A surpreendente revelação da preguiça-de-coleira-do-sudeste e os desafios para sua preservação na Mata Atlântica


 Uma nova espécie de bicho-preguiça, a preguiça-de-coleira-do-sudeste (Bradypus crinitus), foi encontrada na Reserva Caruara, uma Reserva Particular do Patrimônio Natural(RPPN) no Porto do Açu, em São João da Barra, no Norte Fluminense, estado do Rio de Janeiro. A descoberta foi realizada pelo Programa de Monitoramento da Fauna da empresa Gás Natural Açu e publicada na edição de fevereiro de 2023 do Journal of Mammalogy, após quatro anos de pesquisa.

O mais surpreendente é que a nova espécie foi encontrada numa região altamente urbanizada, tratando-se de um mamífero de porte razoável que passou despercebido durante todo esse tempo. Esse fato só veio a comprovar, mais uma vez, a importância da Mata Atlântica como um bioma privilegiado com alta concentração de biodiversidade e que ainda necessita de mais estudos que possam evidenciar a real riqueza de espécies dos seus diversos ecossistemas.

A preguiça-de-coleira-do-sudeste foi encontrada no ecossistema de restinga

A nova espécie foi encontrada em cinco pares dentro da Reserva Caruara, onde predomina o ecossistema da restinga, e em regiões próximas. Embora prefiram áreas de floresta densa, onde são encontradas em 70% dos registros, a ocorrência dessa espécie na restinga surpreendeu os pesquisadores. A descoberta ressalta a importância da conservação das áreas de restinga adjacentes aos empreendimentos da Gás Natural Açu, que, desde 2018, tem se dedicado a estudar e contribuir para a preservação desses ecossistemas.

Agora são seis espécies de bicho-preguiça encontrados no Brasil, das sete existentes no mundo

Até então, acreditava-se que existiam seis espécies de bicho-preguiça no mundo, vivendo nas Américas do Sul e Central. No entanto, com a identificação da preguiça-de-coleira-do-sudeste, agora são sete espécies no total. O Brasil abriga seis delas, incluindo a recém-descoberta, bem como a preguiça-comum (Bradypus variegatus), a preguiça-bentinho (Bradypus tridactylus), a preguiça-de-hoffmann (Choloepus hoffmanni), a preguiça-de-coleira-do-nordeste (Bradypus torquatus) e a preguiça-real (Choloepus didactylus).

Agora são duas espécies de preguiça-de-coleira encontradas no Brasil

A preguiça-de-coleira, até então reconhecida como uma única espécie (Bradypus torquatus), foi reclassificada e agora está dividida em duas espécies distintas: a preguiça-de-coleira-do-sudeste (Bradypus crinitus) e a preguiça-de-coleira-do-nordeste (Bradypus torquatus). Ambas são endêmicas da Mata Atlântica, mas a preguiça-de-coleira-do-sudeste ocorre nos estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, enquanto a do Nordeste habita os estados da Bahia e do Sergipe. As distribuições das duas espécies são separadas pelo Rio Doce, que atua como uma linha divisória.

A preguiça-de-coleira-do-sudeste é exclusiva da restinga dos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo e está ameaçada de extinção devido à destruição de seu habitat na Mata Atlântica. Segundo o Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), entre 2019 e 2020, o índice de desmatamento no Espírito Santo chegou a 400%. A perda e fragmentação do habitat têm sido os principais fatores que colocam a espécie em risco, exigindo novos planos de conservação.

Descoberta da nova espécie ocorreu devido ao trabalho de monitoramento da fauna de uma empresa

O estudo envolveu pesquisadores de diferentes áreas e universidades, como a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Universidade Federal de Viçosa (UFV), a Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e a Virginia Polytechnic Institute and State University (Virginia Tech). Os biólogos do Programa de Monitoramento da Fauna da GNA – Gás Natural do Açu registraram o encontro da preguiça-de-coleira-do-sudeste na restinga, um ecossistema costeiro composto por vegetações que crescem na areia, em locais próximos às praias.

Entre as ameaças à preguiça-de-coleira-do-sudeste estão a pressão imobiliária e a construção de estradas junto ao mar

A identificação da preguiça-de-coleira-do-sudeste como uma espécie distinta e endêmica tem implicações significativas para a conservação da Mata Atlântica e de suas espécies nativas. Com a distribuição geográfica das duas espécies de preguiça-de-coleira agora drasticamente reduzida, o nível de ameaça de extinção aumenta, demandando ações urgentes e específicas para proteger esses animais e seus habitats.

Os esforços de conservação precisam abordar os desafios enfrentados pelas preguiças-de-coleira, incluindo a pressão imobiliária e a construção de estradas junto ao mar, que afetam diretamente o habitat desses mamíferos. Iniciativas que promovam a preservação e recuperação da Mata Atlântica e de seus ecossistemas associados, como a restinga, são fundamentais para garantir a sobrevivência da preguiça-de-coleira-do-sudeste e de outras espécies endêmicas.

Fontes: OGlobo, Journal of Mammalogy, Conexão Planeta, OEco, Parintins Amazonas, Tupi.fm, Ciência Hoje, Escola Educação, Click Campos, Head Topics, Jornal Terceira Via, G1Globo, Rota Verde, IFL Science

Foto: Preguiça-de-coleira-do-sudeste_by Andreia Martins e segunda foto: Preguiça-de-coleira-do-Sudeste_by Paloma Marques Santos.