A perereca-pintada-do-rio-pomba
(Nyctimantis pomba) é uma das várias espécies de anuros criticamente
ameaçadas de extinção, sua única ocorrência restringe-se a uma área minúscula, um
fragmento florestal de apenas 1,36 km2, inserida em uma propriedade particular
em Cataguases, Zona da Mata, estado de Minas Gerais. Esse fragmento de Mata
Atlântica, rico em biodiversidade, tem estado sob intensa pressão devido à
atividade humana, incluindo queimadas, extração ilegal de madeira, pisoteamento
de gado e caça.
Recentemente descrita, ainda
pouco se sabe sobre sua biologia
Descrita oficialmente em 2013, na
revista científica Zootaxa,
essa espécie de perereca, com comprimento variando de 5 a 7 centímetros apresenta
íris vermelha e coloração dorsal com manchas de cor creme claro sobre um fundo
marrom escuro.
Dado a dificuldade de detecção
dessa espécie em campo, pouco se sabe sobre sua biologia e história natural.
Entre 2016 e 2021, buscas intensivas foram feitas para localizar outras
populações da perereca-do-rio-pomba, mas infelizmente, ela só foi
encontrada em baixa densidade na localidade onde foi descoberta, aumentando as
preocupações sobre sua sobrevivência a longo prazo.
A perereca-pintada-do-rio-pomba
é uma espécie-chave para o equilíbrio do ecossistema, atuando no controle
natural de invertebrados e servindo como fonte de alimento para répteis e
mamíferos. A perda dessa espécie poderia, portanto, ter implicações mais amplas
na cadeia alimentar e nas interações ecológicas.
Situação precária da perereca
implicou na criação de programa de conservação ex situ
Por conta dessa situação crítica,
em 2019, deu-se início a um programa de conservação ex situ, uma
estratégia de manejo que envolve a criação e manutenção da espécie em condições
controladas. Fruto de uma parceria entre a Fundação Zoológico de São Paulo
(FZSP) e pesquisadores da Universidade Federal de
Viçosa, o programa tem como objetivo estabelecer um protocolo de manutenção
e reprodução, formando uma população de segurança para suplementação na
natureza, caso necessário. Um laboratório foi montado no Centro de Conservação de Fauna Silvestre do
Estado de São Paulo, localizado em Araçoiaba da Serra, e vários indivíduos
estão sendo mantidos em condições ex situ, sinalizando um passo importante para
a conservação da espécie. Os esforços realizados por essas instituições têm se
mostrado promissores, pois no final de 2022 ocorreu a primeira reprodução da
espécie sob condições ex situ.
Planos de conservação foram
criados para salvar da extinção a perereca-pintada-do-rio-pombo
Essa situação alarmante levou à
inclusão da perereca-pintada-do-rio-pomba na lista das 25 espécies
prioritárias do Programa de Manejo ex situ de Espécies Ameaçadas da Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil
(AZAB) e do ICMBio.
Além disso, foi criado o "Plano
Estratégico de Conservação de Anfíbios (PECAn): Perereca-pintada (Nyctimantis
pomba)", previsto para vigorar entre 2023-2028 e executado pela ASG
Brasil/IUCN SSC. Este plano tem como meta melhorar o status de conservação
da perereca-pintado-do-rio-pomba através de três objetivos específicos: I.
Reduzir as lacunas de conhecimento sobre a espécie e seu habitat; II.
Identificar, caracterizar e mitigar as ameaças diretas sobre a espécie e seu
habitat; III. Estabelecer estratégias de comunicação e sensibilização para a
conservação da espécie.
Além disso, a espécie também
figura no "Plano de Ação Nacional para a Conservação da Herpetofauna Ameaçada
de Extinção da Mata Atlântica da Região Sudeste do Brasil - PAN
Herpetofauna do Sudeste" que entre seus objetivos se propõe a:
subsidiar, produzir e divulgar conhecimentos e ações para reduzir as pressões
antrópicas sobre a espécie; incentivar ações que reduzam a perda de hábitat e o
seu declínio populacional e ampliar o conhecimento sobre ecologia, história
natural, distribuição geográfica e sistemática da espécie.
Estratégias de criação ex situ
são prioritárias para salvar a espécie
Devido ao fato de a espécie
ocorrer apenas em uma área pequena, não protegida e com vários impactos
antrópicos conhecidos, as estratégias de conservação ex situ foram
definidas como prioritárias para prevenir a extinção. O objetivo é estabelecer
uma população ex situ, como estratégia para caso exista uma necessidade de
revigoramento populacional ou reintrodução da espécie na natureza.
Avanços promissores dependem
da implementação de ações de conservação eficazes
No entanto, apesar de avanços
promissores nas estratégias de conservação ex situ, a sobrevivência da perereca-pintada-do-rio-pomba
continua a depender da preservação do seu habitat natural, da expansão dos
esforços de pesquisa e da implementação de ações de conservação eficazes.
A história da perereca-pintada-do-rio-pomba
é um alerta importante sobre a precariedade da vida selvagem diante da expansão
humana, aparentemente, incontrolável. O desafio para preservar essa espécie,
bem como muitas outras, requer uma ação coletiva que equilibre o
desenvolvimento sustentável com a preservação da biodiversidade. Afinal, a
perda de uma única espécie pode desencadear efeitos em cascata em todo o
ecossistema.
Fontes: Dots, AZAB, SP GOV, Conservation Needs Assessments, ASG – IUCN, CEC-Fau
Fotos: Perereca-do-rio-pomba_by Pedro Peloso e segunda foto: perereca-pintada-do-rio-pomba_by Diego Santana