O falcão-das-ilhas-Maurício: uma maravilha da conservação


 Conhecido cientificamente como Falco punctatus, o falcão-das-ilhas-Mauricio ou falcão-de-Maurício é endêmico da ilha Maurício, localizada no Oceano Índico. Esta pequena ave de rapina, com sua plumagem marrom-castanha e marcações negras crescentes nas asas, e brilhantes partes inferiores brancas com manchas pretas, é um dos maiores exemplos de sucesso na conservação de espécies. Entretanto, a trajetória de sobrevivência e preservação da espécie é cheia de desafios e ameaças.

Espécie chegou à quase extinção na natureza, restando apenas quatro exemplares

Em 1974, apenas quatro indivíduos desta espécie eram conhecidos na natureza, sendo que apenas um dos quais era uma fêmea reprodutora, o que levou a sua classificação como a ave mais rara do mundo. A situação preocupante do falcão-de-Maurício na década de 1970 pode ser atribuída a vários fatores, sendo o principal deles a drástica destruição de seu habitat nativo, a floresta tropical, devido à colonização humana e à conversão de áreas naturais para agricultura.

Outros golpes significativos foram a introdução de espécies não nativas, como ratos e gatos, mangustos (Herpestes auropuncatatus) e macacos (Macaca fascicularis) que predavam ovos e filhotes de falcões, e o uso generalizado do pesticida tóxico DDT para combater a malária e na produção de alimentos, contribuindo para o declínio acentuado da espécie.

Esforços de conservação conseguiram estabelecer programa de reprodução em cativeiro

No entanto, o declínio da população do falcão-de-Maurício, outrora iminente, deu uma reviravolta incrível graças aos esforços colaborativos de diversas organizações de vida selvagem e ao governo da ilha Maurício. Em 1973, foi iniciado um intenso programa de conservação e reprodução em cativeiro. O programa incluía medidas como alimentação de aves silvestres, fornecimento de ninhos, remoção de ovos para incubação artificial, criação manual e liberação de aves criadas em cativeiro, adoção e controle de predadores.

Programa de reprodução atingiu um amplo sucesso, salvando o falcão da extinção iminente

Vinte anos depois do início deste programa, a população de falcões-de-Maurício já ultrapassava 280 indivíduos e em 2005, estimativas indicavam a existência de aproximadamente 1.000 indivíduos. Os falcões criados em cativeiro foram introduzidos com sucesso em habitats não nativos, e, devido ao seu êxito, o programa de liberação terminou em 1994. Entretanto, o monitoramento da espécie continuou visando alcançar a capacidade de carga estimada da ilha, de 500-600 falcões.

Falcão-de-Maurício ainda corre perigo com a sua população se reduzindo drasticamente

Apesar destes esforços, os falcões-de-Maurício ainda enfrentam desafios. A perda de habitat e a endogamia, consequência do gargalo populacional, estão levando a uma nova queda na população, que em 2012 estava estimada em apenas 400 indivíduos. E agora sua população, em 2021, é estimada em 250 pássaros na ilha.  A espécie também parece estar sendo afetada pelas mudanças climáticas, com o aumento de dias úmidos no início da estação de reprodução causando atrasos na postura dos ovos.

Ao longo dessa trajetória de recuperação a ave tem oscilado na classificação da IUCN. Outrora criticamente ameaçada (CR), chegou a atingir o status de vulnerável (VU) quando seu número cresceu, no entanto agora voltou a uma situação mais grave de em perigo (EN) de extinção.

Pesquisa recente conclui que a chave para o sucesso na reintrodução de vida selvagem é o monitoramento contínuo

Recentemente pesquisadores de cinco organizações investigaram as tendências em quatro grupos isolados de falcões das ilhas Mauricio reintroduzidos, conforme descrito em um artigo de junho de 2021 na revista IBIS – International Journal of Avian Science. As descobertas esclarecem os elementos essenciais para o sucesso na reintrodução da vida selvagem, um método de conservação que envolve a criação de animais em cativeiro para repovoar habitats naturais. Múltiplos fatores impactam o êxito dessas reintroduções, como a qualidade do habitat, disponibilidade de ninhos e alimentos, e a predação por espécies invasoras. No entanto, a chave para o sucesso parece ser o monitoramento contínuo após a liberação dos animais.

Diversas ações futuras são necessárias para garantir o êxito completo na recuperação do falcão-de-Maurício

Ações futuras para a conservação da espécie incluem a gestão da qualidade do habitat, a disponibilidade de alimentos e o controle de predadores, fatores cruciais para o sucesso das populações reintroduzidas. As caixas-ninho, por exemplo, foram projetadas para prevenir a predação de ovos e filhotes por macacos-de-cauda-longa e pequenos mangustos indianos.

A história do falcão-de-Maurício é um importante exemplo de como a colaboração entre organizações de vida selvagem e governos pode levar à recuperação de uma espécie à beira da extinção. Apesar dos desafios atuais, esta pequena ave de rapina, que já foi considerada a mais rara do mundo, continua sendo um ícone de esperança para a conservação da biodiversidade mundial.

Fonte: Mega Curioso, BirdLife International, Animal Diversity, ScientificLib, Peregrine Fund, Conservation Evidence, Focusing on WildLife, Guiness World Records, IBIS, Mongabay

Foto: Falcão das ilhas Mauricio_by Steve James