Redescoberta e conservação do beija-flor-de-Santa-Marta nas montanhas da Colômbia


 O beija-flor-de-Santa-Marta (Campylopterus phainopeplus), é uma das espécies de beija-flores mais raras e enigmáticas do mundo. Endêmico das montanhas da Sierra Nevada de Santa Marta, no norte da Colômbia, este pássaro de brilho iridescente permaneceu perdido para a ciência por mais de seis décadas, até ser redescoberto em 2010. No entanto, sua verdadeira redescoberta e o início de um estudo mais detalhado sobre a espécie ocorreram apenas em 2022, gerando grande entusiasmo na comunidade ornitológica global.

Redescoberta e importância científica

Após ter sido coletado pela primeira vez em 1946 e documentado novamente em 2010, o beija-flor-de-Santa-Marta foi considerado uma das espécies "perdidas" mais procuradas, na Search for lost Birds (busca por pássaros perdidos), uma colaboração entre a American Bird Conservancy,  Re:wild e  BirdLife International .

Em 2022 a espécie foi redescoberta, o que marcou o início de um estudo aprofundado em colaboração com várias instituições, incluindo a American Bird Conservancy (ABC), a Universidad Nacional de Colombia , SELVA , ProCAT Colombia e World Parrot Trust. Esta redescoberta trouxe à tona novos dados comportamentais e ecológicos que antes eram desconhecidos.

Características morfológicas e de identificação

O beija-flor-de-Santa-Marta é um beija-flor relativamente grande, atingindo cerca de 13 cm de comprimento. Os machos apresentam plumagem predominantemente verde, com a testa e a parte superior do corpo em um verde brilhante, e garganta e peito em um azul iridescente. A cauda é de um azul-escuro, quase preto. As fêmeas, por sua vez, são menos vistosas, com a parte inferior do corpo em um tom cinza e flancos verdes. Ambos os sexos possuem uma característica mancha branca atrás dos olhos.


Habitat e distribuição

Este beija-flor é encontrado exclusivamente nas encostas sudeste e norte da Sierra Nevada de Santa Marta, uma área conhecida por sua biodiversidade e endemismo. Vivendo em florestas úmidas de alta altitude, o beija-flor-de-Santa-Marta exibe um comportamento de migração altitudinal. Durante a estação seca, de fevereiro a maio, ele habita altitudes entre 1.200 e 1.800 metros, enquanto na estação chuvosa, de junho a outubro, migra para regiões de páramo, a altitudes de até 4.800 metros. Sua associação com florestas ribeirinhas e a dependência de flores de bananeira nas bordas da floresta fazem deste habitat essencial para sua sobrevivência.

Status de conservação e ameaças

O beija-flor-de-Santa-Marta é classificado como Criticamente Ameaçado (CR) na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN. As principais ameaças à espécie incluem a destruição e fragmentação do habitat, que têm sido exacerbadas pelo desmatamento para a agricultura nas montanhas de Santa Marta. Estima-se que apenas 15% da floresta original permaneça intacta, o que representa um risco significativo para a sobrevivência desta espécie já rara e de distribuição extremamente restrita.

Comportamento e ecologia

A ecologia do beija-flor-de-Santa-Marta ainda é pouco compreendida, mas estudos recentes começaram a preencher lacunas significativas. Observações de campo indicam que os machos mantêm territórios durante todo o ano e formam locais de exibição usados para atrair fêmeas. Esses territórios parecem estar fortemente associados à presença de cursos d'água, o que torna a proteção desses habitats vital para a conservação da espécie. Há também indícios de que, ao contrário do que se especulava anteriormente, o beija-flor-de-Santa-Marta pode não ser um migrante altitudinal, permanecendo em territórios específicos ao longo do ano.


Esforços de conservação e colaboração

A redescoberta do beija-flor-de-Santa-Marta em 2022 motivou um esforço colaborativo entre cientistas, conservacionistas e comunidades indígenas locais. A American Bird Conservancy, junto com parceiros internacionais, tem trabalhado estreitamente com essas comunidades para promover a conservação da espécie e de seu habitat. Este esforço inclui não apenas a pesquisa contínua sobre a ecologia da ave, mas também a exploração de oportunidades para o ecoturismo, que pode beneficiar tanto as comunidades locais quanto a preservação do beija-flor-de-Santa-Marta.

O beija-flor-de-Santa-Marta representa um dos maiores enigmas da ornitologia colombiana. Sua redescoberta e os avanços nas pesquisas sobre a espécie trazem esperança para sua conservação, mas também ressaltam a necessidade urgente de proteção de seu habitat. A colaboração entre cientistas, conservacionistas e comunidades locais será fundamental para garantir a sobrevivência desta espécie extraordinária, que continua a encantar e a intrigar pesquisadores ao redor do mundo.

Fontes: BioRXyv, Colossal, Search for lost Birds, BirdLife International, Birds of the World, Oiseaux.net,, Sci News, ABC Birds, Nicholas Rougeaux, Birds Colombia

 Fotos: Beija-flor-de-Santa Marta_by Carole Turek (As três fotos)