A tartaruga-mata-mata-do-Orinoco (Chelus orinocensis) representa uma recente e
significativa adição à biodiversidade da América do Sul, com sua descoberta
anunciada em abril de 2020. Esta espécie de tartaruga de água doce é
nativa das bacias hidrográficas do Orinoco, onde se distingue de sua parente
próxima, a Chelus fimbriata, que habita a Bacia Amazônica.
Descoberta e identificação da espécie
Em abril de 2020, um estudo
publicado na revista Molecular
Phylogenetics and Evolution revelou a existência de uma nova espécie de tartaruga
mata-mata, a Chelus orinocensis. Pesquisadores de diversos países,
incluindo Brasil, Colômbia, Alemanha e Reino Unido, utilizaram análises
genéticas e morfológicas para diferenciar esta espécie de sua congênere
amazônica, Chelus fimbriata. Este estudo baseou-se em 75 amostras de
DNA, evidenciando a separação genética entre as populações das bacias do
Amazonas e do Orinoco, com uma divergência que data de aproximadamente 13
milhões de anos.
Características morfológicas
A Chelus orinocensis é
conhecida por sua aparência peculiar, que inclui uma cabeça achatada e
triangular, um pescoço grosso e alongado, narinas que se assemelham a um
snorkel e pequenas abas de pele na cabeça e no pescoço. Esta espécie também
possui uma carapaça fortemente tuberculada de três quilhas, que pode atingir
até 53 cm de comprimento. Em comparação com a Chelus fimbriata, a Chelus
orinocensis apresenta uma carapaça mais ovalada e uma coloração mais clara,
com um plastrão amarelo-claro não pigmentado, ao contrário do plastrão escuro
da Chelus fimbriata.
Distribuição geográfica
A Chelus orinocensis
habita principalmente as bacias dos rios Orinoco e Rio Negro, abrangendo áreas
na Colômbia, Venezuela e Brasil. Especificamente, pode ser encontrada no estado
do Amazonas, incluindo localidades como Ariaú, Barcelos e Igarapé Babi, bem
como no estado de Roraima, na cidade de Boa Vista. Na Colômbia, a espécie é
encontrada em áreas como Puerto Carreño, na Reserva Natural Bojonawi, e ao
longo dos afluentes dos rios Orinoco e Meta. Na Venezuela, a tartaruga é
encontrada em regiões como La Unión, no rio Orinoco.
Ecologia e comportamento
A Chelus orinocensis, como
a Chelus fimbriata, é um predador de emboscada que se alimenta
principalmente de peixes. Utiliza sua camuflagem natural, com algas
frequentemente cobrindo sua carapaça e cabeça, para se esconder na lama e
capturar presas desavisadas. Sua técnica de alimentação é altamente
especializada, utilizando os ossos únicos de seu crânio para criar uma sucção
poderosa que atrai suas presas.
Conservação e Ameaças
Embora a distribuição da Chelus
orinocensis seja ampla, a descoberta de que existem duas espécies separadas
de tartarugas mata-mata indica que as populações individuais de cada
espécie são menores do que se pensava anteriormente. Além disso, a Chelus
orinocensis é frequentemente coletada para o comércio ilegal de animais
de estimação na Colômbia e na Venezuela, o que representa uma ameaça
significativa para a espécie. A captura e o comércio ilegais, juntamente
com a necessidade de mais estudos para avaliar o estado de conservação dessas
populações, destacam a urgência de implementar medidas de conservação efetivas.
A identificação da Chelus orinocensis como uma espécie distinta da Chelus fimbriata é um marco importante para a herpetologia e para a conservação da biodiversidade sul-americana. As diferenças genéticas e morfológicas entre essas espécies ressaltam a complexidade dos ecossistemas aquáticos da região e a importância de esforços contínuos para proteger essas tartarugas únicas contra a exploração e a perda de habitat.
Fotos: Tartaruga-mata-mata-do Orinoco_By William W. Lamar e tartaruga-mata-mata-do-Orinoco_By Wilson Lombana Riaño