O táchira antpitta (Grallaria chthonia) é uma espécie de ave extremamente rara, pertencente à família Grallariidae. Conhecida por seu comportamento furtivo e difícil detecção, essa ave foi avistada pela última vez em 1956 e considerada possivelmente extinta até sua redescoberta em 2016. A espécie é endêmica da Venezuela, mais especificamente da região de Táchira, e habita o sub-bosque de densas florestas nubladas a altitudes elevadas.
Descoberta e redescoberta
O táchira antpitta foi
descrito pela primeira vez em 1955, quando ornitólogos coletaram quatro
espécimes na Fazenda La Providencia, localizada no vale do Rio Chiquita, no
sudoeste do estado de Táchira, Venezuela. Essas amostras foram obtidas em uma
expedição realizada entre 1955 e 1956, e, desde então, não houve novos
registros da espécie. A localidade-tipo da espécie foi severamente afetada pelo
desmatamento e pela expansão agrícola, o que contribuiu para o
desaparecimento da ave da vista dos pesquisadores.
Foi somente em junho de 2016,
após décadas de incertezas, que uma equipe de cientistas, como parte da Red
Siskin Initiative, redescobriu a espécie no Parque Nacional El Tamá. A
expedição, apoiada financeiramente pela American Bird Conservancy, seguiu
as rotas da expedição original de 1955 e conseguiu registrar seis indivíduos da
espécie, obtendo as primeiras fotografias e gravações sonoras do táchira
antpitta. Essa descoberta representou um marco importante na ornitologia e
na conservação de espécies criticamente ameaçadas.
Habitat e comportamento
O táchira antpitta habita
florestas nubladas a altitudes entre 1.800 e 2.100 metros, na região de
Táchira, próxima à fronteira com a Colômbia. A ave é particularmente difícil de
observar devido ao seu comportamento discreto, permanecendo geralmente oculta
em vegetação densa. Como outras espécies do gênero Grallaria, o táchira
antpitta é conhecido por ser avistado apenas durante pequenos intervalos de
tempo ao amanhecer e ao anoitecer, o que dificulta ainda mais sua observação.
Essas aves são pequenas, com
cerca de 17 centímetros de comprimento, e possuem uma plumagem
predominantemente marrom, com uma coroa cinza e barras pretas no manto. Suas
coberturas de garganta e orelhas são marrons, enquanto o peito e os flancos
apresentam um padrão de barras cinzas. Essas características, somadas ao seu
comportamento recluso, contribuem para sua natureza furtiva e sua
invisibilidade no ambiente.
Ameaças e conservação
Apesar de sua redescoberta,
o táchira antpitta continua enfrentando sérias ameaças, principalmente
devido à destruição contínua de seu habitat. A região onde a ave foi registrada
sofre com o desmatamento intensivo, impulsionado pela agricultura. Grande parte
das florestas ao redor do Rio Chiquita foi convertida em plantações de café e
hortas, particularmente em altitudes inferiores a 1.600 metros. Mesmo áreas
dentro do Parque Nacional El Tamá, que deveria oferecer proteção, foram
desmatadas, com cerca de 20% de sua superfície transformada para o uso
agrícola.
Estima-se que a população atual
do táchira antpitta seja inferior a 50 indivíduos maduros, o que a
coloca na categoria de Criticamente Ameaçada pela Lista Vermelha da
IUCN. O desmatamento contínuo na região dos Andes venezuelanos compromete
gravemente a sobrevivência da espécie, com um declínio populacional estimado
entre 1% e 19% ao longo de uma década. Além disso, acredita-se que a área de ocorrência
da espécie seja extremamente limitada, confinada a uma pequena porção de
floresta preservada.
Iniciativas de preservação
A redescoberta do táchira
antpitta em 2016 foi resultado de uma iniciativa coordenada por várias
instituições científicas, incluindo a Red
Siskin Initiative e a American
Bird Conservancy. Essa parceria visava não apenas localizar a espécie, mas
também implementar medidas de conservação. A expedição de 2016, que incluiu
organizações como a Provita, Universidade da Califórnia em Santa Cruz e Colección Ornitológica Phelps,
foi um esforço significativo para preservar a biodiversidade da região. O
Parque Nacional El Tamá, apesar dos desafios enfrentados, continua sendo um
local crítico para a proteção não apenas do táchira antpitta, mas de
outras espécies ameaçadas.
A redescoberta do táchira
antpitta trouxe esperanças para a conservação de uma espécie que se
acreditava estar extinta por mais de 60 anos. No entanto, a espécie ainda
enfrenta desafios significativos devido à contínua destruição de seu habitat.
Esforços de conservação, são fundamentais para garantir a sobrevivência dessa
espécie e de outras que compartilham seu habitat. O futuro do táchira
antpitta depende de uma ação concertada para proteger as áreas
remanescentes de floresta e impedir o avanço do desmatamento.
Fontes: Ebird, BirdLife International, All About Birds, Animalia Bio,
Birdwhatching daily, Red Siskin Initiative, The Weather Channel, ABC Birds, Mongabay
Fotos: Táchira Antpitta_by David Ascanio e segunda foto: de Jhonathan-Miranda