A fragilidade do sagui-de-wied: preservação de um primata da Mata Atlântica

 


O sagui-de-wied (Callithrix kuhlii), também chamado de sagui-de-tufo-preto-de-wied e conhecido por diversos nomes populares como mico, sauí e soim, é uma espécie pertencente à família Callitrichidae e ao gênero Callithrix. Este primata é endêmico do Brasil, especificamente nas áreas de Mata Atlântica do sul da Bahia e nordeste de Minas Gerais, onde habita florestas tropicais úmidas. Além das áreas naturais, ele também pode ser encontrado em ambientes urbanos dessas regiões.

Distribuição geográfica e habitat

O Callithrix kuhlii tem uma distribuição geográfica limitada às florestas costeiras da Mata Atlântica, especialmente ao sul da Bahia, nas proximidades da Reserva Biológica de Una, e nos arredores dos rios das Contas e Jequitinhonha. A espécie ocorre em habitats variados, como florestas densas, florestas submontanas e áreas de restinga. Ela não é restrita apenas a florestas primárias, sendo também observada em áreas de floresta secundária, cabrucas (sistema agroflorestal típico da região) e plantações de piaçava.

Morfologia e comportamento

O sagui-de-wied é um primata de pequeno porte, pesando entre 350 e 400 gramas. Sua pelagem é predominantemente preta, com manchas cinzas no crânio e tufos pretos ao redor das orelhas. Possui ainda marcas brancas nas bochechas, testa e ventre, e uma cauda anelada. Estes saguis vivem em grupos sociais compostos por 4 a 5 fêmeas, 2 a 3 machos e seus filhotes, em uma estrutura matriarcal onde apenas a fêmea dominante se reproduz, gerando geralmente gêmeos.

Dieta e predadores

A dieta do Callithrix kuhlii é composta por frutos, sementes e outros recursos naturais disponíveis em seu habitat. Por ser uma espécie de pequeno porte, enfrenta a predação de aves de rapina, jaguatiricas e cobras. Sua locomoção nas florestas é facilitada por suas unhas semelhantes a garras, que auxiliam na aderência aos galhos e troncos das árvores, embora não possuem o polegar opositor.

Ameaças e conservação

O sagui-de-wied enfrenta diversas ameaças que impactam suas populações e sua área de distribuição. Entre as principais, destacam-se a fragmentação de seu habitat natural devido ao desmatamento, a expansão urbana e a especulação imobiliária. As áreas antes destinadas ao cultivo de cacau têm sido substituídas por pastagens e monoculturas, como as de café e seringueira, afetando significativamente o habitat da espécie. Em áreas urbanas, como na cidade de Itacaré, é comum observar esses animais utilizando fios de alta tensão para se locomover, o que representa um risco de eletrocussão.

Além disso, a captura ilegal para o comércio de animais de estimação e a hibridação com outras espécies de Callithrix, como C. penicillata, são fatores adicionais que contribuem para o declínio das populações de sagui-de-wied. Por essas razões, a espécie é classificada como vulnerável pela Lista Vermelha da IUCN.

Presença em áreas protegidas

Para promover a conservação da espécie, o Callithrix kuhlii é encontrado em algumas áreas protegidas na Bahia, como a Estação Experimental Canavieiras, a Estação Experimental Lemos Maia, a Reserva Biológica de Una, o Parque Estadual da Serra do Conduru e o Parque Nacional da Serra das Lontras. Essas áreas proporcionam um refúgio onde a espécie pode se reproduzir e encontrar abrigo contra algumas das ameaças ambientais mais intensas.

O sagui-de-wied é um símbolo da biodiversidade brasileira e da fragilidade dos ecossistemas da Mata Atlântica. O desafio de preservar esta espécie está diretamente relacionado à proteção de seu habitat, à mitigação das ameaças urbanas e à conscientização da população sobre a importância da conservação de primatas nativos.

Fontes: Biofaces, G1Globo, UESB, Biodiversity4all, Animalia.bio, ICMBio, New Primate Conservation, Casa Clareia


Fotos: Sagui-de-wied_by Antonio Silveira e segunda foto: