências científicas são essenciais para garantir a sobrevivência desta espécie emblemática.

Fontes: Diario sustentable, CMS, Más Neuquen, Biodiversity4all, Ultimateungulate, Oryx, SIB, Earth.com, Ultimate ungulate, Ecotícias, Wild Deer, Extinción animal , Fundación Temaikén

Fotos: Huemul-da-Patagônia_ by Francisco Rodrigues e segunda foto: Huemul-da Patagônia_by Simón Sandoval