A redescoberta e recuperação do takahē: um tesouro da fauna neozelandesa


O takahē (Porphyrio hochstetteri) também conhecido como notornis, é uma espécie notável de ave não voadora, endêmica da Nova Zelândia. A sua história é marcada por desafios de sobrevivência, esforços de conservação e significância cultural. Originalmente considerado extinto, o takahē foi redescoberto em 1948 e desde então tornou-se um ícone da conservação na Nova Zelândia.

Características físicas e biológicas

O takahē é a maior ave da família Rallidae, medindo cerca de 50 cm de altura e pesando entre 2,3 e 3,8 kg. Possui penas de um azul escuro na cabeça, pescoço e peito, com tons de turquesa iridescente e verde oliva nas asas e costas. Suas pernas robustas e bico grande são de um vermelho brilhante. Embora incapazes de voar, suas asas são utilizadas para exibição durante o namoro ou demonstrações de agressão. A expectativa de vida do takahē na natureza varia entre 16 a 18 anos.

Comportamento e ecologia

Os takahēs são altamente territoriais e vivem em pares ou pequenos grupos familiares. Os pares defendem seu território por meio de chamadas ou confrontos físicos, retornando às mesmas áreas de reprodução anualmente. Eles se alimentam principalmente de bases de folhas de gramíneas de tufos e rizomas de samambaias durante o inverno.

A reprodução ocorre de setembro a janeiro, com a fêmea colocando de um a três ovos. Ambos os pais participam da incubação e alimentação dos filhotes. A criação de marionetes e incubação artificial têm sido utilizadas para maximizar a produtividade em programas de conservação.

História e redescoberta

Supõe-se que os antecessores do takahē tenham chegado à Nova Zelândia vindos da Austrália há milhões de anos. Após se estabelecerem no novo ambiente e na ausência de predadores naturais, eles cresceram em tamanho e perderam a habilidade de voar. Essa adaptação quase resultou em sua extinção quando os exploradores polinésios descobriram a região e começaram a caçá-los como uma fonte fácil de alimento. No século XIX, a chegada dos colonizadores europeus, acompanhados de seus animais introduzidos como ratos, gatos, cães, porcos, ovelhas e veados, causou um declínio acentuado na população de takahē. Em 1898, a espécie foi oficialmente declarada extinta.

Considerado extinto em 1898 após a coleta dos últimos espécimes conhecidos, o takahē foi redescoberto em 1948 nas montanhas Murchison, acima do Lago Te Anau, Fiordland. Este evento marcou o início de um dos programas de conservação mais longos e rigorosos da Nova Zelândia.

A redescoberta do takahē lançou o mais antigo programa de espécies ameaçadas da Nova Zelândia. Desde então, esforços incluem técnicas pioneiras de conservação, reprodução em cativeiro, translocações em ilhas livres de predadores e solturas na natureza. Atualmente, a população de takahē é de aproximadamente 500 indivíduos, com um crescimento anual de 8%.

Habitat e distribuição

Os takahēs habitam principalmente pastagens alpinas e planícies fluviais de Fiordland, migrando para florestas de faias adjacentes durante o inverno. Em outros locais, preferem áreas de pastagens com arbustos dispersos. A vegetação regenerada em antigos pastos agrícolas também constitui parte do seu habitat.

Embora originalmente distribuídos por toda a Ilha Sul, a população remanescente foi encontrada nas montanhas Murchison. Programas de translocação estabeleceram populações adicionais em várias ilhas offshore e reservas continentais, tornando-os mais acessíveis a muitos neozelandeses.

Ameaças aos takahēs

Os principais predadores dos takahēs são os mamíferos introduzidos, como arminhos e gatos selvagens. Competição por alimento com veados também representa uma ameaça significativa, afetando o crescimento das pastagens de tufos, fonte principal de alimento do takahē. Embora os takahēs tenham um tamanho que podem enfrentar os arminhos, seus filhotes são extremamente vulneráveis. Como exemplo da destruição que podem causar esses pequenos mamíferos, em 2007, houve uma praga de arminhos que reduziu pela metade a população de takahē nas montanhas de Murchison.

Esforços de conservação

A redescoberta do takahē marcou o início do programa de conservação que durante mais de sete décadas, foram implementadas medidas para assegurar que os takahē nunca mais fossem considerados extintos, incluindo técnicas inovadoras de conservação, reprodução em cativeiro, translocação para ilhas e reintrodução em habitats naturais.

O controle de predadores, a reprodução em cativeiro e a translocação têm sido cruciais para a sobrevivência do takahē. A captura de arminhos e gatos selvagens reduziu o número de predadores, essencial para a manutenção das populações selvagens. Programas de criação intensiva e gerenciamento genético também são implementados para evitar a endogamia e aumentar a diversidade genética.

O governo da Nova Zelândia, em parceria com a tribo Ngāi Tahu, tem investido continuamente em esforços de conservação. As ações incluem reprodução em cativeiro, reintrodução na natureza e translocação entre ilhas. Tais esforços têm sido fundamentais para a recuperação e aumento da população de takahē.

Enquanto o governo da Nova Zelândia qualifica o takahē como nacionalmente vulnerável, a IUCN o mantém na lista vermelha como em perigo de extinção (EN).

Significância cultural

Para os Ngāi Tahu, tribo Māori da Ilha Sul, o takahē tem um profundo significado cultural e espiritual. Considerado um taonga (tesouro), a ave simboliza a herança natural e cultural da região. Recentemente, 18 takahēs foram reintroduzidos no Vale de Greenstone, em terras de propriedade dos Ngāi Tahu, restaurando uma conexão cultural há muito perdida. Devido sua importância cultural o takahē tem figurado em selos postais da Nova Zelândia.

O takahē é um símbolo de resiliência e dedicação à conservação. Sua história, marcada por extinção e redescoberta, demonstra a importância de esforços contínuos e colaborativos para preservar a biodiversidade. A parceria entre o governo neozelandês e os Ngāi Tahu é um exemplo de como a conservação pode integrar significados culturais e objetivos ecológicos.

Fontes: Otago Daily Times, Te Ara, Programa de Recuperação do Takahe,, Island Conservation, Libertatea, BBVA OpenMind, Metrópoles, New Zealand Birds Online, Conexão Planeta, BBC, Conservation.blog (NZ Department of Conservation), Science Learning Hub 

Fotos: Takahe_by Christina Troup e segunda foto: Takahe_família_ By Tui De Roy_NZ Department of Conservation e terceira foto: Takahae_ by Sam Haultain e figura: Takahe_Selo postal