O macaco-prego-de-crista (Sapajus
robustus), também conhecido como mico-topetudo ou capuchinho-de-crista,
é um primata endêmico do Brasil, atualmente em perigo de extinção que
habita a Mata Atlântica, mais especificamente nos estados de Minas
Gerais, Espírito Santo e sul da Bahia.
Distribuição do
macaco-prego-de-crista está em região altamente urbanizada
A espécie tem sua distribuição
geográfica delimitada ao norte pelo rio Jequitinhonha, nos estados de Minas
Gerais e Bahia; a noroeste pelo rio Jequitinhonha em Minas Gerais; a sudoeste
pela Serra do Espinhaço nas cidades de Serro, Couto de Magalhães de Minas e
Felício dos Santos e rio Suaçuí Grande em Minas Gerais; e a sudeste, pelo Rio
Doce em Minas Gerais e no estado do Espírito Santo. A espécie habita florestas
tropicais que se caracterizam pelas chuvas frequentes e vegetação de folhas
largas, embora também seja encontrado em florestas secas. Esses primatas apresentam
tolerância a mudanças e distúrbios no ambiente, adaptando-se a essas
alterações e não se restringindo aos habitats primários.
Os tufos na cabeça formam uma
espécie de crista que lhe originaram o nome popular
O macaco-prego-de-crista
mede, em média, 44 centímetros, os machos tendem a ser maiores que as fêmeas, e
podem chegar até 3,5 quilos. Possui uma cauda, considerada grande, que mede
cerca de 50 centímetros. É marrom-avermelhado muito escuro ou enegrecido na
parte superior e nos membros. A parte inferior é marrom-escura ou amarelada, e
os antebraços, mãos, pernas e pés são de marrom muito escuro a preto. O rosto é
acinzentado escuro. Os tufos da coroa são altos e na região da cabeça possui um
topete alto, que o caracteriza e que deu origem ao seu nome comum. São
frugívoros-insetívoros, incluindo uma grande variedade de frutos, sementes e
artrópodes, rãs, filhotes e até pequenos mamíferos em sua dieta, suplementados
por caules, flores e folhas. Os grupos formados por esse primata têm um tamanho
médio de 12 a 15 indivíduos.
Pesquisa recente descobriu que
o macaco-prego-de-crista inclui entre suas habilidades o uso de ferramentas
O comportamento do macaco-prego-de-crista
pode ser caracterizado por sua inteligência e habilidade em manipular
objetos. Esses primatas têm uma incrível capacidade de aprender e
adaptar-se a novas situações. Fato que foi comprovado em pesquisa recente onde
se identificou o uso pela primeira vez de ferramentas pela espécie. Essa
descoberta foi relatada em artigo publicado em novembro de 2022, na revista
científica American Journal
of Primatology. Os pesquisadores realizaram a experiência com indivíduos em
cativeiro que utilizaram ferramentas para acessar alimentos. Isto é importante
porque é uma atividade nunca observada na natureza, o que mostra a necessidade
de se intensificarem os estudos da espécie em seu habitat natural, porque a
pesquisa científica sobre esse primata ainda é limitada e muito mais precisa
ser feito para entender completamente o comportamento e ecologia desses
animais.
Espécie encontra-se em perigo
de extinção e sofre declínio contínuo em sua população
Infelizmente, a espécie está
listada como ameaçada de extinção devido a um declínio populacional grave e
contínuo. Estima-se que nas últimas três gerações (48 anos) a espécie tenha
sofrido um declínio de 50% devido principalmente à perda de habitat causada
pela conversão da floresta para a agricultura, expansão urbana, aumento
das estradas e da matriz energética e caça. Atualmente a estimativa total
da população remanescente é estimada em 14.400 indivíduos, porém há dúvidas de
que o número de animais maduros seja superior a 10.000.
Com a população em declínio, o macaco-prego-de-crista
está classificado na lista vermelha da
IUCN como ameaçado de extinção. No Brasil, recentemente o Ministério do
Meio Ambiente publicou em junho de 2022 a nova Lista
de espécies ameaçadas de extinção confirmando que a espécie se encontra em
perigo de extinção.
Manter uma população em
cativeiro monitorada é uma das formas de manter a variabilidade genética da
espécie
Atualmente, a espécie está
incluída no Plano
de Ação Nacional para a Conservação dos Primatas da Mata Atlântica (PAN PMA),
que visa aumentar a viabilidade das espécies-alvo, com a reversão do declínio
das populações e a expansão, conectividade e qualidade de seus habitats em
áreas estratégicas. As principais estratégias de conservação para a espécie
são: garantir a proteção e recuperação das áreas existentes dentro dos seus
limites de distribuição e manter uma população viável em cativeiro, controlada
e monitorada. Uma população em cativeiro é de grande importância para a
manutenção da variabilidade genética.
Dado positivo é a presença da
espécie em várias unidades de conservação
Há relatos de ocorrência do macaco-prego-de-crista
nas seguintes unidades de conservação: em Minas Gerais, REBIO Est. Mata dos Ausentes;
ESEC Est. Acauã; PE Alto Cariri; RVS Mata dos Muriquis; APA Est. Alto do
Mucuri. Na Bahia, RPPN Estação Veracel; PARNA Descobrimento; PARNA Pau-Brasil;
PARNA Histórico do Monte Pascoal; PARNA Alto Cariri; RESEX Corumbau; APA Santo
Antônio. E no Espírito Santo, Reserva Florestal Linhares; REBIO Córrego do
Veado; REBIO do Córrego Grande; REBIO Sooretama; Reserva Natural da Vale do Rio
Doce; FLONA Rio Preto
Levantamentos populacionais nas
unidades de conservação do Estado do Espírito Santo indicam densidades e
populações totais de 4800 indivíduos na Reserva Florestal de Linhares, 2987
indivíduos na Reserva Biológica de Sooretama, 150 indivíduos na Reserva
Biológica do Córrego do Veado e 62 indivíduos na Reserva Biológica do Córrego
Grande.
Existência futura do
macaco-prego-de-crista está diretamente relacionada com a permanência e criação
de novas áreas protegidas
O macaco-prego-de-crista é
uma espécie ameaçada de extinção que reside numa região altamente urbanizada
do Brasil e que teve sua floresta, a Mata Atlântica, reduzida e com a vegetação
restante bastante fragmentada. A população da espécie está diminuindo em todas
as áreas de ocorrência e é importante que ações de conservação sejam
implementadas com urgência para proteger essa espécie única. Não há dúvida, em
função dessa realidade, que o futuro da espécie está na permanência e ampliação
das áreas protegidas nos três estados onde tem ocorrência confirmada.
Fontes: MMA,
GBIF, OECO, Bioexplorer, UFMG, UFOP, PAN
PMA, XIX
Congresso Brasileiro de Primatologia, Mamíferos
do mundo, Palm
Oil Detectives, American
Journal of Primatology, IUCN
Red List,
Mundo Ecologia