Macaco-aranha-de-cara-preta: Entre o desmatamento e os desafios para a sua sobrevivĂȘncia


 O macaco-aranha-de-cara-preta, tambĂ©m conhecido como macaco-aranha-peruano, ou coatĂĄ (Ateles chamek), Ă© uma espĂ©cie de primata que tem um corpo esguio, pelagem negra e rosto escuro com pequena parte sem nenhum pelo. Esses recursos Ășnicos diferenciam o Ateles chamek de outros macacos-aranha brasileiros. O nome do gĂȘnero "Ateles", que significa "imperfeito", advĂ©m da ausĂȘncia de polegares nestes primatas, uma caracterĂ­stica anatĂŽmica incomum.

Macacos-aranhas estão entre os maiores primatas das Américas

Com um corpo que pode chegar a 70 cm e uma cauda que pode estender-se atĂ© 80 cm, estes macacos, que pesam entre 7 a 9 kg, sĂŁo alguns dos maiores primatas das AmĂ©ricas. Possuem quatro dedos longos e um polegar quase ausente, mas compensam essa "imperfeição" com a agilidade surpreendente proporcionada por seus longos braços, pernas e cauda preĂȘnsil. Essas adaptaçÔes Ășnicas permitem que eles se movam facilmente entre as copas das ĂĄrvores.

No Brasil a espécie é encontrada no extremo sudoeste da AmazÎnia

Sua presença é observada no extremo sudoeste da AmazÎnia, entre o sul dos rios SolimÔes e Javari, margem esquerda do Rio Tefé e oeste do Rio Teles Pires ou São Manoel, nos estados do Amazonas, Acre, RondÎnia e Mato Grosso. Além disso, são encontrados na Bolívia e Peru, comumente ocupando estratos florestais altos nas florestas semidecíduas de planície. Estudos recentes relatam a presença de grupos de macacos-aranha-pretos vivendo ao norte do rio SolimÔes, o que indica uma expansão de sua distribuição geogråfica, visto que os rios costumam atuar como barreiras para muitas espécies.

Espécie necessita de vastas åreas preservadas para viver e se alimentar principalmente de frutas

O macaco-aranha-de-cara-preta leva uma vida social, residindo em grupos de 20 a 30 indivĂ­duos e percorrendo vĂĄrios quilĂŽmetros por dia. Embora sejam difĂ­ceis de serem avistados em grupos completos, esses animais ocupam matas densas e requerem vastas ĂĄreas preservadas para sobreviverem.

Na ecologia alimentar, os macacos-aranha-de-cara-preta sĂŁo os primatas neotropicais que mais consomem frutos, embora sua dieta onĂ­vora tambĂ©m inclua, com menor frequĂȘncia, folhas, flores, brotos, sementes, cascas de ĂĄrvores, raĂ­zes aĂ©reas, madeira em decomposição, fungos e invertebrados. O costume de engolir sementes intactas e depois dispersĂĄ-las pela defecação, ou quando carregam alimentos por certa distĂąncia antes de consumi-los, faz desses primatas dispersores de sementes importantes restauradores de ecossistemas.

Principal ameaça são os humanos que degradam seu habitat, desmatando e transformando em åreas agrícolas

No entanto, esses grandes primatas enfrentam ameaças em vĂĄrias frentes. A caça, tanto por predadores naturais, como onças (Panthera onca), quanto por humanos, tem sido uma ameaça constante. O macaco-aranha-de-cara-preta Ă© visado tanto para consumo como para caça esportiva. A expansĂŁo da indĂșstria agrĂ­cola e da exploração madeireira no Peru, BolĂ­via e Brasil tambĂ©m acelerou a taxa de degradação de seu habitat. A conversĂŁo de florestas naturais em terras agrĂ­colas reduziu a disponibilidade de alimentos e criou ĂĄreas abertas, tornando os macacos-aranha-de-cara-preta alvos mais fĂĄceis para os caçadores.

Perspectivas para a espécie não são animadoras

Essas ameaças culminaram na classificação do macaco-aranha-de-cara-preta como uma espécie em extinção na Lista Vermelha da IUCN. A reprodução lenta desses primatas, com acasalamentos que ocorrem apenas a cada 3 a 4 anos, e a baixa taxa de natalidade, aliadas à caça e ao desmatamento, contribuem para a diminuição da população. Infelizmente, as perspectivas para a espécie não são animadoras.

Destruição da floresta continua de forma intensiva ameaçando espécie que vivem nesse ecossistema

A taxa de desmatamento na AmazĂŽnia estĂĄ aumentando, com previsĂ”es estimando a perda de 40% dessas florestas atĂ© 2050 devido Ă  expansĂŁo agrĂ­cola. Essa perda do habitat coloca em perigo espĂ©cies que vivem na floresta, como o macaco-aranha-de-cara-preta. Foi identificado que a espĂ©cie ocupa apenas 28% de sua extensĂŁo de ocorrĂȘncia, com apenas 32% dessa ĂĄrea protegida por lei. Acredita-se que 31-40% do habitat da espĂ©cie serĂĄ perdido atĂ© 2050.

No Brasil ocorre a ameaça maior pois a espécie vive na região conhecida como o arco do desmatamento

No contexto do Brasil, a espĂ©cie sofreu um declĂ­nio de pelo menos 50% nos Ășltimos 45 anos (trĂȘs geraçÔes), principalmente devido Ă  caça e Ă  perda de habitat. A devastação florestal na parte sul de sua extensĂŁo, particularmente nos estados de RondĂŽnia e Mato Grosso, ocorre ao longo da fronteira agrĂ­cola/arco do desmatamento que se move do sul para o norte atravĂ©s da AmazĂŽnia brasileira. Grandes projetos de desenvolvimento, como barragens, rodovias e linhas de transmissĂŁo, sĂŁo potenciais ameaças futuras para a espĂ©cie, com fortes indicaçÔes de um declĂ­nio contĂ­nuo na mesma taxa nas prĂłximas trĂȘs geraçÔes.

Limitar ou proibir a caça aos macacos-aranha-de-cara-preta em seu habitat natural pode melhorar o status dessa espécie, mas é improvåvel que esses esforços sejam substanciais o suficiente para permitir a recuperação completa da espécie. Uma resposta robusta e holística à crise de extinção que essa espécie enfrenta é necessåria. Isso envolve não apenas a proteção legal dos habitats naturais e da própria espécie, mas também um compromisso com pråticas agrícolas sustentåveis, esforços de conservação de longo prazo e a educação ambiental sobre a importùncia da biodiversidade.

Fontes: New England Primate Conservation, Animalia.bio, WCS, Oryx, Animal Diversity Web, AMDA, Zoo.DF, G1 Globo

Fotos: Macaco-aranha-de-cara-preta ou peruano_by Oleg Rozhko e segunda foto: Macaco-aranha-de-cara-preta ou peruano_by Pfaucher