O papagaio-charão (Amazona pretrei), conhecido por sua coloração viva e comportamento distinto, é uma espécie endêmica do sul do Brasil, predominante nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Este papagaio não apenas se destaca pela sua beleza estética, com a máscara vermelha e plumagem verde, mas também por suas características únicas como espécie migratória e sua vocalização intensa, especialmente quando em grandes grupos.
Características Físicas e
Comportamentais
O papagaio-charão é um dos
menores papagaios brasileiros, medindo cerca de 35 cm e pesando aproximadamente
300g. Apresenta dimorfismo sexual moderado, sendo possível diferenciar o
macho da fêmea pela extensão da coloração vermelha na máscara e nas asas. Os
machos possuem uma máscara e espelhos vermelhos nas asas mais pronunciados do
que as fêmeas. Ambos os sexos exibem uma bela coloração verde com toques de
azul nas asas e amarelo nas pontas das caudas. A espécie é conhecida por sua
socialização, formando grandes grupos que podem chegar a milhares de
indivíduos, especialmente durante a busca por alimentos.
Dieta e Reprodução
Os hábitos alimentares do papagaio-charão
são especializados e variados. Sua dieta baseia-se principalmente nas sementes
do pinheiro-brasileiro (Araucaria angustifolia), mas também inclui
frutos de outras árvores nativas e exóticas como guabiroba, jabuticaba, e até
gemas florais de eucalipto. Durante o período de reprodução, que ocorre na
primavera e início do verão, os papagaios tendem a voar em grupos menores,
geralmente formados pelo casal, buscando áreas com capões de mato para
nidificação e alimentação.
Comportamento Migratório e
Conservação
Após a época de reprodução, os
papagaios migram para as áreas serranas do sudeste de Santa Catarina para
aproveitar a temporada de maturação das sementes de Araucária. Esse
fenômeno migratório, observado e documentado pelo Projeto Charão desde 1991,
mostra como essas aves percorrem grandes distâncias em busca de alimento,
retornando ao Rio Grande do Sul para um novo ciclo reprodutivo quando os
pinhões se tornam escassos.
Atualmente, o papagaio-charão é
visto ocasionalmente em unidades de conservação, já que as áreas principais que
utiliza para alimentação e reprodução estão em terras privadas. A espécie é
avistada de forma esporádica na Estação
Ecológica de Aracuri, no Parque Municipal de Carazinho, na Floresta
Nacional de Passo Fundo, no Parque Estadual de Rondinha e no Parque Municipal
da Sagrisa. No estado de Santa Catarina, os pinheirais que os charões
frequentam durante os meses de outono e inverno estão sob a proteção do Parque
Nacional de São Joaquim.
Ameaças e Esforços de Conservação
As principais ameaças ao papagaio-charão
incluem a perda de habitat devido à destruição das florestas de Araucária
e o comércio ilegal de filhotes. A redução dos habitats naturais e o
manejo inadequado dos capões de mato têm limitado as opções de nidificação para
esta espécie. Iniciativas como o Projeto
Charão têm sido fundamentais na pesquisa e conservação, focando na
sustentabilidade das florestas de Araucária e na criação de áreas de proteção
como apoiando a formação da RPPN Maragato, contribuindo na criação da RPPN UPF,
e coordenado a campanha pela criação da RPPN Papagaios-de-Altitude, em
Urupema/SC. De acordo com o projeto a população da espécie está em cerca de
20.000 aves.
O papagaio-charão é um ícone
da biodiversidade do sul do Brasil, cuja sobrevivência depende diretamente da
conservação das florestas de Araucária e da conscientização sobre as
ameaças que enfrenta. A dura realidade mostra que apesar de sua população
numerosa, o charão é uma espécie ameaçada que depende de florestas igualmente
ameaçadas para sua sobrevivência. No entanto, com esforços contínuos de
conservação e pesquisa, há esperança de que esta espécie vibrante e social
possa ser preservada para as gerações futuras.
Fontes: Parrots
Place, O Eco,
Fauna
News, Criadouro
Onça-pintada, Fauna
e Flora em Extinção, WikiAves, Projeto
Charão, Parque
das aves, UPF
Fotos: Papagaio-charão_by Hudson Garcia e segunda foto: Papagaio-charão_by Luiz Fernando Matos