Tucano-de-sobrancelhas-amarelas: uma rara ave esquecida dos Andes peruanos

O tucano-de-sobrancelhas-amarelas (Aulacorhynchus huallagae) é uma ave extraordinária, endêmica das florestas nubladas da encosta oriental dos Andes, no norte do Peru. Pertencente à família Ramphastidae, é considerado um dos tucanos menos conhecidos da América do Sul. Seu habitat restrito, o comportamento esquivo e a inacessibilidade das regiões onde vive contribuem para seu mistério e para os desafios relacionados à sua conservação.

Trata-se de uma espécie quase passeriforme, de porte pequeno para um tucano: mede entre 38 e 44 centímetros e pesa cerca de 250 a 280 gramas. A espécie foi descrita pela primeira vez em 1933, com base em um exemplar macho coletado em Utcubamba. Porém, permaneceu sem registros por quase meio século, até ser redescoberta em 1979 por uma expedição do Museu de Ciências Naturais da Universidade Estadual da Louisiana. Desde então, embora rara, passou a integrar a lista de aves ameaçadas da IUCN, o que despertou maior atenção científica e ambiental.

Características físicas e comportamento

O tucano-de-sobrancelhas-amarelas é visualmente marcante. Sua plumagem é predominantemente verde, com coroa mais intensa e tons amarelados no dorso. Apresenta garupa vermelha, ponta da cauda castanha e região infracaudal amarela-dourada. A garganta é esbranquiçada, com uma faixa peitoral azul que se mistura aos tons verdes do peito e do ventre. Seu bico, cinza-azulado com ponta cinza-esbranquiçada, exibe uma faixa branca na base. Uma sobrancelha amarela, embora discreta, contribui para sua identificação, assim como a pele preta ao redor dos olhos, de coloração avermelhada.

A espécie vive majoritariamente no dossel das florestas e sua dieta é composta principalmente de frutos, embora faltem dados mais detalhados sobre seus hábitos alimentares. A respeito da reprodução, pouco se sabe: supõe-se que a espécie utilize cavidades de árvores para nidificação, como outras do mesmo gênero, com temporada reprodutiva entre outubro e março.

Distribuição restrita e habitat ameaçado

A distribuição conhecida do tucano-de-sobrancelhas-amarelas é extremamente limitada. Registros confirmados existem em apenas quatro localidades dos departamentos de Amazonas, San Martín e La Libertad, no Peru, todas situadas entre 2.000 e 2.600 metros de altitude. No entanto, acredita-se que a espécie possua uma distribuição mais ampla, ainda não documentada devido à escassez de estradas e à dificuldade de acesso às florestas montanhosas da região.

O habitat preferido da espécie são as florestas úmidas de montanha, também chamadas de florestas nubladas, caracterizadas por elevada umidade, vegetação densa e uma rica diversidade florística. Essas áreas desempenham papel vital para o equilíbrio dos ecossistemas andinos, mas estão sob crescente pressão.

Ameaças e estado de conservação

A IUCN classifica o tucano-de-sobrancelhas-amarelas como espécie “Em Perigo” (EN). A população estimada é extremamente baixa, com apenas 600 a 1.500 indivíduos maduros. A principal ameaça enfrentada pela espécie é a destruição e fragmentação de seu habitat natural. O desmatamento provocado por atividades agropecuárias, especialmente a expansão de plantações ilegais de coca, tem causado a degradação de áreas essenciais à sua sobrevivência. Embora parte da destruição ocorra em altitudes mais baixas, o impacto no equilíbrio geral das florestas é significativo.

Outras ameaças incluem o desenvolvimento de infraestrutura, o comércio ilegal de animais silvestres e as mudanças climáticas, que afetam diretamente a dinâmica dos ecossistemas de altitude. A presença humana nas áreas de ocorrência da espécie, embora menor hoje do que no passado, continua sendo um fator de risco. Seu tamanho pequeno torna-o, especialmente atraente para o tráfico de animais.

Iniciativas de proteção e papel das instituições

Dada a situação crítica do tucano-de-sobrancelhas-amarelas, ações de conservação são fundamentais. ONGs de conservação da biodiversidade, como a Asociación Ecosistemas Andinos (ECOAN), têm promovido campanhas de educação ambiental e projetos de reflorestamento com espécies nativas nos Andes peruanos, buscando recuperar áreas degradadas e criar corredores ecológicos. Tais ações beneficiam não apenas o tucano, mas toda a fauna dependente dessas florestas.

O governo peruano, por sua vez, incorporou áreas de florestas nubladas aos sistemas de conservação nacional e regional. Reservas privadas e iniciativas comunitárias também têm desempenhado papel relevante, ao conciliar o uso sustentável dos recursos com a proteção da biodiversidade. A criação de incentivos à pesquisa científica, o fortalecimento da fiscalização ambiental e o apoio a práticas agrícolas sustentáveis são estratégias fundamentais para reduzir as pressões sobre os habitats do tucano.

Além disso, a redescoberta da espécie em 1979 renovou o interesse da comunidade ornitológica internacional, o que permitiu maior articulação entre universidades, instituições científicas e organizações não governamentais em torno da proteção do Aulacorhynchus huallagae.

O tucano-de-sobrancelhas-amarelas é símbolo da riqueza e fragilidade dos ecossistemas andinos. Sua história, marcada pelo desaparecimento e posterior redescoberta, revela a importância da ciência, da persistência dos pesquisadores e da conservação baseada em evidências. Embora ainda haja lacunas sobre sua biologia, comportamento e distribuição, os dados disponíveis já apontam para a urgência de proteger seu habitat e conter o avanço de atividades predatórias.

Fontes: Biodiversity4all, Ebird, Birds of the World, Datazone BirdLife, IUCN, Rabeya, Aves de Perú 

Fotos:Tucano-de-sobrancelha-amarela_Aves de Perú.jpg e segunda foto_AMPA Perú     e terceira foto: Tucano-de-sobrancelha-amarela_by Jhonny Ramos Sandoval.png e quarta foto: Tucano-de-sobrancelha-amarela_by Angel Colchado Dominguez.jpeg