O dril (Mandrillus leucophaeus) é um primata da família Cercopithecidae, parente próximo do mandril e dos babuínos. Entretanto, difere do mandril por não apresentar a coloração azul e vermelha na face. Essa espécie de primata é considerada uma das mais ameaçadas da África, devido à perda de habitat, fragmentação florestal e pressão de caça.
Características físicas e biológicas
O dril é um macaco de cauda
curta, medindo aproximadamente 70 cm de comprimento. Apresenta dimorfismo
sexual acentuado, com os machos pesando até 32,3 kg e as fêmeas chegando a 11,7
kg. Seu corpo é revestido por pelagem verde-amarronzada, com rosto negro e sulcos
no nariz. Os machos possuem cores vibrantes na região do quadril, incluindo
tons de rosa, lilás e azul. As fêmeas diferem dos machos por não apresentarem
coloração rosada na testa.
A estrutura social dos dris é
caracterizada por grupos de 20 a 30 indivíduos, liderados por um macho
dominante. Esses grupos podem se unir para formar agregados maiores, com mais
de 100 indivíduos. As fêmeas têm um filhote por vez, e a expectativa de vida da
espécie na natureza é de aproximadamente 10 anos.
Distribuição geográfica e habitat
O dril ocorre em três países
africanos: Nigéria, Camarões e Guiné Equatorial (Ilha Bioko). Sua distribuição
continental é limitada a menos de 20.000 km², com populações fragmentadas entre
o rio Cross, na Nigéria, e o rio Sanaga, em Camarões. Estima-se que a população
total seja inferior a 4.000 indivíduos maduros.
Na Ilha Bioko, os dris habitam
florestas costeiras, submontanas e montanhosas, sendo frequentemente avistados
em praias e em regiões remotas, como a Reserva Científica Gran Caldera de Luba.
A região apresenta alta pluviosidade e baixa presença humana, o que favorece a
permanência da espécie. Entretanto, perto de assentamentos, os dris são
encontrados em menores densidades e frequentemente invadem plantações em busca
de alimento.
Alimentação e papel ecológico
O dril é um primata
onívoro e oportunista. Sua dieta é composta principalmente por frutas,
sementes, folhas e cogumelos, complementada por invertebrados, ovos e pequenos
vertebrados. Durante a estação chuvosa, as frutas são o principal alimento,
enquanto na estação seca há maior consumo de folhas e gramíneas.
Esse primata desempenha um papel
fundamental na dispersão de sementes, contribuindo para a regeneração da
floresta. A ingestão e posterior excreção de sementes em diferentes pontos da
floresta auxiliam na propagação de diversas espécies vegetais, fortalecendo a
biodiversidade.
Estado de conservação e ameaças
A União Internacional para a
Conservação da Natureza (IUCN) classifica o dril como "Em
Perigo" (EN). A espécie enfrenta ameaças significativas, incluindo perda
de habitat devido ao desmatamento para agricultura e exploração madeireira. A
pressão de caça também é um fator crítico, pois a carne de dril é valorizada no
mercado de carne de animais silvestres.
A destruição da floresta em
Camarões, em particular, reduziu drasticamente a população da espécie nas
últimas décadas. Além disso, em Bioko, dris são alvos fáceis para caçadores
devido à formação de grandes grupos sociais, tornando-os vulneráveis a expedições
de caça.
Os drills estão presentes e recebem
proteção em diversas áreas de conservação. Em Camarões, podem ser encontrados
nos Parques Nacionais Korup, Takamanda, Bakossi e Mount Cameroon. Na Nigéria,
sua preservação ocorre nas Divisões Oban e Okwangwo do Parque Nacional Cross
River, no Santuário de Vida Selvagem da Montanha Afi e na Floresta Comunitária
das Montanhas Mbe. Já na Ilha Bioko, a espécie é protegida na Reserva
Científica Gran Caldera de Luba, havendo indícios de sua presença também no
Parque Nacional Pico Basile.
Pesquisas científicas realizadas na
Nigéria, em Camarões e na Ilha Bioko identificaram a existência de duas
subespécies do Mandrillus leucophaeus: M. l. leucophaeus, presente no
continente africano, e M. l. poensis, restrita à Ilha Bioko. Essa diferenciação
entre subespécies reforça a importância de estratégias de conservação
específicas para cada população, considerando as particularidades ecológicas e
as pressões ambientais distintas em seus respectivos habitats.
Esforços de conservação
Várias iniciativas visam a proteção
do dril. O Projeto Mono Dril atua na Ilha Bioko promovendo educação
ambiental e pesquisas sobre a espécie. O projeto busca conscientizar a
população local e incentivar a conservação dos ecossistemas onde os dris
habitam.
Outra organização ativa é a Wildlife Conservation Society (WCS), que
implementa estratégias para a criação de áreas protegidas. A WCS apoiou a
criação do Santuário de Vida Selvagem da Montanha Afi (2000) e do Parque
Nacional Takamanda (2008). Esses locais são essenciais para a sobrevivência do
dril, pois fornecem espaços livres de caça e com controle ambiental rigoroso.
A gestão eficaz dessas áreas
protegidas é um desafio, devido à necessidade de reforço da legislação e
redução da invasão humana. A WCS também investe na educação para a conservação,
promovendo programas escolares, campanhas de conscientização e alternativas
sustentáveis de subsistência para as comunidades locais.
O dril é uma espécie
emblemática que desempenha um papel vital na manutenção da biodiversidade das
florestas africanas. Contudo, a pressão humana tem colocado a espécie em risco
crítico. O fortalecimento de áreas protegidas e o envolvimento das comunidades
locais são estratégias essenciais para a conservação desse primata. O
sucesso desses esforços determinará o futuro do dril e a preservação dos
ecossistemas onde ele habita.
Fontes: The drill Project, WCS Nigeria, Conservation Evidence, Monaco Nature Encyclopedia, Biodiversity4all, Animalia, Animal Diversity, Springer Nature, Palm Oil Detectives, Wisconsin National Primate Research
Center
Fotos: Dril_by Adedotun Ajibade e segunda foto: by Thomas Marent e terceira foto: by Bernard Dupont