As recentes apreensões de araras-azuis-de-lear
(Anodorhynchus leari) neste ano ressaltam uma dura e perturbadora
realidade: o tráfico de animais silvestres, especialmente desta espécie
rara. A arara-azul-de-lear, uma espécie que já esteve à beira da
extinção, tem sido vítima do comércio internacional devido à sua raridade.
Um recente incidente no Aeroporto
Internacional em Daca, capital de Bangladesh, em maio de 2023, evidencia a
gravidade da situação. Três araras-azuis-de-lear apreendidas no local
acabaram por falecer, uma perda significativa para a já vulnerável população dessa
espécie.
Apesar dos esforços de várias
organizações nacionais e internacionais para revitalizar a população de
araras-azuis na natureza, esses incidentes colocam em risco todo esse trabalho.
Instituições de manejo ex situ desempenham um papel crucial ao manter populações
de segurança dessas aves, cuidadosamente monitoradas em termos de origem e
genealogia, visando garantir uma população viável tanto demográfica quanto
geneticamente visando sua soltura.
A Rede
Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (RENCTAS), consciente
desse risco, apresentou representação ao Ministério Público Federal (MPF) da
Bahia, solicitando medidas para proteger a arara-azul-de-lear. A RENCTAS
insta as autoridades a investigarem uma possível rede internacional que trafica
animais silvestres brasileiros ameaçados de extinção e a tomar medidas para
repatriar 29 araras apreendidas no Suriname e outras três em Bangladesh. No entanto,
somente voltaram ao Brasil cinco aves, pois as outras 24 sumiram no aeroporto de
Suriname e não foram encontradas, provavelmente voltaram a alimentar a rede
internacional de animais silvestres.
Atualmente, apenas pouco mais de
2.200 araras-de-lear residem livremente no Raso da Catarina, abrangendo
municípios como Canudos e Paulo Afonso, na Bahia. E, apesar de sua
vulnerabilidade, a espécie continua sendo um alvo atraente para os traficantes.
Um flagrante preocupante ocorreu em março deste ano, quando a RENCTAS
identificou, através das mídias sociais, seis araras contidas em uma caixa.
Esse lote incluía adultos e filhotes arrancados de seus ninhos nos paredões de
arenito da região.
O coordenador-geral da RENCTAS
argumenta que esses episódios não são incidentes isolados, mas indicativos de
uma operação de tráfico organizado e sofisticado. Este alarmante cenário exige
ações imediatas das autoridades. De acordo com a RENCTAS, a taxa de
sobrevivência desses animais traficados é devastadoramente baixa, com apenas
cerca de 10% chegando vivos ao seu destino, uma situação particularmente
crítica para espécies à beira da extinção.
No entanto, a luta contra o tráfico
não pode ser travada apenas por órgãos de fiscalização. É essencial envolver as
comunidades locais, especialmente aquelas do Raso da Catarina. Somente
com o apoio e vigilância contínua das comunidades é que se poderá combater
eficazmente o tráfico, dada a limitação inerente aos órgãos ambientais e
policiais.
As recentes apreensões de araras-azuis-de-lear
refletem apenas a ponta do iceberg. O verdadeiro desafio é a falta de
fiscalização efetiva e o envolvimento insuficiente da comunidade local
na proteção dessas aves magníficas. Se quisermos garantir a sobrevivência desta
espécie, é crucial enfrentar e superar esses desafios com urgência.
Fontes: G1, Agencia Brasil, MPF, O Globo, O Eco
Foto: Arara=azul-de-lear_by João Marcos Rosa