Dentre as quatro espécies de micos-leões existentes, o mico-leão-da-cara-preta (Leontopithecus caissara) ou mico-leão-caiçara como também é conhecido, embora seja o que tem habitat mais próximo a grandes centros urbanos (áreas metropolitanas de Curitiba e São Paulo), ainda é o menos conhecido e que demanda maiores cuidados pela área restrita que ocupa, tendo sido também o último a ser descoberto, em 1990. É encontrado somente nos municípios de Guaraqueçaba, no Paraná e Cananéia, em São Paulo.
Micos-leões-de-cara-preta são
dispersores de sementes contribuindo para a regeneração da floresta
Os micos-leões-caiçara são
pequenos primatas de cerca de 30 cm de comprimento (sem considerar a cauda, que
pode chegar a ter 43 cm) e pesando em média 572 gramas. Possui uma pelagem
abundante e brilhante, principalmente na cabeça formando uma juba de cor negra.
Tem pelagem ruiva ou dourada no dorso e no tórax, apresentando face, mãos, pés,
antebraço e cauda pretos. Vivem em grupos familiares de 05 a 11 indivíduos,
utilizando ocos de árvore como abrigo. Sua alimentação consiste basicamente de
frutas, mas também comem insetos, aranhas, caracóis, cobras, sapos e pequenos
lagartos. Ao dispersarem as sementes das frutas que consomem, os mico-leões-da-cara-preta
desempenham um papel fundamental na regeneração da floresta.
A espécie vive na maior área
contínua de Mata Atlântica preservada
Um aspecto positivo do habitat do
mico-leão-da-cara-preta é que, diferente de outros micos-leões, ele vive
na maior área contínua de Mata Atlântica preservada que se situa entre
os estados de São Paulo e Paraná. Mesmo assim, ainda é o mico-leão com a
menor distribuição geográfica conhecida. Estes primatas são ativos
durante o dia e passam a maior parte do tempo nas árvores. A vegetação densa os
protege dos raios solares, pois são sensíveis à luz solar direta. Entre seus
predadores principais podem ser incluídos: o gavião-pega-macaco (Spizaetus
Tyrannus), o gavião-de-penacho (Spizaetus ornatos), a onça-pintada ( Panthera
onca), a onça-parda (Puma concolor), o jaguarundi (Herpailurus yaguarondi), a
jaguatirica (Leopardus pardalis) e a irara (Eira barbara).
Pequena população do
mico-leão-da-cara-preta o torna muito vulnerável a eventos extremos
Pesquisadores estimam que a
população do mico-leão-caiçara esteja em torno de 400 indivíduos,
quantidade considerada muito pequena, representando uma ameaça à sobrevivência
da espécie. Desse total a IUCN estima que o número total de indivíduos maduros,
em condições de reprodução, não seja superior a 250 e o número de indivíduos
maduros em cada população não ultrapasse a 50. Seu alcance restrito e pequeno
tamanho populacional deixam a espécie vulnerável à perda e degradação crescente
de habitat, fragmentação, caça furtiva e turismo não
regulamentado. O pequeno primata é particularmente vulnerável a eventos
inesperados impactantes como uma epidemia ou evento climático extremo. Em2018
um ciclone devastou uma área onde havia a presença dos micos-leões. O agravante
de sua situação é que não existe mico-leão-de-cara-preta em cativeiro,
portanto não existe população de segurança ou reserva. Basta um evento extremo
ou uma doença, como a febre amarela, para extinguir em definitivo o
primata. Mas, já houve uma tomada de
decisão para se ter uma população em cativeiro, isso ocorreu recentemente, em
agosto de 2021, em uma oficina do Plano de Ação da espécie envolvendo várias
organizações.
São, principalmente, as ações
antropogênicas que ameaçam o mico-leão-caiçara
Várias atividades de origem
humana (antropogênicas) ameaçam o mico-leão-de-cara-preta. Entre as
quais a colheita de pupunha (uma espécie de palmito), a conversão de
áreas de floresta em terras para a criação de gado e a expansão urbana causam
uma contínua perda de habitat. Sendo uma espécie que depende de florestas altas
e maduras e não tolera mudanças e distúrbios em seu ambiente, essa perda é
devastadora para as poucas populações existentes do mico-leão-caiçara.
