Cágado-do-paraíba: preservando o raro quelônio da Mata Atlântica


 O cágado-do-paraíba (Ranacephala hogei), também conhecido como cágado-de-hogei, cágado-de-hoge e cágado-do-paraíba-do-sul, é uma espécie de quelônio semiaquático endêmico da Mata Atlântica brasileira. Sua distribuição é restrita à Mata Atlântica, particularmente na bacia do rio Paraíba do Sul e áreas adjacentes, incluindo o estado do Rio de Janeiro, sul de Minas Gerais e Espírito Santo. A espécie é atualmente classificada como vulnerável pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), com sua população em declínio. É considerada uma das 25 espécies de quelônios de água doce mais ameaçadas do mundo.

Distribuição e Habitat

O cágado-do-paraíba habita ambientes de água doce da Região Hidrográfica do Sudeste. Preferencialmente, esses quelônios ocupam locais de remanso próximos às corredeiras, onde se alimentam de frutos de figueira e outras vegetações aquáticas. A presença desses cágados é fortemente influenciada pela qualidade da água, o que torna sua distribuição extremamente fragmentada. Possui registros confirmados para o estado do Rio de Janeiro nos rios Mocotó, Paraíba do Sul, Negro e Pirapetinga; para o sul do estado de Minas Gerais, nos rios Carangola, São Mateus e Pomba; e para o estado do Espírito Santo nos rios Itapemirim e Itabapoana.

Em março de 2024, pesquisadores fizeram uma descoberta significativa ao encontrar cinco indivíduos do cágado-do-paraíba na Floresta Nacional de Pacotuba (Flona), no interior de Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo. A descoberta ocorreu durante uma pesquisa de campo, na qual foram instaladas armadilhas aquáticas nas margens do rio Itapemirim. Esse achado é particularmente relevante, pois indicou que a espécie está desovando na área preservada da unidade, um fenômeno inédito em uma unidade de conservação federal no Brasil.

Características e Vulnerabilidades

Estudos genéticos revelaram que o cágado-do-paraíba possui baixos níveis de diversidade genética, consequência de um possível gargalo populacional no passado. Isso aumenta sua vulnerabilidade a doenças e à incapacidade de adaptação a mudanças ambientais. Os machos podem atingir até 38 cm de comprimento de carapaça, enquanto as fêmeas chegam a 34 cm. A carapaça é oval, sem quilha, variando do marrom claro ao escuro. A espécie é reconhecida pela cabeça estreita com dois longos barbilhões.

Ameaças à Sobrevivência

A principal ameaça à sobrevivência do cágado-do-paraíba é a degradação do seu habitat. O desmatamento das matas ciliares, especialmente na bacia do rio Paraíba do Sul, tem levado à fragmentação severa da população e à deterioração da qualidade da água. Além disso, a expansão demográfica, o desenvolvimento econômico desordenado e a poluição das águas agravam a situação. Planos para a construção de empreendimentos hidrelétricos também representam um risco significativo para a espécie. Outra ameaça emergente é a invasão de javalis (Sus scrofa) na região do Vale de Carangola, que predam ovos e filhotes de cágados, impactando ainda mais a população local.

Conservação e Manejo

Diversas iniciativas de conservação têm sido implementadas para proteger o cágado-do-paraíba. Em 2016, a Fundação Biodiversitas inaugurou a Reserva Ninho da Tartaruga em Tombos, Minas Gerais, abrangendo seis quilômetros do rio Carangola. Esta reserva, dedicada à preservação da espécie, foi adquirida com o apoio da Rainforest Trust e Turtle Survival Alliance, entre outros parceiros. Também são parceiros do projeto o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios (RAN), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio); o Centro de Estudos Ecológicos e Educação Ambiental (CECO); e a Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) – Campus Carangola. Além disso, o cágado-do-paraíba foi incluído em programas de manejo ex situ em zoológicos e aquários brasileiros, como parte do acordo entre o ICMBio e a Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil (AZAB).

Importância da Conservação

A proteção e manejo do habitat do cágado-do-paraíba, juntamente com a participação ativa das comunidades locais, trazem esperança para a recuperação da espécie. A inclusão da espécie em Planos de Ação Nacionais (PANs) e a criação de reservas naturais específicas são passos importantes para sua conservação. A expectativa é que, através dessas ações, não apenas o cágado-do-paraíba, mas também outras espécies ameaçadas que compartilham o mesmo habitat, sejam preservadas.

Em resumo, o cágado-do-paraíba enfrenta uma série de desafios para sua sobrevivência, principalmente devido à degradação de seu habitat natural. No entanto, as recentes iniciativas de conservação e manejo trazem nova esperança para esta espécie ameaçada. A continuidade dessas ações é essencial para garantir que esse raro quelônio da Mata Atlântica não apenas sobreviva, mas também prospere em seu ambiente natural.

Fontes: A Gazeta, Amda, Gov.Br, Biodiversitas, SiBBr, Grafitti News, Cherepahi.ruSalve, Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios - ICMBio , Turtle Conservancy

Fotos: Cágado-do-paraíba_by Aline Pereira Mota e segunda foto: Cágado-do-paraíba_by Bvtinti