A raposa-da-ilha (Urocyon littoralis) é um pequeno canídeo endêmico de seis das oito ilhas do Canal na costa do sul da Califórnia, Estados Unidos. Elas não são encontradas em nenhum outro lugar. É o maior dos mamíferos nativos das Ilhas do Canal, mas uma das menores espécies de canídeos do mundo. Essa espécie de raposa é do tamanho de um gato doméstico. Elas geralmente são dóceis, mostram pouco medo de humanos e são facilmente domesticadas.
As raposas-da-ilha não têm
predadores naturais, permitindo que sejam ativas durante o dia com picos de
atividade ocorrendo ao anoitecer e ao amanhecer. Elas se comunicam latindo e às
vezes rosnando. Possuem coloração cinza na parte traseira, coloração ferrugem
nas laterais e branca na parte inferior. O rosto tem padrões distintivos de
preto, branco e avermelhado. Em cada uma das seis ilhas, ocorre uma subespécie
diferente, distinguida por diferenças genéticas e físicas.
As dietas da raposa-da-ilha
variam de acordo com a diversidade de itens alimentares das ilhas individuais. E
incluem ratos, grilos, besouros, vegetais como frutas de cactos, salinas, figos
marinhos, caranguejos e outros invertebrados marinhos ao longo da costa.
Uma subespécie de raposa em
cada ilha, totalizando seis ao todo.
O fato curioso, em termos evolutivos,
é que a população de cada ilha é reconhecida como uma subespécie separada.
Havendo, portanto, seis subespécies que evoluíram independentemente das
outras, que embora sejam capazes de cruzarem entre si, possuem distinções
genéticas e fenotípicas que as tornam únicas; por exemplo, cada subespécie
tem números diferentes de vértebras da cauda. As subespécies são. A raposa-da-ilha
de São Miguel (Urocyon littoralis littoralis); da ilha de São
Nicolas (U.l.dickeyi); da ilha de Santa Catalina (U.l.catalinae);
da ilha de São Clemente (U.l. clementae); da ilha de Santa
Cruz (U.l.santacruzae) e a da ilha de Santa Rosa (U.l.santarosae).
A maior das subespécies ocorre na Ilha de Santa Catalina e a menor na Ilha de
Santa Cruz.
Duas grandes ameaças contribuíram
para que a raposa-da-ilha chegasse à beira da extinção: as águias-douradas
(Aquila chrysaetos) vindas do continente e a introdução do vírus da
cinomose.
Águias-douradas foram
responsáveis pelo declínio de raposas em algumas ilhas.
Nas ilhas do Canal do norte de
Santa Cruz, Santa Rosa e San Miguel, as raposas-das-ilhas coexistiram
com populações saudáveis de águias-americanas (Haliaetus
leucocephalus), comedoras de peixes que não representavam ameaça para os canídeos.
Mas na década de 1950, o pesticida DDT começou a enfraquecer as cascas dos ovos
das águias, levando a uma queda na população de águias americanas na década de
1960. No continente, a nordeste dessas três ilhas, a Floresta
Nacional de Los Padres é o habitat principal das águias-douradas,
que atacam pequenos mamíferos. Uma vez que as águias-americanas não
estavam por perto para defender seu território, as águias-douradas
voaram e se estabeleceram, encontrando as pequenas raposas da ilha presas
fáceis. A predação por águias-douradas não nativas levou a um declínio
catastrófico nessas três ilhas do norte durante a década de 1990. A população
de raposas da ilha-de-Santa Cruz, por exemplo, caiu de 1.500 para menos de 100
animais em menos de uma década – uma redução de 95% da população de raposas.
A partir de 2004 foi iniciada uma
campanha para capturar e realocar águias douradas e reintroduzir águias
americanas que levou a uma recuperação da raposa. Em 2016, após apenas 12 anos,
o FWS retirou essas três subespécies de
raposa-da-ilha do norte da lista de criticamente ameaçadas, marcando a
recuperação mais rápida de mamíferos já registrada. Hoje, mais de 4.000 raposas
vivem nessas três ilhas do norte.
