Biologia, distribuição e ameaças à conservação do peixe-boi africano


 O peixe-boi africano (Trichechus senegalensis), conhecido também como peixe-boi da África Ocidental ou manatim africano, é um mamífero aquático pertencente à ordem Sirenia. Habita amplas regiões da costa oeste africana, desde o Rio Senegal no norte até o Rio Cuanza, em Angola, ao sul. Apesar de ser uma espécie emblemática para a biodiversidade da região, o peixe-boi africano é pouco estudado e classificado como vulnerável pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), estando constantemente ameaçado por atividades humanas e pela degradação de seu habitat.

Distribuição e habitat

O peixe-boi africano apresenta uma das distribuições mais amplas entre os sirênios, habitando tanto águas costeiras quanto rios, lagos e estuários ao longo de países da África Ocidental, incluindo Senegal, Nigéria, Camarões e Angola. Embora seja adaptado a ambientes salinos e de água doce, sua distribuição é limitada pela temperatura, raramente sendo encontrado em águas com menos de 18°C. Durante a estação seca, populações costeiras frequentemente migram para os rios, onde encontram refúgio em lagos permanentes, como o Lago Volta, em Gana, e o Delta do Rio Níger, na Nigéria.

O habitat do peixe-boi africano inclui manguezais, estuários e rios em florestas tropicais, locais onde pode encontrar alimentos e proteção. No entanto, construções de barragens, como as de Akosombo (Gana) e Diama (Senegal), isolaram populações e comprometeram sua mobilidade, agravando os desafios para a sobrevivência da espécie.

Biologia e comportamento

O peixe-boi africano é um grande herbívoro que pode atingir até 4,5 metros de comprimento e pesar cerca de 360 quilos. Seu corpo é robusto e coberto por pelos finos e incolores, muitas vezes revestido por algas que conferem tonalidades esverdeadas ou marrons. Suas nadadeiras anteriores, dotadas de unhas, auxiliam tanto na locomoção quanto na manipulação de alimentos, enquanto seus molares trituram a vegetação que compõe a maior parte de sua dieta.

O comportamento da espécie é predominantemente noturno, com atividades alimentares e sociais ocorrendo no final do dia e durante a noite. Os peixes-boi africanos vivem em pequenos grupos de até seis indivíduos, sendo bastante sociais e criando vínculos por meio de toques, vocalizações e odores. Apesar de sua sociabilidade, eles apresentam poucos predadores naturais, como crocodilos e tubarões, mas enfrentam grande pressão devido à caça e à degradação ambiental.

Dieta e hábitos alimentares

A dieta do peixe-boi africano é composta majoritariamente por vegetação aquática e marginal, variando conforme o habitat. Nos estuários, consome principalmente manguezais, enquanto em rios se alimenta de plantas pendentes nas margens. Curiosamente, essa espécie é o único sirênio conhecido por incluir material não vegetal em sua dieta, como moluscos e peixes presos em redes.

Os peixes-boi consomem diariamente entre 4% e 9% de seu peso corporal em vegetação, graças à presença de microrganismos no intestino grosso, que auxiliam na digestão de grandes quantidades de matéria vegetal. Em algumas regiões, como Serra Leoa, a interação com pescadores resulta em conflitos, pois os peixes-boi frequentemente danificam redes de pesca ao buscar alimentos.

Ameaças

O peixe-boi africano enfrenta diversas ameaças, desde a caça ilegal para consumo de carne e extração de óleo, até a destruição de seu habitat por atividades humanas. Sua carne, pele e ossos são altamente valorizados em mercados locais, enquanto o óleo é utilizado na medicina tradicional para tratar infecções e problemas de pele. Em países como Nigéria e Camarões, a captura ilegal para venda em zoológicos e aquários também contribui para a redução populacional.

A construção de barragens, o tráfego intenso de embarcações e o uso de redes de pesca representam perigos adicionais. As barragens, além de isolarem populações, frequentemente levam os animais a encalhar ou serem mortos nas turbinas. Já as redes, destinadas à pesca de tubarões, capturam acidentalmente peixes-boi, enquanto a urbanização e a agricultura comprometem ainda mais seus habitats naturais.

Conservação e esforços de proteção

Iniciativas de conservação têm buscado mitigar os impactos sobre o peixe-boi africano. Entre 2004 e 2007, o projeto West African Manatee Conservation conduziu estudos em seis países, criando um banco de dados com informações sobre a distribuição e ecologia da espécie. A continuidade desse projeto, coordenada pela Wetlands International, visa expandir as ações de educação ambiental, promover ajustes legislativos e ampliar a pesquisa científica.

Embora o peixe-boi africano esteja listado no Apêndice I da CITES, o que restringe severamente sua comercialização internacional, a aplicação das leis de proteção nos países africanos permanece limitada. No entanto, esforços locais, como a proibição da pesca no Lago Ossa, em Camarões, têm mostrado resultados promissores, ainda que desafios significativos persistam.

O peixe-boi africano é uma espécie emblemática que desempenha papel fundamental nos ecossistemas aquáticos da África Ocidental. Apesar de ser alvo de intensas ameaças, iniciativas de conservação e pesquisa oferecem esperança para a preservação da espécie. A conscientização pública e a aplicação rigorosa das leis são essenciais para garantir a sobrevivência desse importante mamífero aquático, cuja presença reflete a saúde dos ecossistemas em que vive.

Fontes: UOL, Animalia.bio, Animal Diversity, Gbif, IScience, CMS (1), Cites, Oxford Academic, CMS (2), Palm Oil Detectives, Earth.com, Feel Free Gambia

Fotos: Primeira e segunda fotos do peixe-boi africano_Zooinstitutes e terceira foto: ZooChat