O arapaçu-do-carajás (Xiphocolaptes
carajaensis) é uma espécie de ave endêmica do Brasil,
especificamente restrita ao Centro de Endemismo Xingu. Esta área,
localizada entre a margem leste do rio Xingu e a margem oeste do rio Tocantins,
é importante por abrigar várias espécies únicas, incluindo o Xiphocolaptes
carajaensis, que foi descoberto na Serra dos Carajás, no Pará. Esta espécie
possui características físicas e comportamentais peculiares, que a diferenciam
de outras aves da mesma família. É considerada vulnerável à extinção.
Características físicas e comportamentais
O arapaçu-do-carajás mede
aproximadamente 30 centímetros do extremo da cauda à ponta do bico e pesa cerca
de 110 gramas. Sua plumagem é marcante: o corpo é coberto por penas
marrom-esverdeadas, enquanto as asas e a cauda são castanhas. As estrias
brancas na cabeça são mais largas em comparação com outras espécies do gênero
Xiphocolaptes, e sua asa, cauda e bico são menores. Esse arapaçu sobe nos
troncos das árvores utilizando a cauda como apoio, comportamento semelhante ao
dos pica-paus.
Em termos de comportamento, o arapaçu-do-carajás
habita florestas de terra firme, sendo uma espécie incomum e local. É altamente
sensível a alterações no habitat e, geralmente, é encontrado sozinho, embora
frequentemente acompanhe bandos mistos. Esta espécie também segue formigas de
correição e domina sobre outras aves nessas ocasiões. Preferencialmente,
forrageia no sub-bosque mais alto, mas pode explorar outros estratos da
floresta.
Reprodução e hábitos
A reprodução do arapaçu-do-carajás
ocorre em ocos de árvores, onde a espécie aproveita orifícios já existentes
para construir seus ninhos. Os ninhos são forrados com pedaços de casca ou
folhas secas. Os arapaçus têm um canto característico composto por uma série de
assovios que se inicia com uma nota mais alta, sendo mais facilmente ouvido
durante a época de reprodução, entre setembro e janeiro.
Distribuição e ocorrência
O Arapaçu-do-carajás é restrito ao Centro
de Endemismo Xingu, uma área com alta biodiversidade e presença de espécies
exclusivas. Suas ocorrências foram registradas em diversas Unidades de
Conservação, incluindo a Floresta Nacional de Carajás (Flona Carajás), Reserva
Biológica do Tapirapé (Rebio Tapirapé), Flona Caxiuanã, Flona Tapirapé-Aquiri e
a Área de Proteção Ambiental do Lago de Tucuruí. No entanto, a espécie é
considerada rara em levantamentos realizados em habitats adequados, como na
Floresta Nacional de Caxiuanã.
Ameaças e conservação
A principal ameaça ao arapaçu-do-carajás
é a perda, fragmentação e degradação de seu habitat, fatores exacerbados pela
sobreposição de sua distribuição com o Arco do Desmatamento. Esta área
tem sofrido uma intensa perda de cobertura vegetal, com estimativas indicando
que cerca de 60% da vegetação original foi destruída. Em 2004, já havia sido
registrada a perda de 27% da cobertura florestal do Centro de Endemismo
Xingu. A baixa densidade populacional da espécie e sua alta sensibilidade
ao desmatamento agravam ainda mais sua situação.
Modelos de perda populacional
baseados na perda de habitat para espécies com distribuição e características
ecológicas semelhantes projetam um declínio de 40 a 50% na população do arapaçu-do-carajás
ao longo de três gerações, o que corresponde a aproximadamente 15 anos. Com
base nesses modelos, infere-se um declínio populacional de pelo menos 30% tanto
nas três gerações passadas quanto nas três futuras. Por essas razões, o Xiphocolaptes
carajaensis foi categorizado como vulnerável.
O arapaçu-do-carajás é uma
espécie endêmica de extrema importância para o Centro de Endemismo Xingu.
A conservação desta ave é essencial, dado o seu papel no ecossistema e a
crescente ameaça de perda de habitat. Medidas eficazes de conservação são
necessárias para assegurar a sobrevivência dessa espécie única e preservar a
biodiversidade da região.
Fontes: ARA, SALVE_ICMBio, Fapesp, WikiAves, Táxeus, SiBBr, Avibase
Fotos: Arapaçu-do-Carajás_by Hecto Bottai e segunda foto: Arapaçu-do-Carajás_by Luiz Matos