Desmatamento e caça: as principais ameaças ao raro jacamim-do-Xingu


 O jacamim-do-Xingu (Psophia interjecta) é uma ave gruiforme da família Psophiidae, endêmica da Amazônia brasileira. Sua distribuição ocorre ao sul do rio Amazonas, especificamente no interflúvio entre os rios Xingu-Tocantins e Tocantins-Araguaia.

Distribuição geográfica e habitat

Psophia interjecta é encontrada exclusivamente na Amazônia brasileira, ao sul do rio Amazonas. Sua ocorrência é delimitada a leste pelo rio Xingu e a oeste pelo rio Tocantins. A espécie ocupa florestas primárias de terra firme, sendo intolerante a habitats alterados. A floresta amazônica no Tocantins foi drasticamente reduzida a cerca de 20% de sua extensão original, afetando severamente a população dessa ave na região.

Biologia e ecologia

Os jacamins são aves predominantemente terrestres que habitam a floresta amazônica. Alimentam-se de frutos, insetos e pequenos vertebrados. Essas aves são naturalmente raras e ocorrem em baixas densidades. Elas são sensíveis a alterações de habitat e preferem florestas primárias. O tempo geracional de espécies similares é estimado em cerca de 10 anos.

Estado de conservação

O jacamim-do-Xingu é categorizado como Em Perigo (EN) pela publicação SAVE do ICMBio devido à sua sensibilidade à alteração de habitat e à intensa pressão de caça. Modelagens projetam uma perda de habitat para a espécie entre 30% e 60% entre os anos de 2002 e 2032, o que se refletirá em uma perda populacional equivalente ou superior. Estima-se que a perda de habitat, juntamente com a caça predatória, possa levar a uma redução populacional significativa, superior a 30% em três gerações.

Ameaças

A maior ameaça ao jacamim-do-Xingu reside na combinação do desmatamento e da caça predatória. A espécie é muito procurada por caçadores devido ao seu porte robusto, com mais de 2 kg. A raridade natural e a sensibilidade à alteração de habitat aumentam a vulnerabilidade dessa ave, que pode desaparecer rapidamente de áreas com ocupação humana. O estado de conservação das populações no interflúvio Tocantins-Araguaia é crítico, devido à alta taxa de desmatamento na região. A espécie tem presença na região conhecida como “arco do desmatamento” que é considerada como de maior ocorrência de destruição de floresta na região amazônica, o que agrava a condição de sobrevivência do jacamim-do-Xingu


Medidas de conservação

Para proteger o jacamim-do-Xingu, especialistas recomendam várias ações, especialmente no estado do Tocantins. Entre as principais medidas estão: (1) suspender todas as atividades madeireiras na floresta ombrófila; (2) promulgar uma lei estadual de desmatamento zero, abrangendo todos os tipos de floresta; e (3) estabelecer proteção integral em áreas protegidas públicas e privadas, incluindo Reservas Biológicas (REBIO), Refúgios de Vida Silvestre (REVIS) e Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN).

Presença em unidades de conservação

A espécie está presente em várias Unidades de Conservação, como a Floresta Nacional (FLONA) de Carajás, FLONA de Caxiuanã, FLONA de Tapirapé-Aquiri, Reserva Biológica (REBIO) Tapirapé, Área de Proteção Ambiental (APA) do Lago de Tucuruí e Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Fazenda Pioneira. Essas áreas desempenham um papel crucial na preservação da espécie, oferecendo refúgios onde a caça e o desmatamento são controlados.

O jacamim-do-Xingu enfrenta um futuro incerto devido às graves ameaças do desmatamento e da caça. A implementação de medidas de conservação rigorosas e a proteção de seu habitat são essenciais para a sobrevivência desta espécie rara e emblemática da Amazônia. Somente com esforços conjuntos de conservação será possível garantir a continuidade desta ave na biodiversidade amazônica.

Fontes: Salve, Wiki Aves, ARA, Check List, Avibase, Natureza e conservação

Fotos: Jacamim-do-Xingu_by Luiz Fernando Matos e segunta foto: Jacamin-do-Xingu_by Daniesser