População existente do
mico-leão-caiçara se dividiu em duas devido a construção de um canal
A construção do Canal do Varadouro,
em 1953, fragmentou o habitat, isolando a população da ilha de Superagui
daquela existente no continente, em território paranaense e paulista. Essa obra
fluvial interrompeu o fluxo gênico da espécie e levou a uma diminuição
da diversidade genética. Devido a esses problemas o mico-leão-da-cara-preta
é classificado como Em Perigo (EN) de extinção na Lista Vermelha da
IUCN.
Felizmente a maioria desses pequenos primatas vivem em áreas protegidas da Mata Atlântica
Esses pequenos primatas ameaçados
vivem, prioritariamente, em unidades de conservação que formam a Grande
Reserva Mata Atlântica , que é o maior e mais bem conservado remanescente
desta floresta no Brasil, com cerca de 28% da área total legalmente protegida e
com diversas Unidades de Conservação, sendo reconhecida como Patrimônio da
Humanidade pela UNESCO. Esta extensa rede de áreas protegidas é composta por
Parques Nacionais e Estaduais somados a Reservas Particulares do Patrimônio
Natural (RPPN) e a áreas privadas legalmente protegidas. O mico-leão-caiçara
vive nas seguintes áreas conservadas: o Mosaico
do Litoral de São Paulo e Paraná(Lagamar), uma colcha de retalhos de 43
unidades de conservação desses dois estados; no Paraná é encontrado na Área
de Proteção Ambiental de Guaraqueçaba e no Parque
Nacional do Superagui; e em São Paulo é visto na Área
de Proteção Ambiental Cananéia-Iguape-Peruíbe, Parque
Estadual Lagamar de Cananéia, Reserva
Extrativista Ilha do Tumba, Reserva
de Desenvolvimento Sustentável Itapanhapima, Reserva
Extrativista Taquari e pode ocorrer no Parque Estadual
de Jacupiranga. Embora a distribuição geográfica desse primata ocorra
dentro de áreas protegidas, o fato é que as leis de proteção são difíceis de
aplicar e muitas vezes são desrespeitadas, como na caça furtiva e a extração
ilegal de madeira e palmito.
Inúmeras organizações
nacionais e internacionais participam da proteção da espécie
Há um esforço de várias
organizações trabalhando para proteger esta espécie da extinção. Entre elas a
mais antiga o IPÊ - Instituto de Pesquisas
Ecológicas - vem trabalhando pela conservação do mico-leão-da-cara-preta
desde 1995. Ao longo desses anos, aumentou o aprendizado sobre o animal, efetuou-se
a educação ambiental da comunidade local para sua compreensão da importância da
preservação da fauna e apoio a diversas pesquisas sobre o primata a partir de
seu descobrimento. As ações empreendidas
pelo IPÊ na região do Ariri, Cananéia/SP entre 2005-2014, contribuíram para a
diminuição de 20-30% das ameaças diretas ao mico-leão-caiçara
identificadas em 2005.
Programa de Conservação do
mico-leão-da-cara-preta envolve várias organizações
A Sociedade de Pesquisa em
Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) desenvolve o Programa
de Conservação do mico-leão-da-cara-preta juntamente com várias
organizações. Conta com o financiamento
da Fundação
Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Primate
Action Fund (PAF), Margot
Marsh Biodiversity Foundation, Fondation
Ensemble, The
Mohamed bin Zayed Species Conservation Fund, Parco Zoo Punta Verde e Lion Tamarins of Brazil Fund. E tem o apoio da Fundação
Florestal do Estado de São Paulo; do Departamento
de Fauna da Infraestrutura e Meio Ambiente de SP (DeFau); do Instituto de Pesquisa de Cananéia (IPeC);
da Associação Mico-leão-dourado (AMLD);
da Plataforma
Institucional Biodiversidade e Saúde Silvestre da Fiocruz; do Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio) e Universidade
Federal do Paraná (UFPR). O Programa utiliza o mico-leão-da-cara-preta
como espécie emblemática, promovendo extensa educação ambiental e integrando a
conservação da biodiversidade como o desenvolvimento sustentável e práticas
econômicas nas regiões onde vive o mico-leão-caiçara.
Fontes: Ambiente
Brasil, Associação mico-leão-dourado, SPVS, Neomondo, WikiParques,
Um
Só Planeta, ICMBio, New England
Primate Conservancy, Portal
Butantã, Foundation
Ensenble, Animal Info,
MBZ,
Bioone,
Animal
Diversity
Fotos: Mico-leão-da-cara-preta_by Celso Margraf e segunda foto: micos-leões-da-cara-preta_Animal Planet Brasil