Distribuição, ecologia e ameaças ao bugio-vermelho-do-Rio-Purus na Amazônia


 O bugio-vermelho-do-rio-Purus (Alouatta puruensis) é uma espécie de primata da família Atelidae, encontrada predominantemente na Amazônia, no Brasil e no Peru. É um dos primatas menos estudados e que demandam mais pesquisas para melhor compreensão de sua ecologia.

Distribuição geográfica e habitat

Alouatta puruensis ocorre em uma ampla faixa da Amazônia Ocidental, incluindo os estados brasileiros do Acre, Amazonas, Rondônia e Mato Grosso, além de regiões do Peru. A espécie habita as florestas da bacia dos rios Purus e Madeira, preferindo florestas sazonalmente inundáveis, como várzeas e igapós, e florestas de galeria. Embora também possa ser encontrada em florestas de terra firme, sua densidade populacional é geralmente maior em florestas de várzea. A presença desta espécie em florestas primárias e secundárias demonstra sua adaptabilidade a diferentes tipos de habitats florestais.

Características morfológicas e comportamentais

O bugio-vermelho-do-rio-Purus apresenta dicromatismo sexual, onde machos possuem pelagem ruiva escura com o dorso levemente dourado, enquanto as fêmeas têm pelagem mais clara, quase dourada. Grupos de Alouatta puruensis são pequenos e coesos, variando de 2 a 16 indivíduos, com uma média de 4 a 10. Cada grupo tipicamente inclui um macho adulto dominante, de duas a cinco fêmeas, machos subadultos e juvenis de várias idades. A espécie é conhecida por suas vocalizações potentes, audíveis a distâncias de 1-2 km, usadas para comunicação dentro do grupo e para marcar território.

Dieta e atividade

Como outros membros do gênero Alouatta, o bugio-vermelho-do-rio-Purus tem uma dieta folívoro-frugívora, complementada por flores e outros itens vegetais. Eles passam até 70% do dia descansando e fermentando folhas em seus cecos dilatados. Possuem cauda preênsil, utilizada para locomoção e manipulação de alimentos. A dieta desta espécie inclui folhas maduras, jovens, frutas maduras (especialmente figos silvestres), pecíolos de folhas, botões, flores, sementes, musgo, caules, galhos e cupins. A capacidade de consumir folhas maduras permite uma ampla distribuição e adaptação a diversos tipos de vegetação.

Ameaças e conservação

A espécie enfrenta várias ameaças significativas, principalmente a degradação e perda de habitat devido ao desmatamento, agricultura, pecuária e expansão de infraestruturas, como rodovias e hidrelétricas. As rodovias BR-230 (Transamazônica) e BR-319 são exemplos de projetos que impactam negativamente a população de Alouatta puruensis. A caça também representa uma ameaça, embora menos intensa em certas áreas devido a fatores culturais.

Uma das regiões mais críticas para a conservação do bugio-vermelho-do-rio-Purus é o chamado "arco do desmatamento", que abrange partes do Mato Grosso, Rondônia e leste do Acre. Esta região é caracterizada por elevadas taxas de desmatamento, impulsionadas pela expansão agrícola e pecuária, além do desenvolvimento de infraestrutura. A perda de habitat nesta área é particularmente preocupante, pois resulta na desconexão de habitats, redução de áreas de floresta e aumento da vulnerabilidade da espécie à caça e outros impactos antrópicos.

Os predadores naturais do bugio-vermelho-do-rio-Purus incluem a harpia (Harpia harpyja) e a jibóia (Boa constrictor). Embora a predação por mamíferos carnívoros não seja registrada, a presença de aves de rapina e grandes serpentes representa uma ameaça constante. Registros de tentativas de predação por harpias e casos bem-sucedidos por jibóias exemplificam os desafios de sobrevivência enfrentados pela espécie na natureza.

Situação dos bugios-vermelhos-do-rio-Purus na Amazônia peruana

No Peru, as populações de bugios vermelhos também enfrentam desafios significativos. A colonização humana, a caça e o desmatamento têm contribuído para a diminuição das populações, especialmente nas partes mais baixas da selva alta, como no vale de Chanchamayo, no Departamento de Junín, onde a espécie foi extirpada. A proteção efetiva das florestas e a implementação de políticas de conservação são essenciais para garantir a sobrevivência da espécie no país.

Presença em áreas protegidas

Apesar das ameaças, Alouatta puruensis está presente em várias áreas protegidas. No Amazonas, pode ser encontrada no PARNA Mapinguari, REBIO Abufari, e RDS Estadual Piagaçu-Purús, entre outros. Em Rondônia, a espécie ocorre na REBIO Guaporé, PARNA Serra da Cutia, e outras reservas. No Acre, é encontrada na ESEC Rio Acre e Floresta Estadual Antimary. Em Mato Grosso, ocorre na ESEC Iquê. A presença em áreas protegidas oferece uma esperança para a conservação da espécie, embora a efetividade dessas áreas dependa de políticas de manejo adequadas e da mitigação das ameaças externas.

Status de conservação

A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) classifica Alouatta puruensis como vulnerável. Apesar de sua ampla distribuição, a espécie enfrenta baixa densidade populacional em certos habitats e uma ocupação descontínua, exacerbada pela intensa atividade humana nas áreas sul de sua distribuição, como Mato Grosso, Rondônia e leste do Acre. A criação de novas áreas protegidas e a melhoria na gestão das existentes são medidas essenciais para assegurar a preservação a longo prazo deste primata.

Em suma, o bugio-vermelho-do-rio-Purus é uma espécie emblemática da Amazônia, com características únicas e uma distribuição ampla, mas fragmentada. As ameaças contínuas ao seu habitat e a caça intensificam a necessidade de esforços de conservação. Proteger suas florestas nativas e implementar medidas eficazes contra o desmatamento e a caça são cruciais para garantir a sobrevivência desta espécie vulnerável.

Fontes: ICMBio, Carnívora, Tede/PUCRS, Zoo/DF, SiBBr, The National red list project, ,Springer, Primate biology, Hidrelétrica Teles Pires, Mongabay

Fotos: Bugio-vermelho-do-rio-purus_Bruno Rennó E imagem: Distribuição do bugio-vermelho-do-rio-purus_Wikimedia Commons