Os esforços para salvar da extinção a tartaruga carranchina da Colômbia


 A tartaruga carranchina (Mesoclemmys dahli), também conhecida como tartaruga-cabeça-de-sapo-de-Dahl, é uma espécie semiaquática endêmica do norte da Colômbia, restrita às florestas tropicais secas (FTS). Este ecossistema, extremamente fragmentado, é um dos mais ameaçados da Colômbia, e sua destruição coloca a tartaruga em risco crítico de extinção. A carranchina, descrita em 1958, era inicialmente conhecida apenas em uma pequena área no departamento de Sucre, mas estudos posteriores ampliaram sua distribuição para outras regiões do norte colombiano, como Córdoba e Cesar. No entanto, a degradação e a fragmentação contínua de seu habitat ameaçam a sobrevivência desta espécie única.

Distribuição e habitat

A tartaruga carranchina habita pequenas poças e riachos de fluxo lento, muitas vezes com vegetação ciliar remanescente, situados nas florestas tropicais secas dos departamentos de Atlântico, Bolívar, Cesar, Córdoba, Magdalena e Sucre. Este ecossistema altamente vulnerável foi severamente impactado pela expansão da agricultura, pastagens e urbanização, com apenas 4% de sua área original permanecendo intacta. A destruição e fragmentação do habitat criaram pequenas populações isoladas, o que agrava os problemas genéticos dessa espécie, como a endogamia, aumentando o risco de extinção.

Características físicas e biológicas

A tartaruga-cabeça-de-sapo-de-Dahl é uma espécie de tamanho médio, com um comprimento de carapaça que pode atingir até 30 centímetros. O casco é de cor azeitona, e a cabeça, grande e larga, possui um focinho ligeiramente saliente. As fêmeas têm a cabeça mais saliente atrás dos olhos, e os machos possuem caudas mais longas e grossas. As tartarugas dessa espécie são onívoras, alimentando-se principalmente de caracóis, crustáceos, insetos aquáticos e carniça. Durante a estação seca, elas entram em dormência, permanecendo sob a camada de folhas secas ou em raízes de árvores para sobreviver ao período de escassez de água.

Reprodução e ciclo de vida

A taxa reprodutiva da tartaruga carranchina é bastante baixa, o que contribui para sua vulnerabilidade. Diferente de outras tartarugas, esta espécie põe apenas dois a três ovos por ninhada, e o período de incubação pode ultrapassar 200 dias. A nidificação ocorre entre outubro e março, coincidindo com a estação seca, e a baixa quantidade de ovos reduz drasticamente suas chances de recuperação populacional. Além disso, a endogamia, causada pela fragmentação das populações, compromete a diversidade genética da espécie, diminuindo suas chances de sobrevivência a longo prazo.

Ameaças à conservação

A tartaruga carranchina enfrenta inúmeras ameaças, sendo a principal delas a destruição e fragmentação de seu habitat. A expansão urbana, a pecuária e a agricultura intensiva têm degradado as áreas florestais onde essa espécie vive, reduzindo ainda mais seu habitat natural. Atualmente, a espécie não é conhecida em nenhuma área protegida formal, e a restauração do habitat é crucial para a sua sobrevivência. O isolamento das populações, combinado com a endogamia, aumenta o risco de desaparecimento, pois a falta de fluxo genético entre as populações reduz sua capacidade de adaptação às mudanças ambientais. Atualmente estima-se que apenas 250 indivíduos maduros desta espécie e não mais de 1.000 no total, permaneçam na natureza

Iniciativas de conservação

Diversas iniciativas têm sido implementadas para proteger e restaurar o habitat da tartaruga carranchina. A Wildlife Conservation Society (WCS-Colômbia), em colaboração com outras organizações, como a Turtle Survival Alliance (TSA), a Rainforest Trust e a Fundação Mario Santo Domingo, lançou projetos de restauração de florestas e de resgate genético. Em 2020, foi criada uma reserva privada de 120 hectares em San Benito Abad, Sucre, destinada à recuperação da espécie. A reserva também busca restaurar a vegetação nativa e aumentar a conectividade do habitat para permitir o fluxo genético entre as populações isoladas.

A Fundação Fuverde, em parceria com a comunidade indígena Zenú, também atua na proteção dessa espécie, com iniciativas de educação ambiental e manejo sustentável do habitat. A comunidade Zenú declarou 32 km² de seu território como área protegida, o que proporciona um refúgio adicional para a tartaruga carranchina. Além disso, programas de monitoramento via telemetria e esforços de conservação genéticos estão em andamento, com o objetivo de aumentar a população da espécie.

Nos departamentos de Córdoba e Cesar, um estudo sobre a ecologia e a genética das populações da tartaruga-cabeça-de-sapo-de-Dahl está em progresso nos remanescentes da floresta seca caribenha. Esse projeto conta com o apoio da Ecopetrol, da Fundação Mario Santo Domingo, do Museu de Zoologia Senckenberg Dresden, do People's Trust for Endangered Species e da Universidade de Los Andes.

Apesar dos esforços de conservação, a recuperação total da tartaruga carranchina enfrenta grandes desafios. A criação de áreas protegidas e a restauração de habitats são medidas fundamentais para a persistência da espécie. Contudo, esses processos são demorados, e o isolamento genético continuará a ser um problema grave até que a conectividade natural entre as populações seja restabelecida. A implementação de programas de resgate genético, como os desenvolvidos pela WCS e parceiros, será crucial para a sobrevivência dessa tartaruga.

A tartaruga carranchina está à beira da extinção, e sua sobrevivência depende de ações de conservação rápidas e eficazes. A restauração de seu habitat, combinada com o resgate genético, oferece uma esperança para o futuro dessa espécie endêmica da Colômbia. No entanto, é necessário um compromisso contínuo das organizações envolvidas e da comunidade para garantir que as gerações futuras ainda possam encontrar essa espécie em seu habitat natural.

Fontes: IUCN-SSC, Aqui Notícias, Edge of existence, WCS Colômbia, Inaturalist, Turtle Conservancy, SIB Colômbia, Instituto Humboldt, Foundation Ensemble, Mohamed bin Zayed Species, Proyecto Tortuga Carranchina, Rainforest Trust

Fotos: Tartaruga carranchina_by Pato Salcedo e segunda foto: by Alemão Forero-Medina