O mutum-do-sudeste (Crax blumenbachii) é um galináceo autóctone da floresta, endêmico da Mata Atlântica brasileira, com um alcance geográfico restrito ao Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e sul da Bahia. Sendo que em Minas Gerais e Rio de Janeiro foram reintroduções bem sucedidas. Esta espécie de ave galiforme de grande porte, cujo comportamento se assemelha ao de uma galinha, prefere o chão em vez do voo e busca refúgio nas árvores ao entardecer. Os machos, responsáveis pela construção de ninhos elevados como cestos trançados.
Espécie apresenta dimorfismo
sexual visível com facilidade
Os mutuns-do-sudeste
apresentam dimorfismo sexual marcante. Os machos, com plumagem
predominantemente preta, exibem uma parte inferior do corpo branca e uma base
de bico intensamente vermelha, daí seu outro nome pelo qual é conhecido "mutum-de-bico-vermelho".
As fêmeas, por outro lado, têm uma coloração menos homogênea, exibindo tons de
ferrugem e um bico desprovido de vermelho.
A espécie atinge 80-93
centímetros e pesa cerca de 3,5 kg. É ave diurna, não faz voos longos e
em geral ocorrem em baixa altitude tornando-se dessa maneira mais vulnerável.
Sua dieta inclui sementes, frutos, folhas, brotos e insetos.
Habitats degradados, caça,
desmatamento e ataques de cães são algumas das ameaças que enfrenta a espécie
Ameaçada de extinção, a
população do mutum-do-sudeste diminuiu substancialmente, em grande parte devido
à caça e ao desmatamento. Os habitats preferenciais da espécie – florestas de
vegetação baixa, próximas a várzeas e com abundância de água – foram
severamente degradados. A espécie também é vulnerável a ataques de animais
domésticos, como cães. Quando ameaçados, os mutuns levantam seu topete numa
exibição defensiva.
Mundialmente reconhecidos os
esforços de conservação do mutum-do-sudeste
Os esforços de conservação
nas últimas décadas impediram a extinção iminente do mutum-do-sudeste, fato
destacado na publicação de 2021 na revista científica Conservation
Letters, sobre pesquisa liderada por pesquisadores internacionais,
incluindo cientistas da Newcastle University, Reino Unido. A espécie faz parte
de um grupo de 21 aves que foram salvas da extinção graças a esses esforços de
acordo com o estudo.
Reprodução em cativeiro
garante a existência de uma população de segurança da ave
Um dos projetos cruciais para a
preservação do mutum-do-sudeste é o "Projeto Mutum", realizado
pela CENIBRA
em colaboração com a Sociedade
de Pesquisa do Manejo e da Reprodução da Fauna Silvestre (CRAX). Este
projeto é um exemplo prático de como a reintegração de espécies ameaçadas
em seus habitats naturais pode não apenas prevenir a extinção, mas também
promover a recuperação de florestas. O Projeto Mutum, desenvolvido há 30 anos
na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Fazenda Macedônia, em Ipaba
(MG), tornou-se uma referência para a comunidade científica internacional. Os
esforços de reprodução em cativeiro geraram uma "população de segurança"
para preservar a variabilidade genética e servir como uma fonte para projetos
de reintrodução em áreas onde o número de exemplares é baixo.
Os mutuns criados em cativeiro
são preparados e manejados adequadamente para sua readaptação ao habitat
natural no Centro de Pesquisas da CRAX, localizado em Contagem/MG, antes de
serem reintroduzidos na Fazenda Macedônia. A criação em cativeiro tem obtido
bons resultados, até o momento, a CRAX reintroduziu na natureza 392
mutuns-do-sudeste em áreas de Mata Atlântica de Minas Gerais e Rio de Janeiro.
População do mutum-do-sudeste
ainda é muito baixa na natureza e exige cuidado permanente
Infelizmente, mesmo com esses
esforços, a União
Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) classificou o
mutum-do-sudeste como "em perigo" e a Lista Brasileira de espécies
ameaçadas o classificou como "criticamente ameaçado". Estima-se que
apenas 250 indivíduos maduros permaneçam na natureza, mesmo com programas de
reintrodução bem-sucedidos ajudando a compensar parcialmente o declínio da
espécie.
Plano de ação específico para
o mutum-do-sudeste cumpriu, em parte, suas ações
O Plano
de Ação Nacional para a Conservação do Mutum-do-sudeste foi lançado em 2004
e revisado em 2012, com o objetivo de promover a recuperação e a manutenção da
espécie. Apesar de o plano ter encerrado em 2014 com 63% de suas ações
implementadas, a espécie foi integrada ao Plano de Ação Nacional para a
Conservação de Aves da Mata Atlântica.
Felizmente a espécie se reproduz
bem em cativeiro, o que contribui para a formação de uma população de
segurança, preservando a variabilidade genética e fonte de
exemplares para projetos de reintrodução em novas áreas ou onde a
população da ave está reduzida.
Fontes: PAN
Mutum do Sudeste, Greenday, Ambiente
Brasil, ICMBio, Parque
das Aves, Bird Life
International, Diário
do Aço, Estado
de Minas, National
Geographic Brasil, Conexão
Planeta, G1Globo, Revista
Galileu, Fauna
News
Fotos: Mutum-do-sudeste_macho_ by Luiz Matos e segunda foto: Mutum-do-sudeste_fêmea com filhote_Cenibra