A luta pela sobrevivência da saíra-sapucaia em meio à expansão imobiliária no litoral brasileiro


 A saíra-sapucaia (Tangara peruviana ou Stilpnia peruviana) é uma ave endêmica brasileira, característica da Mata Atlântica. Popularmente conhecida como saíra-peruviana, saíguaçu, saíra-de-dorso-preto e saí-das-restingas, essa espécie enfrenta sérias ameaças à sua sobrevivência, estando classificada como "Vulnerável" na Lista Vermelha da IUCN.

Expansão de condomínios de luxo no litoral degradam o habitat natural da saíra-sapucaia

A principal causa de sua vulnerabilidade é a destruição da Mata Atlântica, especialmente nas regiões litorâneas, habitat natural dessas aves até 200 metros de altitude. O avanço dos condomínios de luxo no litoral é um dos principais responsáveis pela degradação do ambiente, o que diminui a área disponível para a saíra-sapucaia.

Dorso preto é a principal diferença entre a saíra-sapucaia e a saíra-preciosa que são bastante semelhantes

Medindo cerca de 15 cm, a saíra-sapucaia tem uma aparência bastante distinta, especialmente entre os machos. Possuem cabeça, pescoço, crisso e dorso marrons claro, uropígio e coberteiras da asa creme, garganta, peito e barriga verde-água, remiges e retrizes azul claro, bico preto e uma faixa preta que vai do olho ao bico e pernas cinzas. A coloração preta no dorso é uma das características que a diferencia da saíra-preciosa (Stilpnia preciosa). Já as fêmeas são menos coloridas, com a cabeça marrom claro e o resto do corpo em tons esverdeados.

Espécie prefere matas mais abertas, capoeiras, restingas e áreas onde há ação humana

A saíra-sapucaia se alimenta principalmente de frutos, mas também inclui insetos e aranhas em sua dieta. É comum encontrá-las nas restingas, matas primárias e secundárias da Mata Atlântica, assim como em áreas antrópicas, onde há ação humana. Não adentra muito em matas altas, preferindo capoeiras e matas mais abertas. Essas aves podem ser vistas vivendo em casais ou em bandos mistos.

Nome científico da espécie, colocando-a como nativa do Peru, deve-se a um erro cometido quando de sua descrição

A saíra-sapucaia tem uma distribuição geográfica restrita ao Brasil, ocorrendo nos estados do sul da Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e nordeste do Rio Grande do Sul. Curiosamente, o nome científico "peruviana" foi atribuído devido a um erro cometido quando foi descrita pela primeira vez, ao se acreditar erroneamente que era nativa do Peru.

Saíra-sapucaia aproxima-se de ambientes urbanos como parques, frequentando comedouros artificiais

Estima-se que a população da saíra-sapucaia esteja entre 2.500 e 10.000 indivíduos maduros, fragmentada e em provável declínio rápido devido à perda extensiva de habitat. A espécie possui uma população residente que habita o litoral de São Paulo até Santa Catarina, e parte dessa população migra durante o inverno, alcançando o litoral norte de São Paulo, Rio de Janeiro e Espirito Santo. Há registro de sua presença em parques urbanos nas cidades de Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro. Costuma frequentar comedouros artificiais com frutas.

Para maior proteção da espécie são necessárias mais pesquisas e práticas sustentáveis na ocupação do solo

Há necessidade de melhorar a compreensão da ecologia da espécie para o desenvolvimento de estratégias de conservação mais eficientes e para a sua preservação. Dessa forma, é essencial que se invista em pesquisas sobre a saíra-sapucaia, incluindo estudos sobre sua ecologia, comportamento e movimentos sazonais, para aumentar e melhorar a sua proteção.

A proteção do habitat da saíra-sapucaia é fundamental para garantir sua sobrevivência. A conservação da Mata Atlântica, em especial das regiões litorâneas, é crucial para a manutenção da população dessas aves. Isso envolve a promoção de práticas sustentáveis na ocupação do solo, como o planejamento urbano e a criação de áreas protegidas que garantam a preservação da vegetação nativa e a biodiversidade da região.

Educação ambiental e o incentivo à prática da observação de aves auxiliam na conservação da saíra-sapucaia

Além disso, a educação ambiental é uma importante ferramenta na conservação da saíra-sapucaia e de outras espécies da Mata Atlântica. A conscientização da população sobre a importância da preservação do meio ambiente e a valorização das espécies endêmicas podem ajudar a mobilizar esforços para a proteção das aves e de seu habitat.

A observação de aves, ou birdwatching, é uma atividade que pode auxiliar na conservação da saíra-sapucaia, principalmente, devido ao seu belo colorido. Ao despertar o interesse das pessoas pela beleza e singularidade dessas aves, é possível estimular a proteção do ambiente em que vivem. Além disso, o turismo de observação de aves pode gerar benefícios econômicos para as comunidades locais e, assim, incentivar a conservação da Mata Atlântica e das espécies que habitam esse ecossistema.

A cooperação entre organizações governamentais, não governamentais, comunidades locais e pesquisadores é outro elemento chave para garantir o sucesso das ações de conservação. A criação de parcerias e a implementação de políticas públicas voltadas para a preservação das áreas naturais e com estrito controle da expansão urbana no litoral pode contribuir para a manutenção da biodiversidade na Mata Atlântica litorânea.

Fontes: Instituto Rã-bugio, G1Globo (1), G1Globo (2), Amo Aves, Ornithos, Animalia.bio, Universo da Natureza, Greenday, WikiAves, Ebird

Fotos: Saira-sapucaia_macho__by Fernando Farias e segunda foto: Saíra-sapucaia_fêmea_by Hector Bottai