O íbis-careca-do-norte (Geronticus eremita) também conhecido como íbis-eremita, é uma ave migratória de grande porte que pertence à família Threskiornithidae. Esta espécie, outrora amplamente distribuída pelo sul da Europa, norte da África e Oriente Médio, sofreu um declínio dramático ao longo dos últimos séculos. Com aparência distinta e comportamento peculiar, o íbis-careca-do-norte tornou-se um ícone da conservação ambiental, sendo listado como ameaçado de extinção (EN) pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza).
Características físicas e comportamentais
O íbis-careca-do-norte é
facilmente reconhecível por seu corpo preto iridescente e sua cabeça desprovida
de penas, que exibe uma tonalidade vermelha intensa. Ele mede entre 70 a 80 cm
de comprimento, com uma envergadura de 125 a 135 cm e um peso médio de 1 a 1,3
kg. Seu bico longo, curvo e vermelho é utilizado para caçar uma variedade de
presas, como lagartos, insetos, pequenos mamíferos e aves. A espécie é adaptada
a habitats áridos e semiáridos, nidificando em penhascos e alimentando-se em
áreas secas, como campos de pouso e estepes. O íbis-eremita também é conhecido
por seus poderosos voos de asas flexíveis.
Distribuição geográfica e declínio
populacional
Historicamente, o íbis-eremita
era amplamente distribuído pelo sul da Europa, norte da África e Oriente Médio.
No entanto, pressões humanas, como a caça e a destruição de habitat,
contribuíram significativamente para seu desaparecimento de grande parte dessas
regiões. A espécie foi extinta na Europa há mais de 300 anos e, atualmente,
restam apenas duas populações principais: uma no Parque Nacional de
Souss-Massa, no Marrocos, e outra na Síria e Turquia. No Marrocos, a população
reprodutiva selvagem é estimada em pouco mais de 700 indivíduos, enquanto a
Síria conta com menos de 10 aves, que foram redescobertas em 2002 após serem
consideradas extintas. Vários programas de restauração foram lançados de forma
independente em diferentes regiões, resultando em mais de 300 aves em voo
livre. Esses projetos de reintrodução, realizados na Áustria, Alemanha,
Espanha e Turquia, têm como objetivo restaurar tanto populações sedentárias
quanto migratórias da espécie. Existem
cerca de 2.000 íbis-carecas-do-norte vivendo em cativeiro.
Ameaças e desafios
O declínio populacional do íbis-careca-do-norte
foi acelerado por uma combinação de fatores naturais e antropogênicos. O uso
intensivo de pesticidas, especialmente o DDT, na década de 1950, foi uma das
principais causas de seu desaparecimento em várias regiões, pois afetou
diretamente o suprimento de alimentos da espécie. Além disso, a caça ilegal e o
consumo dos filhotes contribuíram para a extinção local, especialmente em áreas
como a Europa Central. Outros fatores, como a desertificação e a alteração dos
padrões migratórios causados pelas mudanças climáticas, continuam a representar
desafios significativos para a sobrevivência da espécie.
Esforços de conservação
Diversos programas de conservação
foram implementados nas últimas décadas com o objetivo de salvar o íbis-careca-do-norte
da extinção. No Marrocos, a criação do Parque Nacional Souss-Massa em 1991
garantiu a proteção de áreas essenciais para a reprodução e alimentação da
espécie. Um programa de monitoramento, iniciado em 1994, permitiu um aumento
significativo da população, levando a uma reclassificação da espécie de
"Criticamente Ameaçada" para "Ameaçada" na Lista Vermelha
da IUCN. Em 2019, a população total nas colônias de Souss-Massa e Tamri atingiu
708 aves, com a reprodução de 147 casais que produziram 170 filhotes.
Reintrodução na Europa e outros locais
Além dos esforços no Marrocos,
vários projetos de reintrodução foram realizados na Europa, em países como
Áustria, Alemanha, Espanha e Itália. Esses programas têm se mostrado eficazes,
restaurando populações de íbis-eremita em locais de onde haviam
desaparecido há séculos. Um dos esforços mais notáveis foi realizado na
Andaluzia, Espanha, onde aves criadas em cativeiro foram gradualmente liberadas
na natureza. Na Áustria, uma abordagem inovadora foi adotada, onde pássaros foram
ensinados a seguir aeronaves ultraleves para aprender rotas migratórias. Esses
projetos permitiram que a espécie começasse a se restabelecer em seu antigo
território.
Situação atual e perspectivas futuras
Embora os esforços de conservação
tenham tido sucesso em aumentar o número de íbis-carecas-do-norte em
cativeiro e na natureza, a espécie ainda enfrenta grandes desafios. A maioria
das aves selvagens está concentrada no Marrocos, o que aumenta sua
vulnerabilidade a eventos climáticos extremos e mudanças no uso do solo. A caça
ilegal e o uso de pesticidas continuam a ser ameaças significativas,
especialmente na Europa. No entanto, graças aos programas de conservação e
reintrodução, a espécie demonstra sinais promissores de recuperação.
O íbis-careca-do-norte representa
um caso emblemático de uma espécie que esteve à beira da extinção, mas
que, graças a esforços internacionais de conservação, tem uma chance renovada
de sobrevivência. Embora ainda existam muitos desafios a serem superados, as
iniciativas de proteção no Marrocos e os projetos de reintrodução na Europa
oferecem esperança para o futuro dessa ave rara e única. O sucesso contínuo
dessas iniciativas depende de um compromisso global para preservar não apenas o
íbis-eremita, mas também os ecossistemas dos quais ele depende.
Fontes: ND+ , Zoo Marwell, Edge of existence, Cambridge University Press, Animal Diversity, Jungle Dragon, Bird Life International, Avibase, UVA Bird Tracking System , Sci
News
Fotos: Ibis careca_by Douglas Faulder, segunda foto: de Martin Pelanek e terceira foto: de Graham Ekins