Uma jornada de risco na conservação do raro marsupial potoroo de Gilbert


 O potoroo de Gilbert (Potorous gilbertii) é o marsupial mais raro do mundo e o mais ameaçado mamífero da Austrália. Essa espécie é endêmica do sudoeste da Austrália Ocidental e vive em pequenas colônias. Ao longo do século XX, o potoroo foi considerado extinto, até sua redescoberta em 1994 na Reserva Natural de Two Peoples Bay, perto de Albany. Embora a população tenha aumentado ligeiramente nas últimas décadas, a espécie continua criticamente ameaçada e enfrenta uma série de desafios para sua conservação.

Características físicas e comportamentais

O potoroo de Gilbert é um pequeno marsupial noturno, com corpo densamente coberto por pelagem marrom-acinzentada, que desbota para um tom marrom-avermelhado nas costas. A parte inferior é cinza-esbranquiçada, enquanto a cauda, que mede cerca de 158 mm, tem pelos que vão do cinza ao preto. Os adultos pesam entre 900 e 1200 gramas e possuem patas traseiras longas, com garras curvas nas patas dianteiras, utilizadas para cavar em busca de alimentos. Eles vivem em pequenos grupos e dependem de uma dieta específica composta majoritariamente por fungos.

Alimentação e ecologia

A dieta do potoroo de Gilbert é composta quase inteiramente de fungos, que constituem 90% de sua fonte alimentar. Muitos desses fungos são micorrízicos, formando uma associação simbiótica com as raízes de plantas locais. Essa relação é benéfica tanto para o potoroo, que obtém nutrientes exclusivos, quanto para os fungos, que têm seus esporos dispersos. No entanto, essa dieta extremamente restrita e a dependência de ecossistemas específicos fazem com que a espécie seja particularmente vulnerável a mudanças em seu habitat.


História da conservação

A espécie permaneceu desaparecida por quase um século, até que uma pequena população foi redescoberta na Reserva Natural de Two Peoples Bay em 1994. Desde então, várias tentativas foram feitas para salvar o potoroo de Gilbert da extinção. Pequenas populações foram estabelecidas em ilhas próximas, como Bald Island e Middle Island, para atuar como "populações de segurança". Em 2015, um incêndio florestal destruiu 90% do habitat natural da espécie em Two Peoples Bay, exterminando grande parte dos indivíduos remanescentes. Desde então, esforços de conservação e translocação têm sido essenciais para evitar a extinção total da espécie. Atualmente sua população conta com menos de 120 indivíduos restantes na natureza

Ameaças à sobrevivência

Os potoroos de Gilbert enfrentam uma série de ameaças, incluindo predadores introduzidos, como raposas europeias e gatos selvagens, perda de habitat devido à limpeza de áreas naturais e incêndios florestais. Em 2015, por exemplo, um incêndio devastador na Reserva Natural de Two Peoples Bay exterminou grande parte da população natural. Além disso, a espécie é extremamente sensível às mudanças no ambiente, e a predação por espécies invasoras tem sido um fator importante em seu declínio. O pastoreio de gado, a perda de terras e a fragmentação do habitat também contribuem para a redução da população.

Iniciativas de conservação

Após a redescoberta do potoroo de Gilbert, várias iniciativas de conservação foram lançadas para aumentar sua população. Em 2001, o Gilbert's Potoroo Action Group foi criado com o objetivo de educar o público e levantar fundos para as pesquisas e programas de reprodução em cativeiro. No entanto, devido à natureza delicada da dieta da espécie, esses programas são desafiadores. As populações de refúgio seguro em ilhas têm sido uma estratégia eficaz, já que elas estão livres de predadores selvagens e possuem um ambiente mais controlado.

Desafios genéticos

Estudos recentes indicam que a população de potoroos de Gilbert passou por um gargalo genético dramático, o que significa que a variabilidade genética é extremamente baixa. Isso torna a espécie vulnerável a doenças e outras ameaças ambientais. Para garantir a sobrevivência do potoroo de Gilbert, os cientistas estimam que a população precisa crescer para pelo menos 500 indivíduos. Esse número garantiria a variação genética necessária para uma maior resiliência. Para atingir esse objetivo, programas de reprodução e controle de predadores, além da preservação de áreas naturais, são essenciais.

O potoroo de Gilbert é um dos marsupiais mais raros e ameaçados do mundo. Sua sobrevivência depende de um esforço contínuo de conservação, incluindo a criação de refúgios em ilhas, controle de predadores e programas de reprodução. Embora a espécie tenha enfrentado desafios significativos, há uma esperança de que, com a intervenção adequada, o potoroo possa evitar a extinção e continuar a desempenhar seu papel ecológico nos ecossistemas australianos.

 Fontes: Galileu, Government of Western Australia, ABC News, Australian Geographic, WA Parks Foundation, DCCEEW, The Conversation, DNA Zoo, Ferrebeekeeper, Animal Diversity, Gilbert's Potoroo Action Group

Fotos: Potoroo de Gilbert_ todas as três fotos são de Jiri Lochman