Descoberta somente em 2013, a anta-pretinha
(Tapirus kabomani) é a menor das antas. Sua descoberta foi publicada na
respeitada revista científica internacional Journal of
Mammalogy em 16 de dezembro de 2013 e contou com a participação de uma
equipe de cientistas da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG) e pesquisadores de duas organizações da Guiana
Francesa: a Associação Kwata da Guiana
Francesa para o estudo e proteção da natureza e o Institut Pasteur de la Guyane. Os
cientistas pesquisaram essa nova espécie durante dez anos. O estudo também
contou com o apoio do CEBA
(Centre d’étude de la biodiversité amazonienne), da Fundação
Boticário de Proteção à Natureza, da Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e do Centro Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) do Brasil.
Apesar das semelhanças, a
anta-pretinha é bastante diferente da anta comum
A anta-pretinha é mais
baixa que aquela mais comumente encontrada no Brasil (a Tapirus terrestris),
já que possui o fêmur mais curto, e menos pesada – atinge cerca de 110 quilos –
muito diferente do peso da Tapirus terrestris que pode chegar a pesar
320 kg. Apresenta 1,30 m. de comprimento e 90 cm de altura e as pernas são
curtas. Sua pelagem pode ser cinza-escura ou marrom-escura e a parte posterior
do crânio é mais achatada que a da anta comum. A espécie apresenta um nível de dimorfismo
sexual, pois as fêmeas tendem a ser maiores que os machos e têm uma mancha
branca característica no queixo e pescoço até a base da orelha. Os crânios da anta-pretinha
também não possuem septo nasal .
Pouco se sabe sobre o
comportamento desta espécie e é considerado um animal solitário, mas
ocasionalmente é visto em pares macho-fêmea. Como outras antas, a anta-pretinha
é um herbívoro que se alimenta de frutas, gramíneas, folhas, etc. Como a
espécie só foi descoberta e classificada recentemente, seu estado de
conservação ainda não foi avaliado. A nova espécie vive em mosaicos, com áreas
de floresta e mata mais baixa, enquanto a anta-brasileira prefere vegetação
mais uniforme, fechada.
Embora não existam dados
suficientes, pesquisadores suspeitam que a espécie está muito ameaçada
Embora ainda não existem dados
suficientes para a avaliação do seu estado de conservação, pesquisadores
alertam que certamente está muito mais ameaçada que a anta brasileira
por sua raridade e pela reduzida área de seu alcance. Além do desmatamento
e da pressão humana, seu habitat é alvo de grandes projetos de
construção de estradas e duas grandes barragens já foram erguidas no local. Os
espécimes alvo da pesquisa foram encontrados entre os estados de Rondônia e
Mato Grosso, região que se situa no conhecido arco do desmatamento da
Amazônia. No Brasil além desses estados foi encontrada no sul do Amazonas e
Amapá. Habita ainda a Colômbia e a Guiana Francesa.
Conhecimento acumulado pelas
comunidades tradicionais foram fundamentais na identificação da anta-pretinha
Os cientistas para realizarem a
descoberta levaram em consideração o conhecimento das comunidades
tradicionais locais – comunidades ribeirinhas e indígenas - que sempre
diferenciaram a espécie, a integração do termo indígena kabomani ao nome
científico refere-se a esse conhecimento. Na língua local do povo Paumari, “arabo
kabomani” significa anta. A espécie é regularmente caçada pela tribo Karitiana,
que a chama de “pequena anta preta”.
Povos indígenas conheciam a
existência da anta-pretinha há centenas de anos
Segundo os pesquisadores os povos
indígenas foram essenciais na identificação da espécie pois eles a
conheciam há centenas de anos e os caçadores das tribos podem diferenciá-la
precisamente reconhecendo a existência de duas variedades e costumam manter as caveiras
dos animais caçados como troféus, separados por variedade, o que contribuiu
para a pesquisa. Os pesquisadores
afirmam que a descoberta da espécie nova não dependia do conhecimento índio,
mas o conhecimento índio foi decisivo num momento inicial para chamar a atenção
para a possibilidade de uma nova espécie e, posteriormente, para suportar a
informação recolhida.
A IUCN não avalia o status do
animal por considerar que faltam elementos adicionais para sustentar a proposta
de uma ova espécie
Até o momento, o principal grupo
de investigação sobre antas do mundo – o Grupo de
Especialistas em Antas da UICN/CSE considera que os indícios existentes
para considerar a anta-pretinha como uma “unidade evolutiva
significativa” são limitados e incentiva que a comunidade científica procure
elementos adicionais para esclarecer o seu status.
É urgente a necessidade de
intensificar a pesquisa sobre a nova espécie para preservá-la
Há dificuldades a serem superadas
para aumentar a pesquisa científica sobre a anta-pretinha, por ser um
animal raro, difícil de capturar e disperso por uma vasta área da Amazônia,
o que exigiria muitos recursos que encareceriam o estudo. Há necessidade de mais trabalhos científicos
sobre a nova espécie, principalmente para se estabelecer seu status de
conservação e sua distribuição, para que sejam estabelecidas metas de proteção
da população existente para melhor preservá-la.
Fonte: Mongabay(1), Correio do Estado, Protapir, Dimensions, CEBA, Mongabay(2), Boukan, Ripley Believes, Blada, Pesquisa Fapesp(1), O Eco, Labs.icb.ufmg, Pesquisa Fapesp(2), Tetzoo
Fotos: Anta-pretinha_ Cozzuol et al e segunda foto: Anta-pretinha_ Fabricio R. Santos