Zidedê-do-nordeste: desafios e estratégias para a conservação de uma das aves mais raras do Brasil


O zidedê-do-nordeste (Terenura sicki), é uma espécie de ave endêmica da região nordeste do Brasil que foi descoberta na década de 80 em Murici, no estado de Alagoas e posteriormente a espécie foi encontrada em outras regiões do mesmo estado e também em Pernambuco. Atualmente estima-se que a espécie ocorra apenas em 11 localidades desses dois estados.

É um pássaro pequeno, medindo 10 cm de comprimento e é considerado uma das espécies de aves mais raras do país. Apresenta um dimorfismo sexual acentuado. A plumagem do macho é distinta da fêmea, apresenta nas costas, cabeça e flancos cinzas, listrado de preto e branco, com o ventre branco. A fêmea é de cor-de-canela e tom canela no ventre e cabeça e as asas são de coloração similar as dos machos.

Zidedê-do-nordeste não tolera alterações de habitat, nem vivem em áreas degradadas

Habitante de dossel. É encontrado nos pequenos fragmentos remanescentes de florestas semiúmida de elevada altitude. Ocupa os estratos mais altos da mata, geralmente de 7 a 20 m de altura onde busca pequenos artrópodes, como besouros e baratas, em cipós e bromélias, examinando o limbo das folhas. Apesar de ocorrer em florestas que sofreram corte seletivo severo, raramente é registrado em vegetação secundária degradada. Acompanham bandos mistos com frequência, exceto no período reprodutivo. A espécie parece não tolerar alterações de habitat, desaparecendo de áreas degradadas. A reprodução ocorre de outubro a março. O ninho é feito em forma de cesta alongada e pouco profunda, em forquilhas em copa densa.

Espécie habita uma faixa restrita do Centro de Endemismo Pernambuco

A distribuição geográfica do zidedê-do-nordeste é restrita à região nordeste do Brasil, encontrada no Centro de Endemismo Pernambuco nos estados de Alagoas e Pernambuco (no leste deste estado) e provavelmente pode ocorrer em áreas de brejos de altitude no Estado da Paraíba. Atualmente, estima-se que a população total da espécie seja inferior a 250 indivíduos maduros e que cada subpopulação não contenha mais de 50 deles. Foi registrada em apenas onze localidades, em 16 fragmentos florestais. A área total ocupada pela espécie é estimada em somente 120 km2.  O declínio populacional da espécie é acentuado e continuado devido à perda e qualidade de habitat, pois a espécie é exigente e não tolera alteração do ambiente. Deste modo o zidedê-do-nordeste está categorizado na Lista Vermelha da IUCN como Criticamente em Perigo (CR).

São pássaros encontrados em apenas 11 localidades de dois estados

As localidades em que há registro da espécie são: Em Pernambuco- Engenho Água Azul (Timbaúba), Mata do Estado (São Vicente Férrer), Frei Caneca/Pedra D'Antas (Jaqueira e Lagoa dos Gatos), Parque Natural Municipal Matas do Mucuri-Hymalaia (Bonito), Engenho Brejão (Bonito) e Usina Trapiche (Sirinhaém). Em Alagoas- Murici, Pedra Talhada (Quebrangulo) e Usina Serra Grande/Engenho Coimbra (São José da Laje). Um dos principais redutos da espécie está na Serra do Urubu, área que faz parte da RPPN Pedra D'Antas, administrada pela SAVE Brasil e RPPN Frei Caneca.

Redução do habitat e baixa efetividade da gestão das áreas protegidas são principais ameaças

Entre as ameaças à existência do zidedê-do-nordeste, a principal é a redução de habitat pela conversão de florestas em pastagens e plantações de cana-de-açúcar. Também se constituem em ameaças por reduzirem a qualidade do habitat o plantio de culturas de subsistência, a extração de lenha e a caça.  A situação das unidades de conservação também se encontra entre as ameaças citadas por pesquisadores, devido sua baixa efetividade de gestão.

Atuação de organizações não-governamentais são fundamentais para a proteção do zidedê-do-nordeste

Entre as organizações que se empenham na conservação do zidedê-do-nordeste. Uma das principais é a SAVE Brasil (Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil), uma organização sem fins lucrativos que tem como objetivo promover a conservação das aves brasileiras e seus habitats naturais. A SAVE Brasil trabalha em parceria com outras organizações e governos locais para proteger o zidedê-do-nordeste e outras espécies ameaçadas de extinção. Uma das frentes de atuação da SAVE na região nordeste é a restauração florestal, que visa aumentar o habitat das espécies ameaçadas, garantindo sua conservação a longo prazo e reversão do status de ameaça.

Há ainda o Projeto Mata Atlântica do Nordeste, desenvolvido pela SAVE Brasil, que prioriza a obtenção de informações sobre o zidedê-do-nordeste com o objetivo de realizar um censo populacional e compreender melhor sua história natural. Ao mesmo tempo são realizados trabalhos de educação ambiental com o foco na conscientização sobre a importância e o significado da espécie para o ecossistema, envolvendo também iniciativas que promovem a geração de renda para as comunidades locais por meio do turismo de observação de aves.

Espécie está incluída em dois planos governamentais de conservação de aves

Outras ações de conservação existentes em que está incluído o zidedê-do-nordeste são o Plano de Ação Nacional para Conservação das Aves da Mata Atlântica que contempla as seguintes ações: criação de mais unidades de conservação privadas e ligação de fragmentos florestais remanescentes dentro do Centro de Endemismo de Pernambuco, cumprimento da legislação para evitar o desmatamento , promovendo a consideração de áreas prioritárias nos planos de desenvolvimento agrícola, e campanhas de educação e conscientização ambiental. A espécie também está contemplada no Plano de Ação Nacional para a Conservação das Aves da Caatinga, que tem como objetivo manter ou recuperar populações e hábitats das espécies alvo do plano.

Conservacionistas e cientistas apontam a necessidade urgente de proteger a floresta remanescente dentro do alcance da espécie, fazendo cumprir a legislação existente e sugerindo que as unidades de conservação nas quais há registro do pássaro sejam efetivamente implantadas e que as nas áreas ao redor dessas unidades sejam priorizadas para a criação de outras unidades de conservação. E que sejam realizados programas de conscientização ambiental com as comunidades locais no entorno dos locais de ocorrência da espécie.

Ações de proteção do zidedê-do-nordeste são urgentes e devem incluir participação das comunidades locais

Cientistas e conservacionistas destacam ainda que são necessários esforços coordenados e investimentos em pesquisas, que ampliem o conhecimento sobre a história natural da espécie, monitorem seus sítios de ocorrência e busquem novas populações em áreas de ocorrência potencial e nelas sejam criadas áreas protegidas. A colaboração de comunidades locais, organizações não governamentais, governos e outras instituições é essencial para garantir um futuro seguro para essa espécie e os ecossistemas que habita. Em trabalhos realizados nas localidades em que é encontrado o zidedê-do-nordeste a comunidade local tem desempenhado um papel importante, em algumas delas, moradores foram treinados como monitores ambientais e colaboram com os cientistas na coleta de dados sobre a espécie.

Fontes: Ebird, Birdlife International, G1.Globo, Mongabay, Livro Vermelho ICMBio, WikiAves, Terra Brasilis 

Foto: Zidedê-do-nordeste_Macho_by Stephen_J_Jones e segunda foto: Zidedê-do-Nordeste_fêmea_by Hector Bottai