A doninha colombiana (Neogale
felipei ou Mustela felipei), também conhecida como Doninha de Don
Felipe, é uma espécie raríssima e pouco estudada de carnívoro, com sua
presença confirmada em apenas alguns lugares nos departamentos de Huila e
Cauca, na Colômbia, e na região norte do Equador. Este pequeno predador, o
segundo menor carnívoro vivo, detém o título de ser o carnívoro mais raro da
América do Sul.
Espécie vive em altitudes com
florestas úmidas conhecidas como florestas nubladas
A doninha colombiana é um
mamífero que vive em habitats ribeirinhos, permanecendo perto de rios e ao
longo das margens de outras fontes naturais de água. Este hábitat se situa numa
faixa de altitude de 1.100 a 2.700 metros, em regiões classificadas como "floresta
nublada" com uma umidade relativa de 100%. O animal é especialmente
adaptado à sua dieta carnívora, alimentando-se principalmente de peixes e
outros pequenos animais aquáticos, bem como de pequenos mamíferos terrestres,
facilitado por pés palmados e peles camufladas.
Neogale felipei distingue-se
facilmente de outras espécies de doninha
Visualmente, a doninha colombiana
é bastante distinta. Com um corpo alongado, pernas curtas e um comprimento
médio de 22 cm (sem contar com a cauda de 11,5 cm) e pesando de 120 a 150 g, é
facilmente reconhecível. As partes superiores e a cauda são marrom-escuras,
enquanto as partes inferiores são alaranjadas e o pelo é bastante longo.
Primeira foto da doninha
colombiana revela a importância da ciência cidadã
Até pouco tempo atrás, a maioria
das informações sobre a espécie era proveniente de espécimes de museus, sendo
que o mais recente foi coletado em 1986. No entanto, em 2011, a primeira
fotografia de um indivíduo vivo foi feita por um naturalista amador, Juan
de Roux, que encontrou um exemplar preso na casa de seus pais. A imagem foi
compartilhada no site iNaturalist
em 2018, chamando atenção para a espécie e demonstrando a relevância da ciência
cidadã em fornecer informações sobre carnívoros pouco conhecidos.
É grave a situação da doninha
colombiana considerando-se sua distribuição geográfica restrita
A população de Neogale felipei
está em declínio, e a espécie foi classificada como vulnerável pela União Internacional
para a Conservação da Natureza (IUCN). Na Colômbia, a espécie é considerada
ameaçada, devido à fragmentação de suas florestas de terras altas, resultado de
atividades agrícolas. A situação é especialmente grave considerando-se a
restrição de sua distribuição geográfica. Há registro da espécie em apenas duas
localidades na Cordilheira Ocidental da Colômbia e em oito localidades entre a
Colômbia e o Equador. Recentemente houve um registro nos Andes do Sudoeste da
Colômbia baseado em um espécime atropelado no Parque
Nacional de Puracé
Habitat natural da espécie
sofre desmatamento contínuo, estando hoje com 36% da cobertura florestal
original
As doninhas colombianas
sofrem com a perda contínua de seu habitat natural. Entre 1990 e 2010, a
cobertura florestal dentro da área de ocorrência conhecida da espécie
reduziu-se em 10%. Atualmente, restam apenas 36% de floresta nesta
região. A tendência de desmatamento na região que ameaça a sobrevivência da
doninha colombiana é agravada pelas práticas agrícolas, cultivo ilícito
e expansão da urbanização. Entre 1990 e 2010, o desmatamento dentro da área de
ocorrência conhecida da espécie resultou na perda líquida de 10% da cobertura
florestal. Com apenas 36% da cobertura florestal original remanescente, a taxa
atual de perda de habitat coloca a espécie em risco ainda maior de extinção.
Infelizmente, essas tendências de desmatamento não mostram sinais de
desaceleração, devido à continuidade das pressões antropogênicas sobre o
ambiente natural da espécie.
Há pouco conhecimento
científico sobre a espécie
Além do estado precário da doninha
colombiana, o conhecimento científico sobre a espécie continua limitado.
Essa lacuna de informações dificulta o desenvolvimento de estratégias
eficazes de conservação. Consequentemente, existe uma necessidade urgente
de localizar e estudar uma população existente, especialmente para entender seu
uso de habitat e as ameaças que enfrenta. Até agora, os esforços para fazer
isso têm sido em grande parte infrutíferos. Pelo menos cinco expedições de
campo em seis localidades colombianas, incluindo duas próximas a registros
anteriores, não conseguiram detectar a presença da espécie. Além disso, três
das cinco localidades conhecidas experimentaram um severo processo de
fragmentação de habitat nos últimos anos.
Há expectativa de que existam
áreas protegidas na Colômbia e Equador que podem abrigar a espécie
Contudo, existem áreas protegidas
na Colômbia e no Equador que abrigam habitats potenciais para a doninha
colombiana. De acordo com os modelos de distribuição, Neogale felipei
poderia estar presente em 10 áreas protegidas na Colômbia e 14 no Equador. No
entanto, o avistamento da espécie nessas regiões ainda não foi confirmado.
Apenas um espécime foi coletado no Parque
Nacional Cueva de los Guacharos e um no Parque
Nacional de Puracé, ambos na Colômbia.
Há necessidade de desenvolver
e implementar estratégias de conservação mais eficazes
Com a captura e o estudo de mais
espécimes, se poderia adquirir um melhor entendimento das necessidades de
habitat da doninha colombiana, além de informações importantes sobre sua
dieta, comportamento e estrutura populacional. Isso permitiria desenvolver e
implementar estratégias de conservação mais eficazes para ajudar a
proteger esta espécie em risco de extinção.
A doninha colombiana é, portanto,
um emblema para as pressões ambientais que a biodiversidade da América do Sul
enfrenta, bem como a necessidade de ações de conservação efetivas. Sua história
ressalta a importância da ciência cidadã na documentação e estudo de espécies
raras, e reforça a necessidade de estratégias de conservação eficazes para
proteger tanto a doninha colombiana quanto a diversidade de vida selvagem da
região.
Fontes: Animalia.bio, Checklist, Mammalogy, Therya, Animal Diversity, IUCN RedList, Redalic
Foto: Doninha colombiana_by Juan M.de Roux