O boto-sem-barbatanas-do-Yangtzé (Neophocaena asiaeorientalis) é a única espécie de água doce conhecida de boto-sem-barbatanas no mundo, é endêmico da China, habitando principalmente o curso médio e inferior do rio Yangtzé e em lagos de conexão como Poyang e o lago Dongting. Eles tendem a ser encontrados em áreas de baías rasas, pântanos e estuários durante todo o ano. Essa espécie tem como característica principal não possuírem a barbatana dorsal. Em vez disso, tem uma crista estreita que percorre toda a extensão de suas costas e é coberta por “tubérculos” semelhantes a verrugas. Sem bico, podem atingir aproximadamente 2 metros de comprimento e pesar até 100 kg. As fêmeas adultas tendem a ser menores que os machos adultos.
Boto-sem-barbatana-do-Yangtzé
enfrente inúmeras ameaças devido à atividade humana
Esses
cetáceos enfrentam sérias ameaças devido à atividade humana, como tráfego de
navios, e despejo de poluentes, além da perda e fragmentação do habitat, causadas
principalmente por projetos de melhoria de vias navegáveis e construção de
barragens. Além disso, a extração de areia, é uma
atividade que teve um impacto devastador na população dos botos. A poluição
sonora subaquática, causada principalmente pelo tráfego de embarcações, é
outra ameaça enfrentada pelos animais, já que interfere na ecolocalização,
afetando sua comunicação e predação.
Recentemente
o governo chinês adotou várias medidas para proteger a espécie
O
governo chinês tomou medidas significativas para proteger a espécie, como a
introdução de uma moratória de pesca de dez anos em todas as vias naturais ao
longo do rio Yangtzé em janeiro de 2021. Paralelamente, o governo chinês elevou
a proteção dos botos do Yangtzé em fevereiro desse mesmo ano, para espécies
protegidas de primeiro nível nacional – o nível mais alto de proteção para
animais selvagens do país. Nove reservas naturais nacionais e locais também
foram estabelecidas ao longo do rio para a conservação de golfinhos de água
doce. Recentemente, uma rede composta por
agências governamentais e instituições de pesquisa foi organizada para trocar
informações, treinar equipes de conservação, organizar pesquisas e educar o
público sobre a conservação do boto-sem-barbatanas-do-Yangtzé.
As
principais medidas de proteção adotadas para a conservação desta espécie
incluem conservação in situ (proteção em seus habitats originais) e conservação
ex situ (fora de seu habitat natural). Apesar dos esforços, os impactos
negativos das atividades humanas persistem, e a manutenção de populações ex
situ bem administradas torna-se um componente essencial para a conservação do
boto do Yangtzé. Em colaboração com o governo chinês, organizações
conservacionistas como o WWF
e a IUCN estão trabalhando em diversas frentes para
salvar os botos do Yangtzé.
Estabelecimento
de novas populações reprodutoras do boto do Yangtzé contribuem para melhorar a
sua conservação
Para
melhorar a conservação da espécie, foram estabelecidas populações reprodutoras
ex situ, como na reserva "semi-natural" Tian'e-Zhou em Shishou, na
província de Hubei. Outra possibilidade é estabelecer uma população de botos do
Yangtzé no enorme reservatório a montante da barragem das Três Gargantas. Além
disso, uma rede composta por agências governamentais e instituições de pesquisa
foi recentemente organizada para trocar informações, treinar equipes de
conservação, organizar pesquisas e educar o público sobre a conservação do boto-sem-barbatana-do-Yangtzé.
Os
programas de reprodução artificial adotados para proteger a espécie são
importantes, pois a população de botos do Yangtzé sofreu um declínio acentuado
nas últimas três décadas, atribuído principalmente à atividade humana. A
população caiu de uma estimativa de 2.500 em 1991 para 1.012 em 2017, incluindo
445 no fluxo principal do rio Yangtzé, 457 no Lago Poyang e 110 no Lago
Dongting. O número de botos no lago Poyang e na seção Jiujiang do rio Yangtzé é
responsável por quase metade da população total na bacia do rio Yangtzé. De
acordo com os últimos resultados de monitoramento, o número de botos do Yangtzé
observados no lago Poyang aumentou de cerca de 457 em 2017 para mais de 700.
Intenso
desenvolvimento econômico em torno do rio Yangtzé tem prejudicado a recuperação
do boto
Embora
os esforços de conservação estejam em andamento, enfrentar o declínio da
população de botos do Yangtzé é uma tarefa árdua devido em grande medida pelas
próprias dimensões do rio Yangtzé e a sua importância econômica e social para o
país. É o rio mais longo que atravessa apenas um país e o terceiro mais longo
do mundo, conhecido como o “rio da vida”, representa 40% da água doce e irriga
as regiões mais férteis da China. Além disso flui através de uma grande
variedade de ecossistemas e é habitat de vários animais ameaçadas de extinção.
Por outro lado, desempenha um papel fundamental na economia. Em seu entorno
estão localizadas importantes áreas industriais, metalúrgicas, energéticas,
químicas, automotivas, e de alta tecnologia, sendo artéria fundamental para o
transporte de mercadorias que trafegam entre o interior e o litoral. Por esse
motivo, é uma das mais movimentadas vias fluviais do mundo.
O
resultado desse dinamismo econômico em torno do rio tem sido o aumento da
poluição industrial, agrícola, o assoreamento e a perda de zonas húmidas que
são importantes ecossistemas de manutenção de biodiversidade. O governo tem
adotado medidas, protegendo algumas partes do rio com reservas naturais.
No entanto, são ações consideradas ainda insuficientes para garantir a
sobrevivência do boto do Yangtzé, pois a diminuição da população está se
acelerando devido à falta de alimentos, poluição e movimentação de navios, e a
espécie tem uma grande chance (86,06%) de se extinguir nos próximos 100 anos.
Outra razão pela qual eles estão caindo em número é devido ao aumento da poluição
sonora subaquática.
A
degradação do rio Yangtzé, como decorrência da atividade econômica, afeta os
botos
A
sobrevivência dessa espécie depende da adoção de diversas medidas,
destacando-se a translocação de espécimes para áreas mais seguras, como lagos,
o que já vem sendo feito com acentuada cautela para avaliar seus efeitos a
médio e longo prazo na vida do animal. Outras ações consideradas importantes
são o aumento da consciência pública e a colaboração entre agências
governamentais, ONGs e comunidades locais. A educação ambiental desempenha
papel crucial na mudança de atitudes em relação à preservação da vida selvagem
e na promoção de comportamentos sustentáveis. Além disso, é fundamental
fortalecer os programas de reprodução artificial para impedir a extinção total
da espécie, na hipótese de que as condições de habitabilidade no rio Yangtzé
não melhorem o suficiente para manter uma população estável de botos.
Fontes: News
CGTN, Encyclopedia
of Marine Mammals, Conexão
Planeta, Unesco,
AsiaOne,
Acta
Hydrobiologica Sinica,
Ministry of Ecology and Environment of the People’s Republic of China, Acta
Ecologica Sinica
Fotos: Boto-sem-barbatanas-do-Yangtzé_Metro_UK e segunda foto: Botos-sem-barbatanas-do-Yangtzé_Gao Baoyan