Diferenças entre muriquis-do-sul e do Norte
As duas espécies de muriquis apresentam diferenças
observáveis. Os muriquis do norte possuem faces e genitália manchadas de
rosa e branco (despigmentadas) e polegar vestigial (vestígio de pouco ou nenhum
uso), enquanto que as populações do sul tem a coloração facial e genital
inteiramente preta e não possuem qualquer vestígio do polegar. Além disso, os muriquis
do sul superam as espécies do norte por serem um pouco mais altos e um pouco
mais pesados sendo assim, o muriqui-do-sul é verdadeiramente o maior
primata das Américas.
Muriquis-do-sul são primatas sociais que vivem em grupos familiares que
variam de 5 a 25 indivíduos. Pode medir em torno de 1m60, chegando até 15 quilos. Os muriquis cumprem
importante papel ecológico, pois ajudam a regenerar seu ambiente florestal
distribuindo sementes, através de suas fezes, dos muitos frutos que comem. Os
muriquis podem ser predados pela onça-pintada (Panthera onca), onça-parda (Puma
concolor), os indivíduos mais jovens podem ser predados por irara (Eira
barbara) e grandes gaviões (Leptodon cayanensis).
Perda populacional do muriqui-do-sul foi substancial nos
últimos anos
O muriqui-do-sul, está classificado como Criticamente
em Perigo (CR) aparecendo na Lista
Vermelha da IUCN de espécies ameaçadas. Nos últimos 60 anos (três
gerações), a população total diminuiu 80%. A perda de habitat constituiu o
principal fator de diminuição do número de muriquis-do-sul. A Mata
Atlântica sofreu perdas significativas para a exploração madeireira,
plantações de café, colheita ilegal de palmito, uso agrícola, pecuária, mineração
em zonas de amortecimento de áreas protegidas e expansão urbana. A caça também
tem sido ameaça à espécie. Os macacos são mortos tanto como fonte de alimento
quanto por esporte.
Novas populações de muriquis-do-sul descobertas no Paraná
Embora a Mata Atlântica apresente um alto grau de
desmatamento e sua maior parte está dividida em manchas, ou fragmentos de
floresta isolados, continuam a ocorrer a descoberta de novas populações do muriqui-do-sul.
Em artigo publicado em 2022, na revista Primate
Conservation pesquisadores relatam que em busca feita entre 2019 e 2021 no
Paraná encontraram 6 novas populações da espécie em três municípios que margeiam
a bacia do Rio Ribeira de Iguape, Castro(Morro do Capim e Ribeira, Cerro Azul (Água
Morna, Pinhalzinho e Pinhal Grande) e Campo Largo (Erva). Sendo que todos estavam
em manchas florestais em propriedades privadas. Essas descobertas ampliaram o
limite sul conhecido de distribuição geográfica da espécie.
O relato da descoberta dessas novas populações no Paraná
tem grande importância, pois antes, em todo estado eram conhecidas somente
quatro populações da espécie totalizando cerca de 38 indivíduos. Com as
descobertas o estado passa a contar com dez populações de muriquis-do-sul,
totalizando 62 indivíduos. No
estado do Rio de Janeiro a população estimada é de menos de 400 indivíduos e no
estado de São Paulo existem cerca de 950 exemplares. Portanto a população total
dos muriquis-do-sul é maior que 1412 indivíduos, pois há pequena população
no sul de Minas Gerais que pouco ampliaria esse número. Em todo o Brasil,
apenas dois zoológicos abrigam muriquis-do-sul, em Curitiba e em Sorocaba (SP).
Muriquis-do-sul do Paraná vivem em sua maioria em áreas
privadas
Essas novas populações do muriqui-do-sul foram
encontradas em manchas florestais na região nordeste do Paraná intercaladas por
extensas áreas de silvicultura, mineração, pastoreio e agricultura de
subsistência. Esse cenário de fragmentação florestal também é encontrado em
muitas localidades onde as populações de muriquis são encontradas em outras
partes do Sudeste do Brasil ocorrendo em pequenas populações isoladas o que
dificulta a possibilidade de sua conservação futura. A situação dos pequenos
grupos existentes no Paraná é mais crítica, pois ao contrário das populações
dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, onde a maioria habita áreas
legalmente protegidas, a maioria dos grupos muriqui-do-sul
registrados no estado do Paraná ocupa terras privadas.
