A queixada (Tayassu pecari) é um emblemático mamífero pertencente ao gênero Tayassu, com ocorrência desde o sul do México até o nordeste da Argentina. No Brasil é amplamente distribuída, ocorrendo desde a floresta Amazônica até as matas do sul do país. Esta espécie está presente em todos os biomas brasileiros, desde o Pantanal até a Mata Atlântica, onde, no entanto, sua presença está reduzida a apenas 31,37% dos remanescentes. É encontrada em, praticamente, todos os estados brasileiros, menos em alguns estados do Nordeste onde foram extintas.
Bater os dentes e queixo
branco são características das queixadas que a diferenciam de outros porcos
selvagens
As queixadas apresentam
uma coloração predominantemente marrom ou preta, com um queixo branco que as
caracteriza. Possuem dimensões robustas, com um comprimento da cabeça e corpo
que varia de 90 a 139 centímetros e um peso que oscila entre 25 e 40 quilos.
Sua pelagem eriçada, com pelos mais longos formando uma crista ao longo da
coluna vertebral, se erige especialmente quando o animal está em estado de
excitação. Esta característica, somada ao seu comportamento de bater os dentes,
atribuiu-lhes a reputação de serem os maiores e mais agressivos porcos
selvagens sul-americanos.
Outra característica das
queixadas é a formação de grandes bandos de animais com até 300 indivíduos
As queixadas possuem
hábitos de vida diurnos e noturnos e, surpreendentemente, formam bandos
substanciais, com números que oscilam entre 50 a 300 indivíduos. Esses grandes
bandos têm um impacto significativo nos ecossistemas florestais, tanto
pelo seu comportamento territorial quanto pela sua dieta. Necessita de grandes
áreas, com diversidade de habitats contínuos e devido a pressões antrópicas
desaparece rapidamente. Alimentam-se predominantemente de frutas, sementes,
raízes, além de larvas de insetos e minhocas. Seus principais predadores são a Onça
parda (Puma concolor) e a Onça pintada (Panthera onca).
Espécie esta localmente extinta em alguns estados do Nordeste brasileiro
Entretanto, a espécie tem
enfrentado crescentes ameaças que colocam sua sobrevivência em risco. Na Mata
Atlântica, particularmente no Nordeste, onde restam 5,6% da mata original,
a espécie foi localmente extinta em Pernambuco, Rio Grande do Norte,
Paraíba e Alagoas. No entanto neste último estado, de Alagoas, onde a espécie
havia desaparecido há 30 anos, estão sendo feitas tentativas de reintrodução na
Estação Ecológica de
Murici. Em junho de 2022 foram soltos, na Estação, 30 animais e neste ano
de 2023, mais 13 animais voltaram à natureza. Em outros estados onde há
remanescentes de Mata Atlântica, a queixada enfrenta situação crítica. Nos
estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul ela está criticamente
ameaçada (CR). Em outras regiões, como Rio de Janeiro, Minas Gerais,
Espírito Santo, São Paulo e Bahia, a espécie é considerada em perigo
(EN).
Caça é um dos principais
fatores de declínio das populações de queixadas
Várias causas contribuem para o declínio
das populações de queixadas. Dentre elas, a caça se destaca, sendo
esta espécie uma das mais apreciadas tanto por populações indígenas quanto não
indígenas, sobretudo na Amazônia. O resultado dessa atividade tem sido a
fragmentação extensa das populações e o desaparecimento das queixadas em
vastas áreas de sua distribuição original. Além disso, alterações antrópicas
no habitat, desmatamentos e outros fatores, como secas severas e incêndios,
também têm impactado a persistência desses animais.
Queixadas tem papel
fundamental nos ecossistemas, seu desaparecimento afeta outros animais e
plantas
A extinção da queixada em
determinadas regiões desencadeia uma série de efeitos cascata no ecossistema.
Esses impactos incluem a redução de populações de onça-pintada, mudanças nos
recursos dos frutos e na estrutura da vegetação, e um empobrecimento geral das
comunidades de plantas e animais selvagens.
Em suma, os esforços de
conservação voltados para a queixada são cruciais, não apenas para
garantir a sobrevivência da espécie, mas também para preservar a rica
biodiversidade associada a ela. As queixadas desempenham um papel
ecológico insubstituível como engenheiros ambientais, influenciando
fortemente os solos florestais e comunidades vegetais. Ações eficazes para sua
conservação certamente beneficiarão toda a biodiversidade regional.
Fontes:UFRGS,
ICMBio,
INPA
, UESB,
Fapesp,
Salve.ICMBio, WCS
Brasil, Criadouro
Onça-Pintada, O
Eco, Conexão
Planeta