No arco do desmatamento a destruição da floresta amazônica ocorre em ritmo acelerado.


                                                                                                                       
 Segue em grande velocidade o desaparecimento das florestas primárias tropicais úmidas em todo o mundo, segundo uma análise publicada na plataforma de monitoramento de florestas Global Forest Watch em 20 de Abril de 2022. Do total registrado, em 2021, de áreas desmatadas no planeta, 40% ocorreu no Brasil, foram 15,5 mil km2 perdidos no ano passado.  O Brasil segue disparado na frente de outros países como o maior desmatador do planeta.

Floresta amazônica está perdendo sua resiliência, estando próximo o ponto de não retorno

Neste começo de ano os dados sobre desmatamento na Amazônia só vieram confirmar que a destruição da floresta continua de forma ininterrupta e aumenta ano após anos. Segundo o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) os três primeiros meses do ano, bateram recordes de devastação, com perdas de 941,34 km2 de floresta.

Estudo recentemente publicado na revista científica Nature Climate Change em março de 2022, demonstra que está havendo uma perda pronunciada da resiliência da floresta amazônica desde os anos 2000. Os pesquisadores, no estudo, afirmam que a Amazônia está se aproximando de um ponto de não retorno, uma virada irreversível, onde 50% da floresta se aproxima de se tornar um grande cerrado (savana brasileira), devido as ações humanas. Segundo o estudo essa transição mudaria completamente padrões meteorológicos tanto regionais, como nacionais; aceleraria as mudanças climáticas, além de trazer um grande prejuízo à biodiversidade com a extinção de espécies conhecidas e desconhecidas pela ciência.  Não só a fauna e a flora são destruídas, mas também as comunidades indígenas, muitas das quais consideradas como povos isolados, que não tiveram contato com o mundo exterior.

No arco do desmatamento a destruição da floresta ameaça a sobrevivência de espécies recém-descobertas

As perdas de florestas são mais acentuadas na região conhecida como “arco do desmatamento” onde se localiza a mais alta intensidade de devastação. Esta área se estende do sudeste do Estado do Maranhão ao sudeste do Acre, passando pelo norte do Tocantins, sul do Pará, norte de Mato Grosso, Rondônia e o sul do Amazonas. É nessa região onde ocorreram as principais descobertas de novas espécies nos últimos anos. Entre essas destacam-se vários tipos de macacos que são afetados diretamente pelo desaparecimento das árvores das quais dependem para sua sobrevivência. Nos últimos anos, no arco do desmatamento, entre alguns desses novos primatas estão: Mico rondoni, Mico schneideri, Plecturocebus grovesi, Plecturocebus parecis, Pithecia vanzolinii e Plecturocebus grovesi. Além deles, outros mamíferos, principalmente marsupiais, roedores e um boto (Inia araguaiaensis) ; répteis de todos os tipos; aves em grande número, sendo que de uma única vez foram descobertas 15 novas espécies, a maioria (12) endêmicas do Brasil e todas no arco do desmatamento.

As novas espécies descobertas, a maioria já estão em perigo de extinção, pois se encontram em área que vem sendo destruída com vertiginosa velocidade. Essas descobertas, no entanto, escondem um dado triste, pois revelam que muitas outras espécies, provavelmente, devem ter sido extintas antes que fossem descobertas.


Territórios indígenas são a principal barreira contra o desmatamento

Importante a ser destacado é que, segundo dados do Mapbiomas – com informações obtidas por satélite, são os Territórios Indígenas que estão entre as principais barreiras contra o avanço do desmatamento no Brasil. Nos últimos 30 anos, as terras indígenas perderam apenas 1% de sua área de vegetação nativa, enquanto nas áreas privadas a perda foi de 20,6%. E ainda que a devastação entre 1990 e 2020 foi de 69 milhões de hectares, sendo que somente 1,1 milhão ocorreu nas terras indígenas. Outros 47,2 milhões de hectares foram desmatados em áreas privadas.

As terras indígenas ocupam 13,9% do território brasileiro que correspondem a 19,5% da vegetação nativa no Brasil em 2020. E os cientistas avaliam que, não há dúvida de que são as reservas indígenas que estão retardando a destruição da floresta amazônica. No entanto, há um movimento crescente de madeireiros, mineradores e agricultores para reduzir as terras indígenas, ou liberá-las para exploração econômica.

O desmatamento ocorre com base numa lógica perversa

O desmatamento na área do arco do desmatamento segue uma lógica racional perversa. Em primeiro lugar derrubam-se as árvores que são comercializadas, sendo que as mais nobres vão para exportação, as demais são exterminadas através de queimadas. Em seguida entra o gado, que é utilizado para legalização das novas terras, sob o argumento de exploração econômica existente.  Após essa consolidação da posse, com a savanização da área formando novos espaços de cerrado, a região desmatada está pronta para receber as culturas da soja, algodão ou milho.

Inclusive pesticidas são utilizados para aceleram o desmatamento da floresta

 A perversidade não tem limites, porém. Uma prática recorrente para acelerar o desmatamento de grandes áreas e abrir espaço para a soja e o gado, é a de os fazendeiros estarem jogando grandes quantidades de agrotóxicos de avião sobre a floresta Amazônica. Os pesticidas além da destruição da flora, elimina os animais que são envenenados matando-os de uma forma extremamente cruel.

Única alternativa para interromper a destruição da floresta Amazônia é o desmatamento zero

 A única solução para o problema da destruição da maior floresta tropical do mundo, é se obter a curto prazo uma política de desmatamento zero, para impedir a destruição da biodiversidade conhecida e aquela ainda por descobrir, além de evitar que sejam aniquilados os povos indígenas que enfrentam ameaças e ataques de todo tipo para se afastarem do caminho de mineradores, madeireiros, fazendeiros e aventureiros em geral. 

Não há justificativa para continuar a destruição da floresta amazônica. Além de afetar a biodiversidade e os recursos hídricos tem como resultado o desequilíbrio climático global. O desmatamento não ajuda a competitividade agropecuária, pois tem aumentado as exigências da população e de governos, em todo o mundo, para que os produtos tenham origem com base na sustentabilidade ambiental. Desmatamento zero não é opção, é a alternativa viável para salvar um dos maiores patrimônios da humanidade, se for destruído não haverá retorno, a destruição é irreversível. 


Como citar o artigo: DIAS, R. No arco do desmatamento a destruição da floresta amazônica ocorre em ritmo acelerado.Poliseres.Campinas/SP, p. 1-2, 28 maio 2023.