Em outras ilhas o risco maior
foi a introdução do vírus da cinomose, fatal para as raposas
No entanto, as raposas da Ilha de
Santa Catalina enfrentaram um inimigo diferente. Localizada mais ao sul nas
Ilhas do Canal, Santa Catalina fica a oeste de Los Angeles - em grande parte
desprovida de águias douradas. Em 1999, uma raposa-da-ilha contraiu o vírus
da cinomose, trazido do continente por um guaxinim (Procyon lotor)
e a doença se espalhou rapidamente como praga, matando mais de 90% das raposas
da ilha em apenas um ano. Com apenas 100 indivíduos restantes, biólogos do Catalina Island Conservancy em
parceria com o Institute for Wildlife Studies
prenderam quase todas as raposas restantes da ilha e iniciaram um programa
de reprodução em cativeiro para salvar a subespécie da extinção. Raposas
criadas em cativeiro, vacinadas contra doenças e soltas na natureza, aumentaram
a população para cerca de 300 animais em poucos anos. Hoje, cerca de 2.000
raposas vagam pela Ilha de Santa Catalina.
Programa de recuperação da
raposa-da-ilha é exemplo de sucesso de conservação da espécie
A raposa-da-ilha, que há
pouco tempo estava à beira da extinção, foi salva graças a uma estratégia
coordenada, organizada e altamente focada que foi capaz de reverter a extinção
certa de uma população criticamente ameaçada.
O Programa de Reprodução em Cativeiro
foi uma ação de recuperação necessária - e bem sucedida - para as raposas-das-ilhas.
Quando as raposas foram trazidas para o cativeiro, pouco antes da época de
reprodução no ano de 2000, os pares acasalados foram estabelecidos juntando
machos e fêmeas que pareciam ter sido emparelhados na natureza, com base nas
informações disponíveis na captura. Nos anos seguintes, quando os filhotes
nasceram e atingiram a maturidade, eles foram designados para parceiros com
base em um programa de computador projetado para evitar a endogamia em pequenas
populações e maximizar a diversidade genética.
Devido aos esforços de
recuperação da espécie, a raposa-da-ilha está classificada na Lista
Vermelha da IUCN como quase ameaçada de extinção (NT). No entanto o Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos
(FWS) estabelece diferentes graus de ameaça para cada subespécie das ilhas.
A raposa-da-ilha dependerá,
permanentemente, de conservação
Não há dúvida de que o programa
de recuperação da raposa-da-ilha foi um sucesso, pois nas quatro décadas
de história da Lei
de Espécies Ameaçadas dos Estados Unidos, nenhum mamífero se recuperou mais
rápido do que a raposa da ilha. No entanto, ainda são necessários cuidados
permanentes. De acordo com o Grupo de Especialistas
de Canídeos da IUCN, as raposas das ilhas têm níveis populacionais
naturalmente baixos (menos de 1.500 nas ilhas maiores e menos de 500 em San
Miguel). Além disso, eles têm níveis extremamente baixos de variabilidade
genética, reduzindo assim a capacidade de adaptação às mudanças ambientais
futuras. A possível introdução de novas doenças do continente continua a ser
uma ameaça para as populações de todas as ilhas. Assim, essas raposas serão
sempre uma espécie “dependente de conservação”, exigindo monitoramento
cuidadoso e rápidas intervenções de manejo para sobreviver.
Fonte: California
Conservation Science, Conservation
Biology Institute, The
Atlantic, The
Nature Conservation-TNC, One Earth, Center
for Biological Diversity, George
Wright Society, National Park
Service, NWF,
United
States Department of the Interior.
Foto: Raposa-da-ilha de Santa Cruz_by Jackson Shedd