O crocodilo-siamês: biologia, conservação e os esforços de reintrodução no Sudeste Asiático


 O crocodilo-siamês (Crocodylus siamensis) é um réptil de água doce criticamente ameaçado, antes encontrado em várias regiões do Sudeste Asiático, incluindo Bornéu, Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Tailândia, Camboja e Vietnã. Embora historicamente amplamente distribuído, este crocodilo está agora extinto na maioria desses países, exceto no Camboja, onde esforços significativos de conservação têm sido implementados após a descoberta de exemplares selvagens remanescentes.

Distribuição e habitat

O crocodilo-siamês historicamente habitava grande parte do Sudeste Asiático, no entanto, a espécie está quase extinta em grande parte dessa região, sobrevivendo principalmente no Camboja. Esses crocodilos preferem habitats de água doce, como rios de fluxo lento, lagos, lagoas sazonais, pântanos e brejos, variando desde o nível do mar até elevações de até 600 metros nas Montanhas Cardamomo.

Características físicas

Os crocodilos-siameses são de porte médio, com um focinho relativamente largo e liso, e possuem uma crista óssea elevada atrás de cada olho. A cor do corpo varia de verde-oliva a verde-escuro, o que lhes proporciona uma camuflagem eficaz em seus habitats aquáticos. Espécimes jovens medem de 1,2 a 1,5 metros e pesam de 6 a 12 kg, enquanto adultos podem atingir até 3 metros de comprimento e pesar entre 40 e 70 kg. Grandes machos podem chegar a 4 metros e 350 kg, e as maiores fêmeas podem medir até 3,2 metros e pesar 150 kg.

Biologia e comportamento

Os crocodilos-siameses têm uma dieta composta principalmente de peixes, cobras, anfíbios e pequenos mamíferos. Apesar das preocupações com a conservação, muitos aspectos de sua biologia reprodutiva na natureza permanecem desconhecidos. Em cativeiro, eles se reproduzem durante a estação chuvosa, colocando entre 20 e 50 ovos. Após a incubação, a fêmea ajuda os filhotes a sair dos ovos e os leva para a água em sua boca. Geralmente, esta espécie é pouco agressiva com os seres humanos, com poucos ataques registrados, todos não fatais.

Criação de crocodilos-siameses em cativeiro para fins comerciais

A criação de crocodilos-siameses em cativeiro tem se mostrado economicamente significativa, especialmente em países como Tailândia, Vietnã, Camboja e China. Estima-se que existam 1,53 milhões de crocodilos-siameses em cativeiro, mantidos em fazendas comerciais. Essas fazendas visam a produção de couro fino, carne e outros produtos derivados, com Hong Kong e China sendo os maiores importadores. A criação em cativeiro também envolve hibridização com outras espécies de crocodilos, visando melhorar as qualidades comerciais dos animais. As fazendas comerciais têm contribuído para a economia agrícola dessas regiões, mas também representam um desafio para a conservação das populações selvagens devido à captura ilegal e à hibridização.

Estado de conservação

O crocodilo-siamês é classificado como criticamente ameaçado na Lista Vermelha da IUCN e está listado no Apêndice I da CITES. A destruição de habitat, caça ilegal e perseguição são as principais ameaças à espécie. A perda de habitat é causada por várias atividades humanas, incluindo a conversão de pântanos para agricultura, uso de fertilizantes químicos, pesticidas na produção de arroz e aumento da população de gado. Além disso, a construção de represas no alto rio Mekong e seus principais tributários tem um impacto significativo, alterando ciclos de inundação e destruindo habitats.

Esforços de conservação

Desde a redescoberta de crocodilos-siameses selvagens nas Montanhas Cardamomo do Camboja em 2000, esforços significativos de conservação foram implementados por diversas organizações. A Fauna & Flora International (FFI), em parceria com a Administração Florestal do Governo do Camboja, liderou programas de criação em cativeiro e reintrodução, além de treinamento de guardas florestais e monitoramento de áreas protegidas. A Wildlife Conservation Society (WCS) colabora no Laos, focando em abordagens de conservação comunitária e programas de reintrodução. No Vietnã, a World Wildlife Fund (WWF) trabalha para proteger os Santuários de Vida Selvagem de Srepok e Phnom Prich. Essas organizações, junto com ONGs locais e comunidades indígenas, têm sido cruciais para a proteção de habitats, reintrodução de crocodilos em áreas seguras e promoção de sustentabilidade econômica através de iniciativas de ecoturismo.

Sucessos recentes

Em um evento recente que trouxe esperança para a conservação da espécie, 60 filhotes de crocodilos siameses nasceram nas Montanhas Cardamomo, neste ano de 2024, um recorde de nascimentos neste século. A descoberta de ninhos em áreas onde os crocodilos não tinham sido previamente libertados indica que a espécie está começando a se reproduzir em seu habitat natural. Este sucesso é atribuído a esforços colaborativos de conservação envolvendo ONGs locais, conservacionistas e o governo cambojano.

Apesar dos sucessos recentes, muitos desafios permanecem. A captura ilegal de crocodilos selvagens para fazendas de crocodilos continua sendo uma ameaça constante. Além disso, a fragmentação das populações remanescentes e a baixa taxa de reprodução na natureza complicam os esforços de recuperação. A conservação eficaz do crocodilo-siamês exige uma abordagem multifacetada, incluindo proteção de habitat, criação em cativeiro, reintrodução e envolvimento comunitário.

Em suma, o crocodilo-siamês é um dos répteis mais ameaçados do mundo, com menos de 1.000 indivíduos restantes na natureza. Esforços de conservação no Camboja, Tailândia, Vietnã e Laos oferecem esperança para a recuperação desta espécie. No entanto, a sobrevivência a longo prazo do crocodilo-siamês depende da implementação contínua de estratégias de conservação eficazes, proteção rigorosa de habitats e envolvimento das comunidades locais na proteção desses animais.

Fontes: Terra, Britannica, AFD, WCS - Laos, National Geographic.Fr, Earth.org, Globe, BBC, VEJA, Thai National Parks, Crocodiles of the world, Animalia.bio

Fotos: Crocodilo-siamês_ by Seasav e segunda foto: Crocodilo-siamês_by Thomas