Floresta amazônica está perdendo sua
resiliência, estando próximo o ponto de não retorno
Neste começo de ano os dados sobre desmatamento
na Amazônia só vieram confirmar que a destruição da floresta
continua de forma ininterrupta e aumenta ano após anos. Segundo o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais) os três primeiros meses do ano, bateram recordes de devastação, com
perdas de 941,34 km2 de floresta.
Estudo recentemente publicado na
revista científica Nature
Climate Change em março de 2022, demonstra que está havendo uma perda
pronunciada da resiliência da floresta amazônica desde os anos 2000. Os
pesquisadores, no estudo, afirmam que a Amazônia está se aproximando de
um ponto de não retorno, uma virada irreversível, onde 50% da floresta
se aproxima de se tornar um grande cerrado (savana
brasileira), devido as ações humanas. Segundo o estudo essa transição mudaria
completamente padrões meteorológicos tanto regionais, como nacionais;
aceleraria as mudanças climáticas, além de trazer um grande prejuízo à biodiversidade
com a extinção de espécies conhecidas e desconhecidas pela ciência. Não só a fauna e a flora são destruídas,
mas também as comunidades indígenas, muitas das quais consideradas como povos
isolados, que não tiveram contato com o mundo exterior.
No arco do desmatamento a destruição
da floresta ameaça a sobrevivência de espécies recém-descobertas
As perdas de florestas são mais
acentuadas na região conhecida como “arco do
desmatamento” onde se localiza a mais alta intensidade de devastação. Esta
área se estende do sudeste do Estado do Maranhão ao sudeste do Acre, passando
pelo norte do Tocantins, sul do Pará, norte de Mato Grosso, Rondônia e o sul do
Amazonas. É nessa região onde ocorreram as principais descobertas de novas
espécies nos últimos anos. Entre essas destacam-se vários tipos de macacos
que são afetados diretamente pelo desaparecimento das árvores das quais
dependem para sua sobrevivência. Nos últimos anos, no arco do desmatamento,
entre alguns desses novos primatas estão: Mico rondoni, Mico
schneideri, Plecturocebus grovesi, Plecturocebus
parecis, Pithecia vanzolinii e Plecturocebus
grovesi. Além deles, outros mamíferos, principalmente marsupiais, roedores
e um boto (Inia
araguaiaensis) ; répteis de todos os tipos; aves em grande número, sendo
que de uma única vez foram descobertas 15
novas espécies, a maioria (12) endêmicas do Brasil e todas no arco
do desmatamento.
As novas espécies descobertas, a
maioria já estão em perigo de extinção, pois se encontram em área que vem sendo
destruída com vertiginosa velocidade. Essas descobertas, no entanto, escondem
um dado triste, pois revelam que muitas outras espécies, provavelmente, devem
ter sido extintas antes que fossem descobertas.
Territórios indígenas são a principal barreira contra o desmatamento
Importante a ser destacado é que,
segundo dados do Mapbiomas – com
informações obtidas por satélite, são os Territórios Indígenas que estão
entre as principais barreiras contra o avanço do desmatamento no Brasil.
Nos últimos 30 anos, as terras indígenas perderam apenas 1% de sua área
de vegetação nativa, enquanto nas áreas privadas a perda foi de 20,6%. E
ainda que a devastação entre 1990 e 2020 foi de 69 milhões de hectares, sendo
que somente 1,1 milhão ocorreu nas terras indígenas. Outros 47,2 milhões de
hectares foram desmatados em áreas privadas.
As terras indígenas ocupam
13,9% do território brasileiro que correspondem a 19,5% da vegetação nativa no
Brasil em 2020. E os cientistas avaliam que, não há dúvida de que são as reservas
indígenas que estão retardando a destruição da floresta amazônica.
No entanto, há um movimento crescente de madeireiros, mineradores e
agricultores para reduzir as terras indígenas, ou liberá-las para exploração
econômica.
O desmatamento ocorre com base numa lógica perversa
O desmatamento na área do arco
do desmatamento segue uma lógica racional perversa. Em primeiro
lugar derrubam-se as árvores que são comercializadas, sendo que as mais
nobres vão para exportação, as demais são exterminadas através de queimadas.
Em seguida entra o gado, que é utilizado para legalização das novas terras, sob
o argumento de exploração econômica existente.
Após essa consolidação da posse, com a savanização da área
formando novos espaços de cerrado, a região desmatada está pronta
para receber as culturas da soja, algodão ou milho.
Inclusive pesticidas são utilizados
para aceleram o desmatamento da floresta
A perversidade não tem limites, porém.
Uma prática recorrente para acelerar o desmatamento de grandes áreas e
abrir espaço para a soja e o gado, é a de os fazendeiros estarem jogando
grandes quantidades de agrotóxicos de avião sobre a floresta
Amazônica. Os pesticidas além da destruição da flora, elimina os
animais que são envenenados matando-os de uma forma extremamente cruel.
Única alternativa para interromper a
destruição da floresta Amazônia é o desmatamento zero
A única solução para o problema da destruição
da maior floresta tropical do mundo, é se obter a curto prazo uma
política de desmatamento zero, para impedir a destruição da biodiversidade
conhecida e aquela ainda por descobrir, além de evitar que sejam
aniquilados os povos indígenas que enfrentam ameaças e ataques de todo tipo
para se afastarem do caminho de mineradores, madeireiros, fazendeiros e
aventureiros em geral.
Não há justificativa para continuar a destruição
da floresta amazônica. Além de afetar a biodiversidade e os recursos
hídricos tem como resultado o desequilíbrio climático global. O desmatamento
não ajuda a competitividade agropecuária, pois tem aumentado as
exigências da população e de governos, em todo o mundo, para que os produtos
tenham origem com base na sustentabilidade ambiental. Desmatamento zero não
é opção, é a alternativa viável para salvar um dos maiores patrimônios da
humanidade, se for destruído não haverá retorno, a destruição é
irreversível.