A pesquisa que tornou possível encontrar essas novas
populações do muriqui-do-sul no Paraná ocorreu dentro do Projeto de Conservação
dos Monos no Paraná, realizado pelo Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT)
Lactec em parceria com a Copel e a Fundação Grupo Boticário.
No Sul de Minas Gerais uma nova população foi descoberta
do muriqui-do-sul
A Mata Atlântica revelou, recentemente, novas
surpresas em relação ao muriqui-do-sul. No sul de Minas Gerais, no
Distrito de Monte Verde, município de Camundacaia, na Serra da Mantiqueira, em
2021 numa área de floresta nativa mantida pela Companhia Melhoramentos foi
encontrada uma nova população da espécie, em 2022 novamente avistados 6 adultos
e 1 filhote. Em Minas Gerais, os muriquis-do-sul
são encontrados ao longo das encostas sul da Serra da Mantiqueira.
População do mono-carvoeiro em São Paulo vive em áreas
protegidas
Em São Paulo a Serra de Paranapiacaba, abriga a maior
população da espécie, enquanto uma população remanescente vive ao longo dos
deltas dos rios Piracicaba e Tietê, em São Paulo, na Fazenda
Bacury, no município de Anhembi, uma reserva particular. A leste de São
Paulo, entre Minas Gerais e Rio de Janeiro, os muriquis-do-sul residem
na borda sul do rio Paraíba do Sul. Em São Paulo as áreas protegidas onde vivem
os muriquis-do-sul incluem o Parque
Estadual Serra do Mar, o Parque
Estadual Carlos Botelho entre outros parques estaduais da Fundação
Florestal Estadual de São Paulo. Em São Paulo, o Instituto Pró-Muriqui desenvolve atividades de
pesquisa sobre o muriqui-do-sul no Parque Estadual Carlos Botelho. Essa
ONG foi criada em 2000 para garantir a continuidade das atividades de pesquisa
dentro do Parque, onde a pesquisa de campo começou em 1986. Em 2014 o governo
do Estado criou a Comissão
Pro-Primatas Paulistas, comissão permanente responsável por elaborar
políticas de conservação para ações estaduais sobre espécies de primatas
ameaçadas.
No Rio de Janeiro experiência dos guardas florestais com
as comunidades locais diminuíram a caça ao primata
No Rio de Janeiro a Reserva
Ecológica de Guapiaçu (REGUA) abriga a maior população de muriquis-do-sul
do Rio de Janeiro. Outras
populações são encontradas no Parque
Nacional do Itatiaia, no Parque
Nacional da Serra dos Órgãos e no Parque
Nacional da Bocaina. Um trabalho que obteve bons resultados foi realizado
pelos guardas florestais da REGUA na última década. Esses guardas se envolveram
com as comunidades locais através de programas de educação ambiental e
obtiveram como resultado a diminuição acentuada da caça nessas áreas. Esse
programa foi apoiado pela Keepers of
the Wild (um programa do World
Land Trust).
Os muriquis-do-sul vivem em maioria em áreas
protegidas, só que isto não significa que estão seguros. Caçadores furtivos
desrespeitam as leis e continuam a caça-los. O estabelecimento legal de
reservas biológicas por si só não resolve o problema, há necessidade de maior
conexão entre aqueles que trabalham nessas áreas protegidas e a comunidade
local que vive no entorno, para que compartilhem a proteção dessas reservas.
Fontes: H2FOZ,
NetZero,
G1Globo (1), BioExplorer,
New England
Primate Conservancy, G1Globo (2), Lactec,
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Expressão
Foto:Muriqui-do-sul_by Caio Ferreira